Pedras de granito e sacas de café e pimenta do reino estão paradas nos estoques de empresas exportadoras do Espírito Santo. Isso porque esses segmentos são os mais afetados por um problema logístico que vem se intensificando em proporção global: a falta de contêineres para transporte de insumos e mercadorias.
De acordo com o Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas), o setor de rochas capixaba vai deixar de exportar cerca de US$ 100 milhões em mercadorias entre junho e dezembro deste ano.
A projeção para o setor cafeeiro é a mesma, com cerca de US$ 100 milhões em prejuízo, segundo explicou Márcio Cândido Ferreira, presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV) em entrevista à TV Gazeta. No caso dos produtos agrícolas como o café, há o risco de países compradores cancelarem os contratos e deixarem de adquirir a produção capixaba.
Somente com esses dois setores, portanto, as exportações capixabas podem sofrer um baque superior a R$ 1 bilhão, considerando a atual cotação do dólar, na casa de R$ 5,51.
Segundo o Centrorochas, a falta de contêineres é um reflexo da pandemia do coronavírus, já que a movimentação de navios e mercadorias ficou limitada em vários países. Agora, com a reabertura do comércio, o esforço de readequação foi atropelado pelo crescimento da demanda de exportação.
O Espírito Santo é o maior exportador nacional de rochas ornamentais, responsável por mais de 80% das exportações brasileiras. O setor fechou em 2021 o melhor primeiro semestre em exportações dos últimos cinco anos, com uma arrecadação de US$ 572 milhões. O melhor resultado tinha sido em 2017, com o valor total de US$ 566 milhões. Já para o segundo semestre a expectativa não é boa em função do apagão de contêineres.
Os maiores compradores de rochas do Estado são os Estados Unidos, a China e a Itália. No entanto, de acordo com Rogério Gonçalves, que é gerente comercial de uma indústria de mármore e granito de Cachoeiro de Itapemirim, alguns países já estão desistindo de comprar a mercadoria capixaba.
“As vendas cresceram cerca de 35%, mas poderia ter sido bem mais. Só no mês de julho cinco clientes já cancelaram os contratos”, relatou o gerente.
Com poucos contêineres para exportar a produção, as pedras de granito precisam continuar armazenadas nas empresas, ocupando espaço e impedindo que novos produtos sejam comprados, explica Adriano Duarte, diretor administrativo de uma empresa de exportação de rochas em Aracruz.
“Quando o material não consegue sair da empresa, a gente, além de não receber, também tem uma perda nesse processo de compra e recompra. Então, além do efeito imediato, temos um prejuízo a médio prazo, por causa do armazenamento”.
O mesmo problema afeta os exportadores de produtos agrícolas. Márcio Cândido Ferreira, do CCCV, estima que o prejuízo para os exportadores de café neste ano, na casa de US$ 100 milhões deve se concretizar em função da dificuldade em atender as demandas dos clientes globais.
"Quando você não tem como fornecer o produto, o cliente lá fora que precisa da mercadoria vai buscar em outra origem, prejudicando o Brasil e o Espírito Santo", disse Márcio.
Segundo o empresário Josemar Moro, a empresa dele exportou cerca de mil contêineres de café e pimenta do reino no ano passado. Neste ano, a quantidade caiu pela metade. E não é pela falta de demanda, mas, de acordo com ele, pela dificuldade de levar o produto para fora do país.
“No Porto de Vitória nós tivemos dificuldade de retirar contêineres vazios, e depois de depositar os contêineres no porto, por falta de espaço. E isso foi atrasando os embarques”, relatou o empresário.
Dezenas de sacas dos produtos estão paradas no estoque da empresa de exportação de Josemar, localizada em Linhares. A falta de espaço para armazenar os produtos que não estão sendo exportados, pode impactar também nos produtores.
“O armazém está cheio, nós estamos sem espaço. E isso gera um reflexo para o produtor. Porque se eu não tenho onde pôr a mercadoria, eu não posso comprar. Então é preciso segurar as comprar até escoar o que temos aqui”, explica o empresário.
Seja para o setor agrícola ou de rochas, ainda não há uma expectativa de quando a “crise dos contêineres" deve chegar ao fim. O Sindicato da Indústria de Rochas Ornamentais do Espírito Santo diz que está buscando alternativas para ajudar os empresários, mas por enquanto não há previsão para que as exportações voltem ao normal.
* Com informações da TV Gazeta Norte
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