"Se vamos ou não para um cenário [econômico] pior, depende de alguém que tem nome e sobrenome: Jair Bolsonaro". Essa é a avaliação do ex-ministro da Fazenda e economista Maílson da Nóbrega, que aponta ser necessário que o governo federal retome as agendas de reformas e privatizações, articulando com o Legislativo, para a saída efetiva da crise agravada pela pandemia do coronavírus. Ele também pondera que o presidente terá que definir o que será feito após o fim do auxílio emergencial.
As declarações de Maílson foram feitas nesta quinta-feira (3) durante sua participação no Vitória Summit 2020, evento realizado pela Rede Gazeta. No evento , ele palestrou sobe os impactos do "novo normal" na economia e quais as perspectivas para o Brasil. Também participaram do painel a jornalista e colunista de Economia de A Gazeta, Beatriz Seixas, e o economista Teco Medina.
Para Maílson, a saída da crise passa pelas reformas administrativa e tributária, mas, sobretudo, pela PEC Emergencial, para reduzir o gasto público. Ele apontou que é preciso que o presidente tenha uma boa interlocução com o Senado e a Câmara dos Deputados para que elas sejam aprovadas logo.
O economista também destacou que é preciso uma harmonia do governo federal na busca pela vacina da Covid-19, garantindo a imunização da população, o que também passa pelo presidente. Isso permitiria, por exemplo, a retomada de setores importantes da economia, como o de serviços.
Já com relação às privatizações, Maílson afirmou que a agenda proposta pelo ministro da Economia deveria ser seguida, porém, as desestatizações são mal vistas pela população e Bolsonaro fica refém disso, segundo ele.
"Jair Bolsonaro chamou o Paulo Guedes de 'posto Ipiranga'. Guedes foi lá e anunciou um trilhão em privatizações. Mas Bolsonaro foi lá e disse: 'ok, mas não pode privatizar Petrobras, Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia, Caixa Econômica, etc'. Matou 80% disso", afirmou o ex-ministro.
O economista também pondera que seria prudente o governo recuar da ideia do Renda Cidadã, programa que viria a substituir o Bolsa Família. Ele aponta que o custo adicional para colocar o projeto para funcionar seria de R$ 30 bilhões. Com isso, restariam ao presidente três opções, segundo Maílson: adiar o programa, mexer no teto de gastos ou acabar com outros programas assistenciais menos eficientes, o que já disse que não fará.
"Esse benefício não é viável sem abrir espaço no teto de gastos, porém, mais de 95% dos gastos do governo são com despesas obrigatórias. Ou seja, sobra muito pouco para a máquina pública continuar funcionando, investindo. A lógica do teto é ajustar despesas e não aumentar tributos ou se endividar mais. Aumento de receitas não funciona para criar programa novo", afirmou.
Maílson ainda disse que o "presidente quer obter efeitos políticos positivos, sem enfrentar custo fiscal". "Guedes propôs alternativa que foi reduzir ou eliminar alguns programas sociais menos eficazes ou mal focalizados, como abono, salário família, etc, mas o presidente recusou de cara", comentou.
O economista Maílson da Nóbrega ainda aponta que, provavelmente, só veremos a crise superada por volta de 2025. Segundo ele, o déficit primário do país deve ficar em 11,4% neste ano, o pior de série histórica construída desde a década de 1990. Porém, em 2021, o déficit cairá para 2,9%. "Estamos apostando nas reformas e se não tiver isso a situação do país vai piorar. Só teremos superávit por volta de 2025", aponta.
De acordo com o economista, o PIB só deverá voltar ao nível de 2016 e 2017 por volta do ano de 2023. Já considerando a renda per capita, essa retomada aos patamares pré-crise deve vir apenas por volta de 2024.
"Nossa estimativa é que a taxa de câmbio fique em 5,35% neste ano. Para 2021, deve cair a 5,25%. Em 2022, pode cair a 4,74, se não houver nenhum grande problema político, nenhuma ação problemática de Bolsonaro ou algo parecido", disse.
Ele destacou ainda que as contas públicas ainda vivem uma situação delicada, e os próximos passos do governo federal terão papel decidido na retomada.
Na visão do economista Teco Medina, o Espírito Santo, que vive uma boa gestão fiscal, é prejudicado pelo cenário nacional. Ele afirmou que o Estado, do ponto de vista de gestão das contas, deveria ser um exemplo para o país neste momento.
"Acho que a economia do Espírito Santo deu azar nos últimos dois anos, prejudicada por acidentes envolvendo o minério de ferro. Mas, de modo geral, vive um cenário que particularmente, me anima. O grande desafio é que nós decidimos, a nível nacional, ser um grande Rio de Janeiro".
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