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Entenda se há risco de contrair Covid-19 ao consumir frango, boi ou porco

Entenda se há risco de contrair Covid-19 ao consumir frango, boi ou porco

China encontrou coronavírus em asa de frango de uma indústria exportadora brasileira, trazendo preocupação aos consumidores. Veja o que dizem especialistas

Publicado em 13 de agosto de 2020 às 20:24

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Avicultura, criação de frangos em galpão
Avicultura: alguns cuidados são necessários para evitar a contaminação em frigoríficos. (Divulgação/Aves e Ases)

A notícia de que o município de Shenzhen, na província de Guangdong, na China, encontrou traços do coronavírus em asas de frango congeladas exportadas por uma indústria brasileira de Santa Catarina trouxe preocupação para os consumidores. Mas, de acordo com especialistas e autoridades sanitárias, ainda não há evidências científicas de que animais estejam contaminados com a Covid-19 e não há motivos para alarde

O secretário administrativo das associações de Avicultores e Suinocultores do Espírito Santo (Aves e Ases), Nélio Hand, explica que o ambiente de uma indústria de alimentos, dentro das legislações estabelecidas pelos sistemas de inspeção, é extremamente limpo e com várias rotinas de higienização.

"Desde o transporte do trabalhador até a saída dele da fábrica, o profissional passa por processos de limpeza e desinfecção. Isso assegura que o trabalhador, no momento que vai entrar no estabelecimento, esteja saudável e garante a integridade dele. Consequentemente, também vai assegurar que o produto esteja seguro", afirma Hand.

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As chances de acontecer algum tipo de contaminação até a expedição do produto é praticamente zero. Isso porque você tem um conjunto de medidas que são adotadas para evitar contaminação e, em um momento de pandemia, elas foram reforçadas. A contaminação pode ter ocorrido durante o transporte ou até mesmo na China

Nélio Hand
secretário administrativo da Aves e Ases
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Desde o início da pandemia da Covid-19, amostras de comida congelada já tiveram o resultado positivo para o vírus. No início do mês passado, testes em massa revelaram um surto de infecções pelo vírus em fábricas operadas pelas processadoras de alimentos JBS e BRF, localizadas no Centro-Oeste do país. 

Porém, diferentemente do caso de Santa Catarina, da marca Aurora, o material contaminado foi recolhido da superfície das embalagens. De acordo com a empresa, o produto levou 40 dias para chegar à China. Para especialistas, é muito improvável que o vírus consiga sobreviver 40 dias, mesmo estando congelado.

"Por isso, é muito pouco provável que o produto tenha sido contaminado no Brasil. O mais provável é que a contaminação tenha ocorrido no final, já na China, depois de ser manipulado por alguém contaminado", afirmou o infectologista Marcelo Otsuba, ao portal G1.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o vírus foi achado em poucas embalagens e não é motivo de alarme. Já o Ministério da Agricultura brasileiro (Mapa) explica que, até o momento, não recebeu nenhuma notificação oficial por parte das autoridades chinesas sobre a ocorrência.

"O MAPA reitera a inocuidade dos produtos produzidos nos estabelecimentos sob SIF (Sistema de Inspeção Federal), visto que obedecem protocolos rígidos para garantir a saúde pública", afirmou em nota divulgada na tarde desta quinta-feira (13).

De acordo com os especialistas, o consumo de alimentos só representa risco caso ocorra a chamada contaminação cruzada, quando o produto serve como veículo para o vírus chegar até um hospedeiro. O que seria contido caso a embalagem seja higienizada com água e sabão ou álcool 70%, ao chegar em casa, por exemplo.

O médico infectologista Lauro Ferreira Pinto aponta que a preocupação principal deve ser com o vírus que está nas pessoas, mas isso não descarta os demais cuidados que têm que ser tomados com a alimentação. "É sempre recomendado lavar os alimentos que consumimos e as mãos antes e depois de sua manipulação. Esse tipo de cuidado já tinha que existir desde antes da pandemia, mas agora vem aumentando", aponta.

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A princípio, tudo o que consumimos com o Selo de Inspeção Federal (SIF) [ou outros similares como SIE, SIM, Sisb/POA, Susaf e Arte] atesta a qualidade do produto e que não tenha riscos para a saúde

Lauro Ferreira Pinto
médico-infectologista
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TIRA-DÚVIDAS

É possível se infectar ao ingerir (comer) um alimento contaminado pelo coronavírus?

Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), não há nenhuma evidência a esse respeito. A Autoridade Europeia de Segurança dos Alimentos (European Food Safety Authority – EFSA), quando avaliou esse risco em outras epidemias causadas por vírus da mesma família (Coronaviridae), concluiu que não houve transmissão por alimentos.

De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), não há comprovação científica de transmissão do vírus da Covid-19 a partir de alimentos ou embalagens de alimentos congelados.

De acordo com o infectologista e chefe do setor de segurança e saúde do paciente do Hospital Universitário de Juiz de Fora, Rodrigo Daniel de Souza, em entrevista ao jornal O Globo, o vírus sobrevive em superfícies por horas ou poucos dias. No caso do papelão, uma das embalagens mais usadas para o transporte, são 48 horas. 

O especialista ainda lembra que mesmo que o vírus sobreviva em superfícies por esse tempo, ele precisa de um hospedeiro, seja animal ou humano, para se multiplicar. "Podem ser detectadas pequenas quantidades que não são suficientes para infectar o ser humano". 

Todas pessoas que tiveram contato com o lote de frango brasileiro contaminado foram testadas na China e tiveram resultado negativo.

A contaminação ocorre no manuseio da carne ou o animal pode estar infectado? 

A Anvisa aponta que a dinâmica dessa pandemia mostra que a transmissão tem ocorrido de pessoa a pessoa, pelo contato próximo com um indivíduo infectado ou por contágio indireto, ou seja, por meio de superfícies e objetos contaminados, principalmente pela tosse e espirro de pessoas infectadas. Ainda de acordo com o órgão, não há registros de contaminação por consumo de alimentos contaminados.

Segundo o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto , como a transmissão ocorre basicamente por meio da aspiração, do sistema respiratório, a pessoa teria que cheirar a carne ou consumi-la crua. "O mais provável é que a contaminação tenha ocorrido por meio de alguma falha nos procedimentos sanitários da fábrica e o vírus tenha passado de um trabalhador contaminado para a embalagem ou a carne", explica.

De acordo com o gerente de Produtos da área FAST da Boehringer Ingelheim Saúde Animal, Filipe Fernando, os coronavírus que afetam seres humanos pertencem ao gênero Betacoronavirus, que são responsáveis pelo surgimento da atual Covid-19 e das conhecidas SARS, que surgiu na China em 2002, e MERS, surgida na Arábia Saudita em 2012.  Contudo, aves e suínos são afetados por outros tipos de coronavírus, que podem variar dentro dos gêneros Alphacoronavirus e Gammacoronavirus. Já em bovinos, não há registro da doença.

Quais têm sido os procedimentos nos frigoríficos para evitar a contaminação?

Os frigoríficos precisam seguir uma série de orientações do Mapa. Entre elas estão:

Componente de Arquivos & Anexos Arquivos & Anexos

Covid-19: Manual de orientações gerais para frigoríficos

Tamanho de arquivo: 961kb

Como saber se o produto que estou comprando é seguro?

Indústrias com produção de origem animal precisam serem certificadas para poderem vender seus produtos. Isso ocorre para evitar contaminações e padronizar a segurança alimentar. Para conseguir essas certificações, a indústria precisa passar por uma série de testes e pré-requisitos. Atualmente, existem seis certificados que variam do nível municipal ao federal:

  1. SIM (Serviço de Inspeção Municipal) - permite comercializado no município em que é produzido;
  2. SIE (Serviço de Inspeção Estadual) - permite comercializado no Estado em que é produzido;
  3. SIF (Serviço de Inspeção Federal) - permite comercializado em todo o país;
  4. Sisb/POA (Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal) - equivalente ao SIF;
  5. Susaf (Sistema Unificado Estadual de Sanidade Agroindustrial Familiar de Pequeno Porte) - equivalente ao SIE;
  6. Arte - permite a comercialização em todo o país.

Quais cuidados tomar com os alimentos, principalmente carne, neste período? 

O médico infectologista Lauro Ferreira Pinto explica que é preciso lavar as mãos com água e sabão, antes e depois do manuseio dos alimentos. Há alguns cuidados específicos também, de acordo com o tipo de alimento:  

O cozimento é suficiente para matar o coronavírus, fungos e bactérias?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o comportamento do novo coronavírus deve ser semelhante aos outros tipos da mesma família. Assim sendo, ele precisa de um hospedeiro para se multiplicar. Além disso, esse grupo de vírus é sensível às temperaturas normalmente utilizadas para cozimento dos alimentos (em torno de 70ºC).

Segundo a Anvisa, o fato é que o vírus pode persistir por poucas horas ou vários dias, a depender da superfície, da temperatura e da umidade do ambiente, mas é eliminado pela higienização ou desinfecção. Assim sendo, uma das estratégias mais importantes para evitar a exposição é redobrar os cuidados com a higiene. Os cuidados básicos na manipulação de alimentos previnem, aliás, uma série de outras doenças.

O vírus sobrevive ao congelamento e à refrigeração?

De acordo com especialistas, o coronavírus pode permanecer viável congelado a -20°C, provavelmente por tempo prolongado. Em entrevista ao portal G1, a microbiologista Natália Pasternak explica que se for a -4°C, temperatura de geladeira, deve ser só alguns dias. "E precisa avaliar as condições do transporte também. Então, para saber se o vírus está viável ou não, temos que testar", disse.

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