Nos últimos anos a preocupação com o meio ambiente e com os recursos naturais aumentou consideravelmente. Isso porque a questão ambiental permeia todos os setores da economia - da produção de alimentos à fabricação de automóveis. Mas o meio ambiente também pode ser um setor da indústria, com empresas que conseguem obter lucro em cima das necessidades de sustentabilidade de outras companhias. A área ainda engatinha no Espírito Santo, mas, para o futuro, a tendência é que todos tenham que a preocupação ambiental se amplie, com crescimento desse setor.
É sobre este lado econômico do meio ambiente a quinta matéria da série desafios das indústrias, que que fala a respeito dos setores industriais do Estado e as rotas de desenvolvimento traçadas pela Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), governo estadual e academia, para estimular o crescimento dessas áreas até 2035.
De acordo com Ednilson Silva Felipe, professor do mestrado em Engenharia e Desenvolvimento Sustentável da Ufes, esta proposta de indústria ambiental é relativamente recente, mas com uma demanda crescente. Por ser nova, ainda não existem muitos dados disponíveis sobre empresas e empregos gerados por este setor.
Hoje a questão ambiental está caminhando no sentido de responsabilização das empresas; sobretudo no que diz respeito ao gerenciamento dos resíduos. Porém, a companhia que cria o resíduo pode não ser a mais indicada para dar a destinação correta a ele. Aí que surgem as empresas do setor do meio ambiente. Elas são especializadas na destinação correta dos materiais e podem vender esse serviço a empresas maiores, explica Felipe.
E não é só no campo da destinação de resíduos que essas empresas podem atuar. Também existe a possibilidade da geração de energia por meio de placas solares, biomassa, saneamento, desenvolvimento de biofertilizantes, entre outros exemplos.
É um setor muito rico em oportunidades. E um dos pontos fortes aqui no Estado é que essa discussão já está muito presente no meio empresarial. Sempre que há um debate nesse sentido, o meio ambiente aparece como elemento importante a ser discutido. Exemplo disso é a presença do setor em todas as rotas de desenvolvimento que estão sendo produzidas pela Findes, comenta o professor.
Apesar das oportunidades, o setor tem gargalos operacionais importantes, segundo mostra o especialista. Poucos setores têm uma cadeia logística reversa já estruturada. Pilhas, por exemplo, você tem alguns pontos de coleta. Papel e plástico também já contam com uma grande rede de pessoas envolvidas. Mas com os remédios vencidos, por outro lado, ninguém sabe o que fazer, aponta Ednilson Felipe.
Além da preocupação empresarial com o meio ambiente, o avanço do setor também depende de legislações federais que tratam do tema. A partir de 2012, por exemplo, a legislação permitiu que a energia gerada por meio de placas solares fosse enviada para a rede elétrica - o que possibilitou o desenvolvimento de empresas especialistas neste setor. Depois, em 2013, com a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, ganharam força as companhias responsáveis por dar a destinação correta para os resíduos de grandes empresas.
Parte dos avanços deste setor dependem das políticas nacionais. Então, até onde podemos chegar? Até onde a institucionalidade nos permitir chegar, porque tecnologicamente o avanço é muito grande e o mercado tem espaço para crescer, afirma Felipe.
Um exemplo de melhoria que pode acontecer, segundo ressalta o professor, é com relação ao direito do cidadão em tratar a água na sua própria casa. Se eu posso gerar minha energia, porque não posso tratar minha água em vez de pegar toda a água limpa da Cesan, por exemplo?, questiona.
Já tem tecnologia que permite pequenas instalações fazerem o tratamento de água - não 100%, mas pode ser uma água usada para descargas ou para molhar a planta. Só que o governo ainda não permite que eu faça isso. Qual a lógica? O que justifica essa proibição?, reclama Felipe.
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