Um ano e meio após a paralisação das atividades da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), a companhia aérea do Grupo Itapemirim teve a falência decretada pela Justiça de São Paulo. A empresa, que deixou mais de 100 mil clientes no prejuízo em dezembro de 2021, mal chegou a operar por seis meses antes da suspensão dos voos.
Durante o curto período de atuação, acumulou críticas por causa de cancelamentos de voos — antes mesmo da primeira decolagem —, atrasos de salários e do não pagamento das dívidas com os credores do processo de recuperação judicial da Viação Itapemirim.
Em meio à confusão, o próprio Grupo Itapemirim, cujo principal negócio era no ramo de transportes rodoviários, teve a falência decretada, em setembro de 2022. As dívidas tributárias da empresa somavam, à época, R$ 2,8 bilhões. Os responsáveis pelo negócio tentaram recorrer da decisão, sem sucesso.
As controvérsias envolvendo as atividades da Itapemirim nos últimos anos são diversas, e até o dono do negócio, Sidnei Piva de Jesus, é investigado pelo Ministério Público por suspeita de desvio de recursos da Itapemirim para lançar a empresa aérea.
O Grupo Itapemirim foi procurado, via e-mail, mas não houve retorno até a conclusão desta reportagem. Há vários meses, não há qualquer site oficial da companhia.
Confira a seguir as principais polêmicas:
Considerada, então, uma das maiores empresas de transporte rodoviário do país, a Viação Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016, junto com outras empresas que pertenciam à família de Camilo Cola.
Pouco depois, o grupo foi vendido para Camila Valdívia e Sidnei Piva de Jesus, empresários de São Paulo. Cerca de nove meses após o negócio, a família Cola afirmou ter sofrido um “golpe”, alegando que os empresários que compraram a empresa não honraram com o acordo. A família tenta, desde então, anular o negócio.
No início de 2020, a gestão do Grupo Itapemirim falou pela primeira vez sobre criar uma companhia aérea, que, segundo declarações do dono, Sidnei Piva, teria conseguido um aporte de R$ 2 bilhões de um fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos para financiar o projeto, com foco na aviação regional.
Não havia informações sobre o fundo, e a criação da aérea em meio ao processo de recuperação judicial foi alvo de questionamentos diversos. Além de dívidas milionárias com credores, o grupo acumulava mais de R$ 2 bilhões em dívidas tributárias. Para quitar parte dos débitos, bens da empresa foram leiloados.
Mesmo com a pandemia, que reduziu a demanda por voos e elevou o preço dos combustíveis, a criação da ITA foi mantida.
A ideia era que houvesse um voo inaugural para Vitória, mas a ITA nunca chegou ao Espírito Santo, direcionando seu foco a terminais com maior fluxo de passageiros.
Ainda assim, na semana anterior a sua estreia, no final de junho de 2021, a ITA já era alvo de diversas reclamações dos consumidores. Passagens para voos, que já haviam sido vendidas, foram canceladas sem explicações ou remarcadas sem aviso.
Em comunicado, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) explicou que havia um histórico da empresa de tentar vender mais passagens do que o número de assentos disponíveis nos aviões.
Além dos passageiros, a ITA também enfrentou descontentamento por parte de seus funcionários durante o breve período em que esteve em atividade. Eles tinham seus salários e benefícios, como vale-refeição e transporte, em atraso com frequência.
O plano de saúde foi subitamente suspenso, e até mecânicos estariam trabalhando sem equipamentos de proteção adequados, segundo o sindicato da categoria. Havia ainda queixas a respeito das verbas rescisórias que não estavam sendo pagas a quem era demitido.
Em meio à crise, o dono da empresa, Sidnei Piva de Jesus, expandiu a área de seus negócios e abriu uma empresa offshore no Reino Unido, a SS Space Capital Group UK LTDA. A informação foi divulgada pelo site Congresso em Foco e confirmada por A Gazeta.
O relatório do site aponta que a companhia, com sede em Londres, na Inglaterra, tinha como proposta atuar como uma holding de serviços financeiros e fundos de investimentos. A firma de Piva tinha um capital de 785 milhões de libras, aproximadamente R$ 6 bilhões.
Em 17 de dezembro de 2021, o Grupo Itapemirim anunciou a suspendeu das operações da companhia aérea ITA, seis meses após o primeiro voo. Segundo comunicado da empresa à imprensa, a medida era temporária e foi tomada devido à necessidade de "ajustes operacionais".
Entretanto, a empresa passava por crise antes mesmo de sua criação, e os voos nunca foram retomados.
De acordo com informações divulgadas na coluna Capital, do jornal O Globo, no mesmo dia em que a suspensão das operações da ITA foi anunciada, deixando no prejuízo milhares de passageiros que tinham passagens compradas para voar na alta temporada, Piva retirou quase R$ 1 milhão do caixa do grupo Itapemirim para a companhia aérea. A Polícia Federal passou a investigar o caso.
Em abril de 2022, quatro meses depois da suspensão dos voos, a venda da ITA para a Baufaker Consulting, de Brasília foi anunciada. A compradora tinha sede em um espaço coworking, serviço de compartilhamento de escritórios, conforme revelou A Gazeta. O negócio foi questionado pela Justiça, que exigiu a comprovação do pagamento. Menos de um mês após o anúncio, o comprador desistiu do negócio avaliado em R$ 180 milhões.
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