A crise do novo coronavírus trouxe uma lição importante para a indústria regional, nacional e até mundial: quando a China para, a economia freia junto. O período de quarentena no país fez com que o resto do mundo entendesse o quanto depende daquele mercado e dos produtos chineses.
O fato de só a China fabricar muitos dos equipamentos de saúde necessários para tratamento dos doentes e proteção de trabalhadores respiradores e máscaras para citar alguns acentuou o gargalo.
Analistas ouvidos por A Gazeta afirmam que, no pós-pandemia, a indústria do Espírito Santo (e do mundo) estará diferente. O setor já questiona a dependência de produtos importados, principalmente dos países asiáticos, o que poderia abrir oportunidade para uma reindustrialização, menos voltada para as commodities e para exportações e mais focada em produtos acabados, para o mercado interno.
Contudo, será preciso mais do que a boa vontade dos industriais para que essa mudança se concretize.
O Espírito Santo tem indústria focada em commodities (aço, minério, papel e celulose). E o consumidor disso em grandes volumes não está no Brasil. Então, esse desenho geoeconômico vai demorar a se refazer. Cada segmento vai ter que buscar uma solução. O grande alerta é que a globalização passou do ponto, afirma o presidente do ES em Ação, Fábio Brasileiro.
Quando o país asiático fechou as fronteiras para estrangeiros em janeiro deste ano devido à Covid-19, fábricas em várias nações começaram a interromper a produção devido à falta de componentes chineses, como as de eletroeletrônicos e de automóveis.
Todo mundo vai tentar diminuir a dependência da China. O setor automobilístico é 70% ligado à China, a mesma coisa para alguns insumos para vestuário, indústria moveleira. Vamos ver uma reversão nessa tendência, prevê o coordenador do Fórum Mais Negócios da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Durval Vieira.
A China é o maior exportador do mundo, respondendo por R$ 2,5 trilhões ou 16,2% dos embarques internacionais globais, de acordo com dados da Organização Mundial do Comércio (OMC).
A saída para essa dependência é o desenvolvimento de uma indústria que fabrique produtos beneficiados para suprir o mercado interno, mas também que tenha mais valor na exportação.
Nesse caso, só seria exportado o que for interessante exportar. Se o produtor brasileiro pudesse escolher, de acordo com a conveniência e oscilações do mercado, seria muito positivo. Hoje, exporta porque é o único caminho que tem, diz Brasileiro.
Ele aponta, contudo, que essa mudança só seria possível caso fosse feita uma reforma tributária. Brasileiro diz que, com a carga de impostos atual, mesmo com as dificuldades, ainda seria mais barato importar produtos asiáticos do que produzi-los aqui.
Talvez fique um legado nessa pandemia, que é a urgência de uma reforma tributária que possa garantir que tenhamos produtos competitivos aqui no Brasil. Verticalizar, gerar mais empregos, atrair mais empreendedores passa por revisão tributária, afirmou.
A reforma da indústria, os analistas concordam, passará por uma reforma tecnológica. Se antes as fábricas investiam em automação e inteligência (chamada de Indústria 4.0) para ganhar competitividade e até por modismo, agora elas o farão por necessidade.
A industrialização terá que ser inteligente, fazer aquilo que tem valor agregado. Fabricar robôs, produtos que mecanizem os processos, avalia Durval Vieira.
A Indústria 4.0 implica haver cada vez menos trabalhadores nas atividades braçais essas feitas por robôs e mais pessoas nas atividades de sofisticação e conhecimento técnico. Essa transição será de "vida ou morte" para alguns setores no mundo pós-pandemia.
Ninguém vai sair bem. A necessidade de ser competitivo será muito premente [urgente]. Vai faltar dinheiro, setores serão recompostos. Ser eficiente, operar com baixo custo e alta produtividade será cada vez mais requerido para que se tenha um produto competitivo, avalia Brasileiro.
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