As imagens da reunião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com seus ministros no dia 22 do dia abril foram divulgadas, nesta sexta-feira, em um cenário de muita expectativa no meio político. Mas, mesmo com muitos ataques e palavrões, por parte do presidente e membros de sua equipe, especialistas avaliam que o impacto do vídeo foi menor do que o esperado.
Cientistas políticos afirmam que, se por um lado a gravação mostrou "um comportamento grosseiro e infantilizado ao estilo Bolsonaro" e um contexto de "desrespeito às instituições e ao cargo que ocupa", por outro traz afirmações subjetivas sobre uma possível interferência na Polícia Federal (PF). Portanto, avaliam que essa interpretação ficará a cargo do ministro Celso de Mello, relator da investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).
O vídeo da reunião ministerial foi citado pelo ex-ministro da Justiça Sergio Moro em depoimento à Polícia Federal como principal indício de que o presidente desejava interferir na autonomia da Polícia Federal (PF). O ministro Celso de Mello decidiu torná-lo público em uma decisão de 55 páginas. Ficaram de fora trechos que se referiam a outros países.
Para os analistas, parte dessa quebra de expectativas deveu-se ao fato de que trechos que se referiam diretamente à PF tiveram a transcrição divulgada previamente pela Advocacia Geral da União (AGU).
O cientista político João Gualberto Vasconcellos comenta que o vídeo não mostra mais do que já se sabe sobre Bolsonaro: "Um presidente estoico (ríspido)". Segundo o especialista, as imagens mostram um presidente brigando com os ministros de forma infantilizada, como se fosse uma "tia velha dando bronca, falando palavras violentas e gritando".
Ele avalia ainda que ninguém esperava que o presidente fosse conduzir uma reunião ministerial com simpatia. "A reunião parece mais uma grande bronca coletiva exigindo que os ministros se comportem como ele", ressalta.
O cientista político ainda afirma que o vídeo mostra Bolsonaro defendendo suas teses. "Um posicionamento eleitoral ao estilo Bolsonaro. Quem apoia vai achar que está tudo legal e quem é contra vai achar que não mostrou nada diferente do que ele já mostra. Ficou no zero a zero", conclui.
Já o cientista político Fernando Pignaton acredita as imagens mostram que Bolsonaro não trata a presidência como uma instituição democrática do país, que tem sua estrutura moldada para que exista discussão sobre o contrapeso de todos os poderes.
Ainda segundo o especialista, do lado jurídico, as imagens são mais um elemento que se somam às declarações do Moro e de outros depoentes. Porém, vai depender do ministro Celso de Mello dar peso ou não a essas provas. "Acho que Bolsonaro falou coisas que, se forem colocadas dentro do contexto, podem fazer com que o magistrado entenda que o presidente queira interferir na PF", expõe.
Para Pignaton, a repercussão está sendo maior politicamente e institucionalmente do que o contexto em si, que era a de denúncia de uma tentativa de intervenção na PF, o que só agrava a situação do discurso do presidente diante do caso da Polícia Federal. Ele afirma ainda que é preciso que haja cobrança da sociedade e dos poderes para que o presidente respeite a instituição que é o cargo de presidente da República e quais são os seus limites.
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