"A sensação é de que há uma farmácia em cada esquina". A frase, facilmente ouvida na Grande Vitória, não é mera impressão. O número de novos estabelecimentos está em crescimento desde 2013, mas, de 2022 para cá, a expansão se mostrou mais significativa na região metropolitana. No ano passado, foram 399 novas unidades, o que resulta em pouco mais de uma loja por dia. E 2023 segue no mesmo ritmo, com 240 estabelecimentos abertos até 15 de agosto.
Em cinco anos, a quantidade anual de farmácias abertas na Grande Vitória cresceu 81%. Em 2018, surgiram 220 unidades ante as 399 do ano passado. Na contramão, a quantidade de estabelecimentos fechados foi menor, com uma redução de 21% no período. Em 2018, 99 estabelecimentos encerraram as atividades e, em 2022, foram 78. No total, a Grande Vitória tem 1.873 farmácias em operação. Os dados são da Junta Comercial do Espírito Santo.
Mas por que a cada dia se abre uma nova farmácia na Grande Vitória? Vários fatores explicam o fenômeno. Um deles é o próprio crescimento do setor, em que grandes redes têm metas arrojadas de aberturas de lojas, bem como o uso de inteligência de dados e o fator proximidade com o consumidor.
Ainda contribuem para o fenômeno a mudança nos hábitos de consumo, com as farmácias funcionando também como ponto para realizar exames, centro de entrega para pedidos feitos pela internet e opção de venda por conveniência, para compras rápidas.
Para o economista e professor da Fucape Felipe Storch Damasceno, o crescimento no número de farmácias está atrelado ao fato do consumo de nesses estabelecimentos ser localizado, de modo que as pessoas costumam ir na mais próxima de casa. "As esquinas acabam sendo a escolha porque é local de mais evidência e as redes nesses locais acabam se fazendo perceber e são lembradas pelos clientes."
E, vislumbrando os próximos anos, Damasceno afirma que existe a demanda de as farmácias diversificarem os produtos que vendem, com uma tendência de poderem comercializar itens para casa, por exemplo.
Ele destaca ainda o investimento no desenvolvimento tecnológico para atender as pessoas, com processamento de dados e conveniência de atender tanto pelo site quanto pelo aplicativo. "Ao ir à farmácia a pessoa já sabe o que tem, muitas vezes já pagou pelo produto pela internet e precisa só retirar. As pessoas têm prezado por isso, um consumo rápido e prático", avalia.
As grandes redes estão em franca expansão no país e no Estado. Até 2025, a meta da Drogasil é abrir 780 novas farmácias no Brasil, segundo informações divulgadas para investidores. Mesmo com a expansão no número de lojas, a empresa também tem apostado no crescimento de vendas digitais.
Somente no segundo trimestre de 2023, o grupo RD-RaiaDrogasil registrou, em todo o país, 118,7 milhões de acessos nos aplicativos e sites, considerando as duas bandeiras, Droga Raia e Drogasil.
"E 93% das transações dos canais digitais foram atendidas a partir das farmácias, que funcionam também como minicentros de distribuição, que ajudam a tornar as entregas cada vez mais rápidas", ressalta a empresa.
No Espírito Santo, já são 60 unidades em 11 cidades. Na Grande Vitória, são 50 filiais, a maioria em Vitória (18) e Vila Velha (17). Além delas, a Drogasil se prepara para abrir um centro de distribuição em Viana. Em agosto, a empresa anunciou que o investimento é de R$ 60 milhões e a expectativa é criar 800 postos de trabalho, com previsão de começar as operações em 2024.
E não para por aí. O Grupo RD afirma que vai continuar a investir em projetos de expansão para o Espírito Santo.
"A rede quer ser a empresa que mais promove saúde e bem-estar para a população. Por isso, mantém a expansão geográfica e a segmentação com foco nos clientes. A proposta da Drogasil é tornar acessível aos consumidores os benefícios do conceito de nova farmácia. Mais do que um espaço destinado ao tratamento de doenças, as farmácias são hoje um ambiente voltado aos cuidados e à promoção da saúde integral", acrescenta a rede, em nota.
No mesmo caminho está a Pague Menos. Para 2023, a rede pretende abrir 20 lojas no país e, em 2024, a projeção é ainda mais otimista: 120 novas unidades. No Espírito Santo, por exemplo, a empresa tem quase 30 farmácias, a maioria na Grande Vitória. A rede também confirmou que pretende continuar o crescimento no Estado.
"Acreditamos que o atendimento mais perto dos nossos clientes e, como consequência, liberar o sistema de saúde para atendimentos de urgência é um dos pilares que norteia nossas aberturas. Por isso, dependendo da capilaridade de pessoas em uma região, ela pode necessitar de um número considerável das nossas farmácias", diz a Pague Menos, em nota.
Outra grande rede em evidência no Estado é a Pacheco. No total, são 31 unidades na região metropolitana. Já a Santa Lucia tem 38 unidades na Grande Vitória.
Também em expansão, a Pacheco não revela o número de novas lojas no Estado, mas informa que pretende encerrar 2023 com mais 130 unidades, o que reflete um crescimento frente as 70 inauguradas no ano passado. Sobre as perspectivas de expansão, Renato Lordello, diretor de operações do Grupo DPSP, afirma que há espaço porque os brasileiros estão cada vez mais ligados ao cuidado com a saúde e o bem-estar.
"Temos estudado muito, não só novas oportunidades de expansão em lojas, mas em modelos de atendimento também, investindo na integração de canais de atendimento para oferecer uma experiência 'figital' aos consumidores", ressalta.
Segundo dados da Abrafarma, que representa as grandes redes do país, o crescimento do faturamento das farmácias no ano de 2022 foi de 17,43% e também foi realizado 1 bilhão de atendimentos nas unidades. As maiores redes representam quase metade das unidades: 43,7%. Não há dados regionalizados.
Em 2022, a arrecadação de ICMS proveniente desses estabelecimentos na Grande Vitória foi de R$ 61,1 milhões. No primeiro semestre deste ano, foi de R$ 33,9 milhões, conforme dados da Secretaria da Fazenda (Sefaz). Os indicadores dos últimos anos apontam que o tributo arrecadado até junho de 2023 superou o que foi recolhido pelo governo do Estado em todo o ano de 2018, que foi de R$ 32,4 milhões.
Segundo a Sefaz, boa parte dos produtos comercializados pelas farmácias está inserida na sistemática de substituição tributária, quando o imposto é recolhido por contribuinte que integra uma etapa anterior à venda ao consumidor final (exemplo: distribuidores e importadores), e que esse levantamento diz respeito somente ao ICMS recolhido pelas farmácias, ou seja, na venda direta ao consumidor.
Ao analisar os dados por município, embora seja a segunda cidade em número de unidades, a Serra é a que mais arrecada ICMS desde o ano passado. Em 2022, foram R$ 21,4 milhões e, até junho de 2023, outros R$ 11,3 milhões. Vila Velha está em segundo lugar, com R$ 16,9 milhões em 2022 e R$ 10,1 até junho de 2023.
Dados do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) no Espírito Santo apontam que mais da metade dos empreendimentos farmacêuticos na Grande Vitória são pequenos negócios. No total de 1873 farmácias na região, 204 são empresas de pequeno porte e 765 microempresas.
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