Os efeitos do novo coronavírus na economia capixaba chegaram antes mesmo da doença ao Espírito Santo. Enquanto o primeiro caso confirmado ocorreu no dia 26 de fevereiro e o comércio começou a ser fechado em 18 de março, a produção industrial e o comércio exterior já amargavam números negativos. Foi isso provocou a queda do Produto Interno Bruno (PIB) do Estado em 1,2% no primeiro trimestre na comparação com o último de 2019.
De acordo com dados do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), divulgados nesta quarta-freira (17), no primeiro trimestre de 2020, comparado ao mesmo período de 2019, a indústria geral caiu 13,4% e as exportações tiveram redução de 12,5%. Esses indicadores levaram à retração de 1,7% da economia capixaba na comparação com o mesmo trimestre de 2019.
O Espírito Santo tem forte ligação com o comércio exterior. A exportação e a importação de mercadorias é muito forte no Estado, o que faz com que ele seja mais suscetível às variações do mercado externo. A China é um dos principais mercados dos produtos capixabas, além de ser o maior consumidor mundial de commodities. Mas com o pico da doença por lá, a economia do país parou no primeiro trimestre.
Com o país asiático desacelerando, as empresas deixaram de importar minério e celulose do Espírito Santo. Já no caso do petróleo, além do efeito coronavírus, ainda teve a "guerra dos preços" que chegou a fazer o preço do barril despencar ao negativo. Sem demanda, as indústrias capixabas precisaram reduzir a sua produção.
Segundo o Coordenador de Estudos Econômicos do Instituto Jones, Antônio Ricardo Freislebem da Rocha, o Estado tem uma carteira de clientes globalizada e o resultado do PIB no primeiro trimestre de 2020 reflete sim o resultado da pandemia no mundo todo.
"No caso do minério, além do efeito Brumadinho (MG), ainda temos a diminuição da produção das minas de Minas Gerais. Com isso, a Vale está trazendo matéria prima de navio do Pará, o que é mais caro e demorado. E com a redução da demanda do mercado internacional, ela realizou a parada programada das usinas 3 e 7 de Tubarão", comenta.
No primeiro trimestre deste ano - comparado ao mesmo período de 2019, o mal desempenho do PIB teve como principal componente a performance da indústria extrativa [minério, rochas e petróleo], que teve retração de 25,5%. Além dela, fabricação de celulose e produtos de papel (-32,2%), metalurgia (-5,3%) e fabricação de produtos minerais não metálicos (-3,3%) também tiveram mal desempenho.
O Espírito Santo também registrou, nos três primeiros meses do ano, queda no comércio exterior (-19,31% ante ao trimestre imediatamente anterior). As importações apresentaram redução de 25,79% e as exportações caíram 12,47%, no mesmo período.
A evolução do coronavírus para outros países, além da China, representa um prejuízo ainda maior para o Espírito Santo. Segundo dados do Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Estado do Espírito Santo (Sindiex), em 2019, o Estado exportou US$ 8,8 bilhões em produtos e mercadorias. Desse valor, vendeu US$ 1,05 bilhão apenas para países asiáticos (China, Japão, Coreia do Sul, Taiwan, Filipinas e Hong Kong).
A ordem é sempre a mesma para os países atingidos pela Covid-19. As medidas de isolamento social para conter o avanço da doença e não fazer o sistema de saúde colapsar faz com que as pessoas parem de trabalhar. Sem que elas trabalhem, não há produção e a oferta de produtos diminui.
Sem sair de casa, o consumo reduz e as empresas não conseguem monetizar sua produção. Com o passar do tempo, a receita das empresas cai, mas as despesas aluguel, salário dos funcionários, empréstimos bancários e outras dívidas devem continuar sendo pagas.
O resultado do PIB do Espírito Santo no primeiro trimestre de 2020 só não foi pior porque o comércio varejista ampliado teve bom desempenho, crescendo 4,4%, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Porém esse alívio deve ser revertido.
De acordo com Antônio Ricardo Freislebem da Rocha, o índice negativo eleva a preocupação para os próximos meses, uma vez que os resultados para o segundo trimestre tendem a ser ainda piores.
O primeiro decreto para o fechamento do comércio do Estado ocorreu no dia 18 de março incluindo shoppings e academias. Depois, no dia 20 do mesmo mês, foi proibida a abertura das lojas de rua. O comércio de rua só voltou a abrir, de modo alternado, no dia 11 de maio. Já shoppings e academias apenas em 1º de junho.
O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Espírito Santo (Fecomércio-ES), José Lino Sepulcri, lembra ainda que apenas no mês de abril, primeiro mês completo após as restrições, os serviços prestados as famílias tiveram queda de 58% na comparação com o ano passado. Já o volume de vendas do comércio varejista restrito do Espírito Santo recuou -17,9%.
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