A empresa responsável pela produção das torres de água de mais de 15 metros de altura que desabaram em condomínio do Minha Casa Minha Vida, em Cariacica, em 30 de dezembro, afirmou que essa foi a primeira ocorrência do tipo envolvendo estruturas feitas pela empresa em quase 16 anos.
Fundada em 2005, a Metalúrgica Camar, instalada com o nome fantasia Carmaço Reservatórios, em Cedral, na zona rural do Estado de São Paulo, é uma empresa do segmento metalúrgico que fabrica caixas-d'água metálicas, bebedouros, reservatórios, tanques-pipa, entre outros. Segundo o site da empresa, a Carmaço vende os produtos para a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e a construtora MRV.
Na página, há fotos de torres-d'água parecidas com aquelas que caíram em Cariacica, em outros condomínios nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Segundo informações do Quadro de Sócios e Administradores (QSA), da Receita Federal, Carlos Tenório Martins é registrado como único sócio.
A reportagem procurou a empresa desde a quinta-feira (7), quando o fotógrafo Fernando Madeira, de A Gazeta, flagrou o nome da companhia no fundo das estruturas removidas do Residencial São Roque no início desta semana. Foi solicitada entrevista com algum proprietário ou responsável técnico da Carmaço. Contudo, a empresa se manifestou apenas por meio de nota nesta sexta-feira (8).
A Carmaço confirmou ser a fabricante dos reservatórios e afirmou que “há 16 anos no mercado, tendo fabricado mais de 5.500 produtos dentro das normas e padrões vigentes, nunca caiu nenhum reservatório fabricado pela empresa”. Entretanto, não deu mais detalhes sobre a estrutura.
Esclareceu, porém, que, embora seja a fabricante dos reservatórios, não fez a montagem da parte hidráulica e, portanto, não é de sua responsabilidade. Ainda assim, a empresa contratou um engenheiro perito para apurar as causas do acidente, que descreveu como lamentável.
“Tão logo nos seja enviado o resultado da perícia, tornaremos de conhecimento público as causas que levaram ao tombamento.”
A Caixa Econômica Federal esclareceu que a Cobra Engenharia é a responsável pela obra do Residencial São Roque e por quaisquer possíveis subcontratações realizadas durante sua execução.
O banco informou ainda que, na condição de representante do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR), acompanha a realização das perícias técnicas para identificar as causas do problema e apurar as responsabilidades. Os trabalhos ainda estão em andamento.
Representantes da Caixa reuniram-se com o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio, na tarde de quinta-feira (7), a fim de prestar informações sobre a recuperação do empreendimento. A prioridade, enquanto as investigações não são concluídas, seria permitir que a vida dos moradores volte à normalidade.
Segundo informações da Cobra Engenharia, a obra de reparo nos apartamentos foi iniciada ainda na quinta-feira (7), assim como as obras para o restabelecimento de água nos apartamentos.
Ainda segundo a construtora responsável pela obra do Residencial São Roque I e II, o resultado das perícias deve ficar pronto em até 60 dias.
A empresa esclareceu ainda que foi a responsável pela instalação hidráulica, mas que o projeto estrutural, fabricação e montagem das estruturas foram realizados pela empresa de São Paulo. A Cobra chegou a ser demandada, na data do acidente, sobre os materiais utilizados nas estruturas, mas não forneceu detalhes.
Questionada sobre a eventual responsabilização das empresas no acidente, que matou um trabalhador, a Polícia Civil informou que o caso está sob investigação da Delegacia Especializada de Acidente de Trabalho (Deat). Testemunhas ainda estão sendo ouvidas sobre o assunto.
“A Polícia aguarda o resultado do laudo de engenharia da PCES. Somente ao final das investigações será determinado se os responsáveis pelo empreendimento respondem ou não por algum tipo de crime.”
O empreendimento do Minha Casa Minha Vida voltado para famílias de baixa renda foi inaugurado no dia 14 de dezembro. Pouco mais de duas semanas depois da entrega aos moradores, as duas torres de água desabaram; uma delas caiu em cima do quinto andar de um dos prédios. A outra estrutura, do outro lado do residencial, desabou 20 minutos depois, bateu na parede de um dos blocos e foi ao chão.
O dono de uma empresa terceirizada que trabalhava em um dos reservatórios no momento da queda ficou gravemente ferido e foi levado para o hospital, mas não resistiu e morreu. A morte de Jucelino Roncon está sendo investigada pela Polícia Civil.
A Caixa Econômica Federal, a Defesa Civil e a própria construtora fizeram perícias no local, mas as causas do desabamento ainda não foram apuradas. A previsão é de que o laudo da perícia feita pela construtora fique pronto em até dois meses.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta