O setor energético tem passado por profundas transformações em todo o mundo e caminha para dar cada vez mais protagonismo a fontes renováveis, como a eólica, a solar, a biomassa e o hidrogênio verde. Ainda que o Espírito Santo tenha uma importante participação da indústria de petróleo e gás na sua economia, iniciativas que estimulam a transição energética começam a ganhar força entre o setor público e privado.
No Estado, as perspectivas vão na mesma direção. O secretário de Inovação e Desenvolvimento do Estado, Tyago Hoffmann, anunciou que o governo deverá lançar em breve a parceria público-privada (PPP) das miniusinas de energia solar para atender os prédios públicos.
“Nosso objetivo é tornar o ES o primeiro Estado brasileiro com 100% da sua energia consumida a partir de fontes renováveis. A partir dessa PPP queremos nos transformar no principal modelo para o Brasil.”
A notícia foi dada durante a Oil, Gas and Energy Week, evento promovido pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), em Vitória, nesta semana.
Até meados de 2022, o Espírito Santo vai contar com duas novas importantes fontes de informação sobre energias renováveis. O Governo do Estado prevê lançar, ainda em 2021, o mapa de radiação solar e planeja para o primeiro semestre do ano que vem o atlas eólico.
A subsecretária de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico (Sectides), Rachel Freixo, explicou que o mapa de radiação solar está sendo desenvolvido pela Sectides em parceria com o Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), já o atlas eólico é um trabalho realizado em conjunto pela secretaria em parceria com a Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ) GmbH, empresa controlada pelo governo da Alemanha.
Ela ponderou que no caso do atlas eólico as informações vão ser disponibilizadas em diferentes etapas, já que a coleta completa de dados requer mais tempo, cerca de três anos. A primeira fase do projeto é estimada para ser divulgada no primeiro semestre de 2022.
“Queremos expandir nosso sistema de energias renováveis, atrair investimentos e aproveitar o interesse que existe no mundo por projetos com esse perfil. Além da prospecção ativa que fazemos junto a potenciais investidores, estamos trabalhando para desburocratizar a legislação, principalmente a ambiental, e para estimular o desenvolvimento de pesquisa e inovação na área.”
O gerente executivo de Negócios da Findes e coordenador do Fórum Capixaba de Petróleo, Gás e Energia, Cícero Grams, reforçou a vocação e o potencial que o Espírito Santo tem para produzir energia limpa. Ele citou que um levantamento feito em todo o país pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), companhia pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia, mostrou as áreas com maior potencial para geração de energia eólica.
“O mapeamento identificou que os litorais dos estados do Nordeste, do Rio Grande do Sul, do Norte do Rio de Janeiro e do Sul do Espírito Santo são regiões mais propensas para a geração de energia eólica offshore. Ou seja, estamos entre os principais locais do país para receber investimentos de parques eólicos no mar”, explicou Grams ao comentar que duas empresas – a Equinor e a Votus Winds - já protocolaram projetos no Ibama interessadas em gerar energia a partir dos ventos no litoral Sul capixaba.
Durante seu discurso na Oil, Gas and Energy Week, o secretário de Inovação e Desenvolvimento do Estado, Tyago Hoffmann, citou o Gerar, programa do governo capixaba voltado para o estímulo à geração de energia limpa.
“No programa, temos previstos, entre outros pontos, incentivos fiscais que zeram o ICMS para a produção de até 5 megas na microgeração de energia solar fotovoltaica, além do estímulo à pesquisa e às atividades acadêmicas relacionadas a fontes renováveis.”
A subsecretária da Sectides, Rachel Freixo, ressaltou que a divulgação dos novos mapas somada a iniciativas que vêm sendo adotadas pelo Estado, como com o Programa Gerar, vão contribuir para que o Espírito Santo se torne uma referência na adoção de práticas sustentáveis e diversificação da matriz energética.
O gerente executivo de Negócios da Findes, Cícero Grams, disse que a energia solar também tem grande potencial e que os incentivos que vêm sendo dados no Estado aos autoprodutores domésticos, como a isenção de ICMS, vão acelerar a adoção dessa fonte de energia.
“Esse movimento que está acontecendo é muito positivo, afinal, estamos no caminho para a diversificação da matriz energética, fortalecendo o uso de fontes renováveis, e ainda vamos nos tornar mais independentes na nossa capacidade de geração. Hoje, a energia consumida aqui vem principalmente de outros estados.”
Na abertura da Oil, Gas and Energy Week, a presidente da Findes, Cris Samorini, frisou que falar sobre o segmento energético e sobre a adoção de fontes renováveis é falar sobre oportunidades para o setor produtivo e para toda a sociedade.
Ela lembrou, inclusive, que essa visão está muito alinhada à agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), que traz diretrizes essenciais para o desenvolvimento e o crescimento sustentável.
“Este é um tema que praticamente será obrigatório na pauta das organizações e dos governos que desejam estar conectados com as melhores práticas mundiais. E, aqui no Estado, esse movimento já começou a ser adotado por grandes empresas. Mas o que devemos entender é que a energia renovável não deve ser só uma bandeira, mas um tema que requer ações pragmáticas”, defendeu Cris.
O governador Renato Casagrande, que também esteve presente no evento, reforçou o coro sobre a importância da discussão da matriz energética e das iniciativas que precisam ser adotadas para reduzir os efeitos climáticos.
Ele, que acabou de voltar da Escócia, onde participou da 26ª Conferência do Clima (COP-26), lembrou que o Espírito Santo vai construir um plano para reduzir as emissões de carbono até 2050.
“O petróleo para nós é muito importante, o gás é uma transição que temos, mas é preciso focar em energia renovável. Temos que saber fazer a migração. Nós assumimos o compromisso para chegar à neutralidade de carbono em 2050 e, desde já, vamos estruturar esse plano. Este é um debate fundamental para nós, e não é um debate apenas ambiental, mas também econômico.”
No primeiro dia de programação (09), a Oil, Gas and Energy Week contou com a participação de importantes nomes do setor energético capixaba e nacional.
Nos painéis foram debatidos temas como a agenda ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança), a diversificação da matriz energética, o cenário de petróleo e gás do ES e os projetos da Equinor para o Estado e para o Brasil.
Na quarta-feira (10), foram realizados painéis e debates sobre mercado de gás, oportunidades de descomissionamento de plataformas e projetos da Petrobras para o Espírito Santo.
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