A guerra da Ucrânia já impacta o Espírito Santo. De norte a sul do Estado, algumas redes de postos de gasolina têm enfrentado desabastecimento de combustíveis, o que tem causado aumento nos preços. O maior problema tem sido notado em postos de bandeira branca, que estão com dificuldades para obter gasolina e diesel S10.
Segundo o diretor de comunicação do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Espírito Santo (Sindipostos-ES), Rogerio Siqueira Lube, o Brasil, tradicionalmente, é exportador de gasolina e importador de diesel. Após a guerra eclodir na Europa, os Estados Unidos, principal parceiro do país nessa área, deixaram de exportar esse tipo de produto.
“No caso do diesel S10, nós temos 25% desse produto importado, não temos como fabricar. Os Estados Unidos são os nossos maiores fornecedores, mas, com a guerra na Ucrânia, mandaram cancelar qualquer tipo de exportação de fontes energéticas, entre elas o petróleo. Com isso, os navios previstos para atracarem aqui não vieram”, explica.
Com dificuldade na importação, o mercado interno tem ficado desabastecido em alguns pontos. No Estado, existem apenas dois pontos de distribuição de combustíveis para os postos através do transporte rodoviário.
“O nosso problema é que temos somente duas bases de combustível: uma no porto de Praia Mole e outro em Vila Velha. O porto localizado na Serra atende as bandeiras Shell, Ipiranga e BR. Já o outro atende aos outros postos. Um posto bandeira branca, por exemplo, não consegue recarregar em Praia Mole”, destaca Lube.
Segundo o diretor do sindicato, os pontos de bandeira branca só podem recarregar na unidade de Vila Velha, que não tem tido os produtos em quantidades suficientes.
Tendo que vir pelo transporte rodoviário, os varejistas acabam tendo outros custos adicionais, como frete, motorista e pedágio.
Reportagens exibidas pela TV Gazeta nesta semana dão cara ao problema: na Região Sul, a gasolina subiu R$ 0,20 e chegou a R$ 7,65 o litro. Já no Norte, o diesel já chega a ser vendido por R$ 6,10.
Em Cachoeiro de Itapemirim, Sebastião Lacerda, que atua como gerente de um posto, disse que as remessas de combustível têm vindo abaixo das solicitadas. Quando ele pede 15 mil litros de gasolina, por exemplo, recebe apenas 10 mil. E se pede 10 mil litros de diesel, consegue apenas 5 mil. “A procura é maior que a demanda”, diz.
Já em Linhares, no Norte do Espírito Santo, o representante local do Sindipostos-ES, Marcelo Japhet, destaca que o intervalo entre uma entrega em outra entre Vitória e o interior aumentou, assim como os custos de logística.
“Nós normalmente buscamos em Vitória, mas o navio não está chegando porque está sem produto. Por isso, estamos nos articulando e indo a bases de Belo Horizonte, Itabuna e Rio de Janeiro de caminhão. Só que o preço para isso aumenta e ainda não estamos conseguindo o produto”, relatou Japhet.
O diretor de comunicação do Sindipostos, Rogerio Lube, explica que o interior é sempre o primeiro a ser afetado quando há algum problema no abastecimento.
Segundo Lube, a Grande Vitória também enfrenta o desabastecimento, mas como os municípios estão mais perto das bases de combustíveis, a entrega dos produtos ocorre mais rápido que no interior, fazendo com que o consumidor não tenha uma percepção tão real da falta de gasolina e diesel.
Todos os navios previstos para chegarem ao Espírito Santo, via cabotagem, são da Petrobras. De acordo com Lube, há a previsão de chegada de uma carga com diesel S500 e gasolina entre o fim desta semana e o início da outra, mas uma nova remessa de diesel S10 somente deve chegar a partir do dia 22, devido ao problema de importação.
A solução encontrada pelos estabelecimentos tem sido procurar gasolina no próprio mercado interno. Uma solução também seria conseguir novos países parceiros, além dos Estados Unidos, medida que não é simples, uma vez que são necessários novos acordos comerciais com outros países para permitir a importação.
"Para você buscar África e Emirados Árabes, além do custo que sobe devido à distância que é maior, você tem que fazer todo um acordo comercial que a gente não tem. Temos só com os Estados Unidos, o maior exportador para nós", finaliza.
Questionada pela reportagem, a Vibra Energia (antiga BR Distribuidora) comentou que "todas as entregas de gasolina para os clientes da Vibra no Espírito Santos estão sendo realizadas conforme cronograma e pedidos dos clientes".
Além disso, explicou que quando a agência não é atendida, adota ações "junto a outros fornecedores, se necessário, incluindo importações, para viabilizar o atendimento aos nossos clientes".
A Federação Nacional das Distribuidoras de Combustíveis, Gás Natural e Bicombustíveis (Brasilcom), por sua vez, informou que "não se manifesta sobre precificação, que depende dos critérios de cada associada".
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