As empresas capixabas Imetame Energia e Energy Platform (EnP), que nesta sexta-feira (4) arremataram sete blocos de exploração de petróleo onshore (em terra) no Norte do Espírito Santo, devem iniciar as atividades de exploração nas áreas em 2022. O consórcio formado pelas duas companhias se comprometeu a investir pelo menos R$ 5,8 milhões na região nos próximos anos.
O prazo de mais de um ano para o início das atividades se deve aos trâmites burocráticos. As empresas têm até 4 de janeiro para entregar os documentos de qualificação. Demais processos, incluindo o pagamento dos bônus de assinatura e a formalização do contrato, deverão ser concluídos até 24 de maio de 2021. Já a oficialização da concessão ocorrerá até 30 de junho.
Só após isso as empresas devem começar os estudos exploratórios, o que deve levar pouco mais de um ano até a perfuração dos primeiros poços. Imetame e EnP arremataram os blocos ES-T-305 e ES-T-409, nosetor SES-T4; e ES-T-429, ES-T-466, ES-T-486A, ES-T-517 e ES-T-526, no setorSES-T6. Pelas setes concessões, o consórcio pagará ao governo o equivalente a R$ 152,2 mil.
O presidente da EnP, Márcio Felix, comenta que a meta das empresas para este ano era adquirir as melhores áreas para exploração no Estado. Ele aponta que as empresas buscaram blocos em terra e escolheram os que considerou que teriam mais potencial.
Blocos exploratórios são áreas com potencial para descoberta de acumulação de óleo e gás. Na fase exploração, são realizados investimentos de prospecção para descobrir óleo e identificar se é viável ou não sua produção comercialmente.
Segundo Félix, as empresas fizeram estudos, sozinhas e com consultoria externa, e depois se reuniram para determinar quais tinham a maior chance de ter descoberta. Ele ainda afirmou: "Há uma grande possibilidade de fazer novas descobertas".
Segundo Felix, a Imetame já possui alguns profissionais para atuarem na primeira fase do empreendimento. Ainda de acordo com ele, mais profissionais devem ser contratados a medida que o projeto evolua.
O CEO da DFV Consultoria, Durval Vieira de Freitas, lembra que a chegada dessas operadoras vai trazer crescimento econômico para a região, com demanda de produtos e serviços para toda a cadeia de empresas fornecedoras, o que se traduz em mais geração de empregos.
Nesta primeira fase de exploração de um bloco, segundo especialistas, são necessários profissionais qualificados como geólogos, engenheiros e profissionais da área sísmica.
Já para a fase de produção, segundo Durval, serão necessários técnicos e engenheiros. Além disso, haveria o crescimento da demanda para toda a cadeia de fornecedores, sobretudo para empresas de alimentos, logística, ferramentas e manutenção.
Três setores em oferta no leilão estão localizados na Bacia do Espírito Santo. Foram arrematados blocos em terra nos setores SES-T6 e SES-T4, que incluem áreas nos municípios de Linhares, São Mateus, Jaguaré e Conceição da Barra. Já o setor SES-AP2, que contempla blocos no mar (offshore), no litoral da Grande Vitória, não recebeu nenhum lance. Mas a área poderá ser leiloada novamente.
Para a reportagem de A Gazeta, uma fonte ligada ao setor que preferiu não se identificar ponderou que, normalmente, o bônus de assinatura de áreas offshore é maior que o das onshore, além de serem projetos mais complexos e que demandam investimentos mais volumosos, o que pesa na decisão das companhias, ainda mais diante da grave crise enfrentada pelo setor.
"As empresas, talvez, não quiseram correr esse risco. Este ano de 2020 vem sendo um ano difícil para o setor petroleiro, a demanda foi reduzida e o preço também foi caiu. Se fosse em outro momento esse bloco no mar teria a possibilidade de ser arrematado já nesta rodada", comenta.
De acordo com Durval Vieira, para a ANP conseguir conceder esses blocos marítimos será preciso realizar mais estudos, como pesquisas sísmicas, já que os dados apresentados podem não ter sido suficientes para os compradores analisarem se vale ou não a pena investir no projeto.
Segundo o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, as razões do desinteresse dos blocos serão analisadas. O modelo adotado, de oferta permanente, permite que as empresas possam negociar de forma contínua blocos exploratórios e campos de produção. Com isso, caso o bloco capixaba desperte interesse futuramente, ele voltaria a ser leiloado.
Durval lembra ainda que mesmo que o bônus de assinatura tenha sido baixo, é preciso um alto valor de investimento para fazer a exploração. Além disso, a produção pode não ser viável. "Dependendo do quanto de óleo tiver não compensa investir. Um campo de petróleo não é igual a um poço d'água, que tem o manancial para ir sempre abastecendo-o. O petróleo se esgota com o tempo".
Esse foi o segundo leilão sob o modelo de oferta permanente no país e o único do setor de petróleo e gás realizado após a pandemia do coronavírus. A Petrobras não participou do certame e, no geral, a concorrência foi baixa. O governo federal concedeu à iniciativa privada um total de 14 setores, divididos em 18 áreas, para exploração e produção de petróleo e gás no país.
No leilão, apenas a Shell investiu em blocos marítimos. O restante das empresas optou levar áreas em terra. A Shell também foi a única grande petroleira a apresentar proposta. Ela levou, pagando um bônus de R$ 12 milhões e sem concorrência, um bloco em águas ultraprofundas na Bacia de Campos, com potencial para descobertas no pré-sal.
Ao todo, seis setores foram arrematados, arrecadando R$ 56,7 milhões. As sete empresas que arremataram os blocos investirão um total de R$ 160,6 milhões.
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