A organização criminosa sediada no Espírito Santo suspeita de operar um esquema de lavagem de dinheiro pode ter prestado esse serviço para empresas investigadas pela força-tarefa Lava Jato. É o que aponta inquérito da Polícia Civil, que levou à deflagração nesta terça-feira (15) da Operação Piànjú.
Três pessoas foram presas no Estado, sendo dois empresários capixabas suspeitos de chefiar o esquema. Também foram apreendidos carros de luxo, lanchas e motos aquáticas, além de US$ 600 mil em dinheiro e R$ 300 mil em canetas de grife.
Segundo a decisão judicial que autorizou a prisão preventiva de 18 pessoas e de prisão temporária de outras cinco, Pablo David Eliseo Sandes e Wilson Marcelino Caoduro são suspeitos de gerenciar uma rede de empresas físicas e de fachada por onde o dinheiro era movimentado repetidamente, inclusive para contas no exterior. Dessa forma, o recurso obtido através de atividades ilícitas voltava limpo para o mercado. Eles são apontados, pelas autoridades, como os cabeças das fraudes no Espírito Santo.
"Pedimos a quebra de sigilo bancário dessas empresas, e descobrimos que empresas de São Paulo, envolvidas na Lava Jato, enviavam dinheiro para o Espírito Santo. E essa organização criminosa daqui era usada por outros Estados da federação para mandar dinheiro para fora do país", explicou o delegado à frente da operação, João Paulo Pinto. Algumas dessas ligações são citadas na decisão que acata os pedidos de prisão dos suspeitos.
Segundo os autos, um dos indícios está no envio de recursos de Pablo para a empresa Cominter Brasil Importação e Exportação, de propriedade de Abel Novaes. Este último é citado como operador financeiro da doleira Nelma Mitsue, presa em 2014 no âmbito da operação Lava Jato.
Nelma foi pega pela Polícia Federal em 2014 com 200 mil euros escondidos nas roupas ao tentar viajar para a Europa.
Outro investigado, também morador do Espírito Santo, mas que não foi preso nesta terça-feira (15), é suspeito de ser sócio de uma empresa que movimentou mais de R$ 84 milhões em dois anos.
Além de créditos a outras companhias investigadas, a quebra de sigilo bancário mostrou que ele também fez pagamentos a Pablo Sandes e à empresa Repox Ambiental, sediada em Santos, São Paulo, investigada no âmbito da operação Descarte - desdobramento de investigações da força tarefa da Lava Jato que investigou um esquema lavagem de dinheiro e desvios de recursos pagos por prefeituras municipais pela limpeza urbana.
Essa mesma empresa ainda estaria envolvida em lavagem de dinheiro envolvendo o Banco Paulista, investigado na 61ª fase da operação Lava Jato, denominada Disfarce de Mamom.
O advogado Rogério Feitosa, que defende Pablo Sandes, afirmou que a defesa ainda não tem posicionamento a respeito das supostas ligações do cliente com empresas e pessoas denunciadas na Lava Jato. "A culpa não está formada ainda. O Ministério Público não apontou qual a conduta que meu cliente infringiu, qual crime ele cometeu. O inquérito tem mais de duas mil paginas, dependo que o MP diga qual acusação pesa sobre ele para fazer a defesa", disse.
O advogado Ricardo Firme, que defende o empresário Wilson Caoduro, disse que é cedo para se pronunciar, porque é um inquérito grande, cheio de detalhes e ele ainda está se inteirando da denúncia.
A Gazeta entrou em contato com Nelma Mitsue, através do telefone de dois advogados que a representam em muitos processos, contudo, ninguém atendeu as ligações. Também foi feito contato com a defesa da empresa Repox Ambiental, que ficou de retornar a ligação, mas até a noite desta quarta-feira (16) não o fez.
O Banco Paulista S.A. afirmou em nota que "não é parte e desconhece o processo em questão e, portanto, não tem comentários a fazer a seu respeito".
A reportagem não localizou Abel Morais ou sua defesa. A Gazeta também tentou contatar a empresa Cominter Brasil Importação e Exportação, mas ninguém atendeu os telefonemas.
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