Pelo segundo mês seguido, o setor industrial do Espírito Santo, que começou a ensaiar uma recuperação em setembro, voltou a apresentar queda na sua produção. Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (14), houve uma retração de 0,9% em novembro em relação a outubro.
No ano de 2020, de acordo com a Pesquisa Industrial Mensal (PIM), o Estado acumula retração de 15,9% na atividade industrial até novembro. Já na comparação de novembro com o mesmo mês de 2019, o recuo é 3,9%.
Em relação ao mesmo período do ano anterior, o pior desempenho de novembro de 2020 foi registrado nas indústrias extrativas, que apresentaram retração de 26%, puxando para baixo o resultado geral.
O desempenho é reflexo da queda na produção de pelotas de minério de ferro que está em patamar abaixo do ano passado e também da extração de petróleo e gás, que está menor por conta da crise.
O resultado geral do indicador só não foi pior por causa, principalmente, do setor de celulose, que tem registrado crescimento consistente ao longo dos meses. Na comparação com novembro de 2019, o crescimento foi de 70,1%. No acumulado do ano, é a única área, além da indústria de alimentos, que apresenta crescimento (18,6%).
O economista-chefe da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Marcelo Saintive, explica que o bom resultado dos setores - tanto de de papel e celulose quanto de produtos alimentício - é justificado pelo aumento do consumo durante a pandemia.
“O aumento da produção de celulose foi para atender o crescimento da demanda mundial. A produção de alimentos também foi efeito da pandemia. Durante o período, o consumo de alimentos em casa foi priorizado pelas famílias. O pagamento do auxílio emergencial contribuiu para o aumento da renda e gerou mais demanda por alimentos”, expôs Saintive.
A produção de alimentos, aliás, acompanhou o movimento de crescimento, com avanço de 15,6% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A fabricação de minerais não-metálicos (14,6%) e o setor de transformação (14,3%) também registraram alta. O segmento metalúrgico se manteve estável (0,1%). Já a atividade de metalurgia recuou 13%.
Conforme observou o economista Eduardo Araújo, a pandemia teve influência direta nos resultados, tendo provocado uma queda na produção industrial de modo geral.
“O indicador do ano é ruim principalmente porque dá sequência a um problema que não é de agora. Quando a gente compara o resultado em relação ao de dez anos atrás, por exemplo, o Espírito Santo teve uma redução de cerca de 40% das atividades. Essa trajetória preocupa.”
Em relação ao aumento da produção do setor de celulose, ele avalia que a valorização do câmbio, que favorece o aumento de exportações, também é um dos componentes que pode ter influenciado os resultados.
Olhando para a frente, o economista avalia que a retomada das atividades da Samarco deve reduzir as perdas a partir deste ano, mas observa que a retomada é parcial, e que, a princípio, mineradora vai operar com somente 26% de sua capacidade. Apesar de o retorno da indústria ser positivo, não será capaz de suprir todas as perdas desde que a produção foi interrompida, em 2015.
“Pensando no longo prazo, a melhoria do desempenho das indústrias, não só no Estado, mas no país, depende de alguns fatores. Entre eles, que a gente se organize melhor para aumentar a produtividade, o que inclui, em primeiro lugar, a reforma tributária. E o Espírito Santo tem que continuar fazendo o dever de casa, avançando com o ambiente de negócios. Tem que continuar investindo em infraestrutura, e os novos prefeitos precisam ser proativos para atrair novos investidores.”
Para Saintive, existem três fatores que podem contribuir para melhorar o desempenho da indústria do Espírito Santo. São eles: a diversificação dos setores, a inovação na produção e o reposicionamento no mercado internacional.
“O levantamento é importante, mas não traz essa diversidade de setores possíveis da indústria. Eu acredito que é importante pensar em como produzir mais e de forma diversificada. Um setor com grande potencial no estado é o de Biotecnologia, que pode puxar um novo ciclo. A inovação também tem que ser uma agenda prioritária. Outro ponto que precisa ser pensado é como acessar melhor o mercado internacional”, pontuou o diretor.
Dez dos 15 locais pesquisados pelo IBGE tiveram aumento na produção industrial de outubro para novembro, na série com ajuste sazonal. Oito dessas altas foram acima da média nacional, de 1,2%: Bahia (4,9%), Rio Grande do Sul (3,8%) Amazonas (3,4%), Região Nordeste (2,9%), Santa Catarina (2,8%), Ceará (1,7%), Rio de Janeiro (1,6%) e São Paulo (1,5%). Paraná e Minas Gerais completam a lista de locais com índices positivos no mês.
Já as quedas mais acentuadas foram registradas no Pará (-5,3%) e em Mato Grosso (-4,3%), além de Pernambuco (-1,0%), Espírito Santo (-0,9%) e Goiás (-0,9%).
Na comparação com novembro de 2019, a produção industrial no país cresceu 2,8%, com dez dos quinze locais pesquisados apontando resultados positivos. Paraná (14,0%), Santa Catarina (11,1%) e Pernambuco (10,0%) assinalaram os avanços mais intensos.
Já Mato Grosso (-18,4%) apontou o recuo mais elevado nesse mês. Rio de Janeiro (-7,0%), Pará (-4,6%), Goiás (-4,2%) e Espírito Santo (-3,9%) mostraram as demais taxas negativas em novembro.
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