> >
Indústria do ES precisa se reinventar após crise do coronavírus

Indústria do ES precisa se reinventar após crise do coronavírus

Empresas precisam depender menos da China e investir em tecnologia para serem competitivas  no pós-pandemia, afirmam analistas ouvidos por A Gazeta

Publicado em 25 de maio de 2020 às 20:05

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Indústria moveleira aposta em crescimento em 2020 com aprovação de reformas do governo
Indústria moveleira é altamente dependente de produtos chineses. (Rimo/ divulgação)

A crise do novo coronavírus trouxe uma lição importante para a indústria regional, nacional e até mundial: quando a China para, a economia freia junto. O período de quarentena no país fez com que o resto do mundo entendesse o quanto depende daquele mercado e dos produtos chineses.

O fato de só a China fabricar muitos dos equipamentos de saúde necessários para tratamento dos doentes e proteção de trabalhadores – respiradores e máscaras para citar alguns – acentuou o gargalo.

Analistas ouvidos por A Gazeta afirmam que, no pós-pandemia, a indústria do Espírito Santo (e do mundo) estará diferente. O setor já questiona a dependência de produtos importados, principalmente dos países asiáticos, o que poderia abrir oportunidade para uma reindustrialização, menos voltada para as commodities e para exportações e mais focada em produtos acabados, para o mercado interno.

Contudo, será preciso mais do que a boa vontade dos industriais para que essa mudança se concretize.

“O Espírito Santo tem indústria focada em commodities (aço, minério, papel e celulose). E o consumidor disso em grandes volumes não está no Brasil. Então, esse desenho geoeconômico vai demorar a se refazer. Cada segmento vai ter que buscar uma solução. O grande alerta é que a globalização passou do ponto”, afirma o presidente do ES em Ação, Fábio Brasileiro.

Quando o país asiático fechou as fronteiras para estrangeiros em janeiro deste ano devido à Covid-19, fábricas em várias nações começaram a interromper a produção devido à falta de componentes chineses, como as de eletroeletrônicos e de automóveis.

“Todo mundo vai tentar diminuir a dependência da China. O setor automobilístico é 70% ligado à China, a mesma coisa para alguns insumos para vestuário, indústria moveleira. Vamos ver uma reversão nessa tendência”, prevê o coordenador do Fórum Mais Negócios da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Durval Vieira.

A China é o maior exportador do mundo, respondendo por R$ 2,5 trilhões ou 16,2% dos embarques internacionais globais, de acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).

A saída para essa dependência é o desenvolvimento de uma indústria que fabrique produtos beneficiados para suprir o mercado interno, mas também que tenha mais valor na exportação.

“Nesse caso, só seria exportado o que for interessante exportar. Se o produtor brasileiro pudesse escolher, de acordo com a conveniência e oscilações do mercado, seria muito positivo. Hoje, exporta porque é o único caminho que tem”, diz Brasileiro.

Ele aponta, contudo, que essa mudança só seria possível caso fosse feita uma reforma tributária. Brasileiro diz que, com a carga de impostos atual, mesmo com as dificuldades, ainda seria mais barato importar produtos asiáticos do que produzi-los aqui.

“Talvez fique um legado nessa pandemia, que é a urgência de uma reforma tributária que possa garantir que tenhamos produtos competitivos aqui no Brasil. Verticalizar, gerar mais empregos, atrair mais empreendedores passa por revisão tributária”, afirmou.

TECNOLOGIA NÃO SERÁ LUXO E, SIM, NECESSIDADE

A reforma da indústria, os analistas concordam, passará por uma reforma tecnológica. Se antes as fábricas investiam em automação e inteligência (chamada de Indústria 4.0) para ganhar competitividade e até por modismo, agora elas o farão por necessidade.

“A industrialização terá que ser inteligente, fazer aquilo que tem valor agregado. Fabricar robôs, produtos que mecanizem os processos”, avalia Durval Vieira.

A Indústria 4.0 implica haver cada vez menos trabalhadores nas atividades “braçais” – essas feitas por robôs – e mais pessoas nas atividades de sofisticação e conhecimento técnico. Essa transição será de "vida ou morte" para alguns setores no mundo pós-pandemia.

Este vídeo pode te interessar

“Ninguém vai sair bem. A necessidade de ser competitivo será muito premente [urgente]. Vai faltar dinheiro, setores serão recompostos. Ser eficiente, operar com baixo custo e alta produtividade será cada vez mais requerido para que se tenha um produto competitivo”, avalia Brasileiro.

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais