A crise atingiu em cheio os trabalhadores cinquentões, que perderam espaço no mercado de trabalho em meio à pandemia do novo coronavírus. Das 11.432 vagas extintas no Espírito Santo até setembro, 7.236 eram ocupadas por profissionais com idades entre 50 e 64 anos. Também foram muito prejudicados os trabalhadores com idades entre 30 e 39 anos, que perderam 5.028 oportunidades de carteira assinada, e os de 40 a 49 anos (3.741).
Por outro lado, essas perdas foram parcialmente compensadas por jovens com idades entre 18 e 24 anos, para os quais foram criados 6.775 novos postos de trabalho, segundo dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged), do Ministério da Economia.
Segundo especialistas, as características excepcionais da crise mundial enfrentada em 2020 ajudam a explicar o porquê dessa disparidade.
Um dos motivos é que a Covid-19 mostrou-se mais prejudicial às pessoas mais velhas, que têm maior tendência de enfrentar a forma grave da doença, e por isso foram classificadas como parte de um grupo de risco.
Muitas empresas, por não estarem preparadas para a situação, inclusive por lidarem com atividades que não permitem o home office, acabaram optando por desligar pessoas com idades mais avançadas, conforme observou o diretor de comunicação da Associação Brasileira de Recursos Humanos no Espírito Santo (ABRH-ES), Fernando Piva.
Houve essa preocupação com a segurança, mas não tendo outras formas de contornar a situação sem que houvesse um prejuízo às atividades, algumas empresas preferiram desligar seus profissionais com mais de 50 ou 60 anos, por exemplo. Em outros casos, os próprios profissionais optaram pelo desligamento e buscaram a aposentadoria nos casos em que era possível.
Essas mudanças beneficiaram as empresas, que buscavam enxugar gastos com pessoal. Não é apenas o risco de ser contaminado pelo vírus que aumenta conforme a idade, mas também o salário.
Os mais velhos geralmente têm remuneração um pouco maior. Então muitas empresas têm a crença de que vão economizar cortando esses profissionais. E, de fato, há uma economia, por um lado. Mas também há uma perda de produtividade em alguns sentidos, porque geralmente são profissionais que têm maior experiência na função, elencou o consultor de Carreiras e diretor da Acroy, Elias Gomes.
Mas, se há necessidade de enxugar gastos, por que houve um crescimento em relação à contratação de jovens? Para os analistas, uma das razões é a maior facilidade de adaptação às mudanças intensificadas pela crise.
Gomes observa que pessoas mais velhas, não necessariamente idosas, tiveram maior dificuldade de se adaptar às tecnologias que se tornaram indispensáveis no novo modelo de trabalho. Os jovens, por outro lado, se deram bem pois, de certa forma, já nasceram adaptados.
Psicóloga e especialista em gestão de pessoas, Martha Zouain destaca que o índice de adaptabilidade de pessoas mais jovens, tende a ser maior que o de gerações anteriores. Para cada reunião, por exemplo, há uma nova plataforma, uma nova forma dialogar. E a familiaridade com as ferramentas vêm mais rápida para alguns.
Além disso, muitas empresas passaram a investir em redes sociais e outras formas de divulgação de produtos e serviços, até mesmo para alavancar vendas por delivery, por exemplo, em meio ao período de isolamento.
Quem tem mais experiência, ou mesmo uma família para sustentar, tende a ser mais resistentes a negociar uma redução.
A preocupação com a família também afeta os adultos de 30 a 39 anos, que também perderam alguns milhares de postos de trabalho em meio à crise. A maioria das vagas dessa faixa etária que foram extintas, aliás, eram ocupadas por mulheres (-4.089).
É possível que isso tenha relação com a necessidade de passarem mais tempo com a família, por exemplo. Mas também há outras questões envolvidas. Principalmente quando as pessoas vão chegando perto dessa fase dos 40, começam a reavaliar uma série de situações, se atingiram outros objetivos fora do âmbito profissional. E as empresas acabam sentindo que essas pessoas não vão perder tanto.
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