Uma das empresas americanas suspeitas de receber dinheiro através de uma organização criminosa sediada no Espírito Santo é investigada nos Estados Unidos por ter ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e com o Hezbollah, movimento xiita libanês considerado terrorista por algumas nações.
Segundo informações apuradas por A Gazeta, a informação foi compartilhada com as autoridades capixabas por órgãos de inteligência americanos.
A troca de informações foi feita no âmbito da investigação que apura a suposta formação de uma organização especializada em prestar serviços de lavagem de dinheiro para outros grupos criminosos. Segundo as investigações, o núcleo financeiro dessa operação seria formado por empresários do Espírito Santo.
De acordo com a Polícia Civil do Estado, um grupo de empresários é suspeito de organizar uma rede de empresas de fachada, criadas com o uso de documentos de identidade falsos. Essa rede seria utilizada para lavar dinheiro de origem ilegal através do envio de remessas internacionais para os Estados Unidos e a China.
No total, duas empresas americanas foram identificadas durante a investigação como destinatárias dos repasses feitos pelas empresas de fachada do Espírito Santo.
O proprietário de uma delas foi preso na última terça-feira (15), em São Paulo, na Operação Piànjú, deflagrada pela Polícia Civil e pelo Ministério Público Estadual (MPES). Também houve prisões no Espírito Santo e no Ceará. O nome da operação faz referência à palavra em mandarim, que tem o significado de fraude ou armadilha.
Já o homem identificado como dono da outra empresa está em Miami, na Flórida e não foi preso. As autoridades capixabas estão em contato com a Interpol, a Polícia Internacional, para que o nome dele seja incluído na lista de procurados pela instituição.
Outras investigações no Brasil já apontaram a suposta ligação do PCC com os Estados Unidos.
Em 2015, a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo apontaram que o grupo mantinha ao menos uma conta corrente na China e outra nos Estados Unidos para lavar dinheiro do tráfico e fazer compras internacionais de drogas e armas. Na ocasião, eles observaram movimentações financeiras que chegavam a R$ 100 milhões.
Já em 2017, um relatório da Foundation for Defense of Democracies (FDD), ONG americana com foco em segurança e política externa, mostrou com detalhes a aliança do PCC com o Hezbollah. Um desses pontos de encontro entre as duas organizações seria justamente nas rotas de lavagem de dinheiro.
De acordo com os responsáveis pelas investigações, empresas de fora do Estado contratavam o grupo capixaba para "limpar" o dinheiro sujo. Uma vez que o recurso era obtido de forma ilegal pelos contratantes, a cifra passava por uma rede de empresas de fachada no Espirito Santo. Daí era enviado ao exterior sob a forma de contratos de prestação de serviço que nunca eram executados.
Eram simuladas operações comerciais de carga para China e Estados Unidos, de importação e exportação, além de serviços como aluguel de contêiner e desembaraço aduaneiro, segundo a Polícia Civil.
Dessa forma, eles davam ares de legalidade para o dinheiro obtido ilegalmente pelos clientes, de acordo com os investigadores, seja através de corrupção, tráfico de drogas ou outros crimes.
Para driblar ainda mais qualquer desconfiança por parte dos órgãos de controle, todos os impostos e taxas referentes aos contratos eram recolhidos corretamente. Ao todo foram movimentados mais de R$ 800 milhões.
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