O momento econômico não é dos melhores, ainda assim tem profissional por aí que não anda muito preocupado com isso. Se por um lado são muitos os desempregados, por outro há quem possa escolher onde quer trabalhar: no Espírito Santo, em outro Estado do Brasil, ou mesmo na Europa. Essa é uma realidade para os profissionais de Tecnologia da Informação (TI), um setor que não sabe o que é crise: sobram vagas e as empresas brigam - cada uma com suas armas - para conseguir bons profissionais de tecnologia.
Os números mostram que esse mercado vive um momento promissor. Entre as empresas com atuação no Espírito Santo, o PicPay contratou, só em 2019, mais de 400 profissionais para o setor de tecnologia e tem cerca de 100 vagas abertas na área. A Wine preencheu todas as 45 vagas abertas em 2019 e já planeja abrir mais 40 nesse início de 2020. Na Autoglass são mais de 10 vagas abertas no momento para o setor de tecnologia, e no Pag outras seis vagas disponíveis.
"Nos últimos dois anos a gente não tem conseguido atender todas as demandas de vagas de estágio e emprego para o nosso curso. As empresas ligam pedindo indicação e nem sempre tem aluno para indicar. Tem mais demanda de vaga de trabalho na área do que profissionais formando. Desenvolvedores de software, por exemplo, tem demanda muito grande. Alguns alunos entram no mercado de trabalho antes mesmo de formar", confirma Renan Osório Rios, professor de programação e e-commerce do Ifes .
O professor explica por que a demanda de profissionais é tão grande: "O celular hoje é mais vendido que computador, e tem as mesmas funções. Muitos aplicativos estão sendo desenvolvidos e consumidos pelo público muito mais rápido que antes. As empresas cada vez mais estão se informatizando. As empresas físicas têm tendência de atuar também no mercado on-line, pois ainda não são todas que estão na web. Quem for migrar vai demandar mais profissionais de TI, e isso é crescente. Os smartphones estão cada vez melhores, são vários programas e por trás deles muito profissionais de TI. O mercado está aquecido."
O diretor de TI da Wine, Clayton Freire, concorda e diz que há dificuldade também para manter os profissionais contratados. "O mercado de tecnologia está crescendo muito, causando disparidade entre vagas e candidatos, por isso há certa dificuldade em achar profissionais qualificados para todos os cargos e reter os talentos. Há muita oportunidade de realização profissional para quem quer se especializar na área de TI", garante.
A carência do mercado por profissionais é tanta que a concorrência entre as empresas não se resume ao mercado estadual ou nacional. É também na internet que muitas empresas vão em busca de profissionais, tendo o LinkedIn com uma das principais ferramentas de contratação. Graças a rede social de negócios, muitos capixabas conseguiram, por exemplo, trabalhar para empresas do exterior.
Formado em Engenharia da Computação pela Ufes, Rodolfo Gobbi De Angeli, de 28 anos, atua na área há cinco anos mas trabalhou por pouco tempo no Espírito Santo. Há mais de um ano ele é contratado de uma empresa da República Tcheca: inicialmente trabalhando de forma remota, morando no Estado, e há quatro meses mudou-se para Praga.
"Meu teste durou nove dias. Foram nove dias trabalhando sem parar, programando. Passei e depois fiz entrevista para avaliarem o meu inglês. Me realoquei faz quatro meses, antes disso trabalhei remoto enquanto meu processo de visto corria. Não é algo incomum poder trabalhar remoto em muitas áreas de TI. É uma área que tem uma carência absurda de mão de obra no mundo todo, então tem o luxo de ser viável o profissional não ficar preso ao mercado de trabalho onde mora", afirma.
O capixaba Thiago Montovaneli, de 31 anos, é outro que escolheu trabalhar fora do país. Formado em Sistema de Informação há 10 anos, ele foi analista de suporte e desenvolvedor de algumas empresas capixabas, até surgir a oportunidade de trabalhar no Canadá.
"Fiz entrevistas para trabalhar na Polônia e na Holanda. Fui aprovado na Polônia e reprovado para Holanda. Depois surgiu o anúncio de um empresa canadense que faria um evento em São Paulo. Fui para São Paulo, fiquei um sábado inteiro programando e fazendo entrevistas. Algumas semanas depois recebi a proposta em uma conversa pelo Skype. Estou há um ano e quatro meses no Canadá", conta.
Aos 24 anos, o capixaba Armando Magalhães conseguiu uma vaga de emprego na Netflix graças ao LinkedIn. Morando em Amsterdã há dois anos, ele começa a trabalhar como Desenvolvedor de soluções técnicas na empresa de streaming em fevereiro. Antes, atuou em três empresas capixabas e em duas empresas europeias
"Eu estava desde 2015 aplicando para vagas fora do Brasil. Fiz várias entrevistas e fui negado, até que em 2017 apareceu uma oportunidade de trabalho remoto para uma empresa portuguesa, onde trabalhei durante nove meses até ser aprovado no processo seletivo de uma global online travel agency, em Amsterdam. A Netflix abriu a vaga no LinkedIn em agosto do ano passado. Eu apliquei na vaga, eles viram meu perfil e meu currículo, se interessaram, e retornaram com uma ligação para gente se conhecer melhor", conta Magalhães, que não chegou a concluir o curso de Sistemas da Informação.
Sem esconder que vai receber 7.500 euros por mês no novo emprego, o capixaba garante que o salário é o que tem feito os brasileiros trocarem as empresas nacionais pelas estrangeiras.
Funcionário de uma empresa do Canadá, Thiago Montovaneli diz que o salário é um diferencial importante, mas que trabalhar fora do Brasil tem outras vantagens.
"Trabalhar aqui tem superado todas as minhas expectativas. Em termos de tecnologia, estamos sempre buscando o melhor. Não há problema para recursos físicos tipo computador, monitor, mesas, cadeiras, climatização do ambiente. Não tenho problema em relação ao salário. O que se faz com R$ 100 mil por ano aqui (Canadá), não se faz aí. O dinheiro vale muito mais. Meu salário é perto disso, 100 mil dólares canadenses anuais", revela.
A rotatividade na profissão é tão grande, que também há quem faça o caminho inverso: da Europa para o Brasil. O capixaba Lucas Sampaio, de 28 anos, ainda não terminou a faculdade de Sistemas de Informação e já tem no currículo a passagem por uma empresa da Alemanha. Atualmente em São Paulo, ele afirma que não chegou a trabalhar no Espírito Santo.
"Trabalhei por dois anos, de forma remota, para uma empresa da Alemanha. Ganhava 4 mil euros por mês, era o salário de entrada da empresa, o mais baixo, mas compensava muito pra mim com o câmbio euro-real. Mas aí a empresa parou de dar lucro, o trabalho ficou desinteressante e eu mudei para uma empresa de São Paulo. Hoje ganho cerca de R$ 10 mil por mês. Não cogito voltar para o Espírito Santo. São Paulo tem um mercado grande e variado", comenta.
Mas quem está no mercado do Espírito Santo há mais tempo garante que dá para viver bem atuando na área de TI por aqui também. Kleberson Rodrigues Costa, 45 anos, profissional da área há mais de 20 anos e funcionário de uma empresa de comércio de vidros e peças automotivas há seis anos, acredita que o momento é de retomada e que os próximos anos serão ainda melhores.
"O mercado de TI no Espírito Santo esteve um pouco complicado nos últimos anos por conta desses problemas todos do país. Ultimamente, tenho acompanhado vários colegas de profissão se recolocando no mercado e até mesmo migrando de empresa por conta de grandes oportunidades. Empresas do Estado e grandes empresas de fora estão operando aqui. Inclusive, tenho recebido bastante propostas via LinkedIn. Com certeza dá para viver bem trabalhando com TI aqui. Tem muita empresa se reestruturando e contratando para que no ano que vem ou em 2021 a gente possa ter um crescimento das empresas de TI no Estado", avalia.
Em um mundo cada vez mais tecnológico, a expectativa é que área de TI continue a crescer nos próximos anos. Mas para quem quer um espaço no mercado, aqui vai um aviso: é preciso muito mais que habilidades técnicas.
"É uma área cada vez mais forte e que certamente crescerá bastante nos próximos anos. Há um caminho muito promissor para profissionais que se especializarem na área, pois a tendência é que as marcas fiquem cada vez mais tecnológicas. Valorizamos pessoas que procuram sempre se aprimorar. Para nós, o mais importante é buscar candidatos que se identifiquem com a cultura da empresa e tenham a postura de dono com o negócio", afirma Clayton Freire, diretor de TI da Wine.
A Head de Pessoas do PicPay, Mariana Damiati, concorda e diz que é preciso visão de negócio e compromisso com o aprendizado.
Gostar do que faz também é fundamental. O professor do Ifes Renan Osório Rios ressalta que os profissionais que se divertem com o trabalho são os que mais se destacam na área.
"O profissional que se destaca é o que gosta do que faz. Tem alunos que se divertem programando. Tem que ser proativo, porque as tecnologias mudam. É preciso correr atrás e estudar. Perceber onde se identifica mais e se dedicar. Tem que ter afinidade com área de exatas, ser bom em matemática, física e lógica. Ter afinidade com o trabalho para ficar muito tempo na frente do computador. Se você formar na área de informática e não continuar estudando vai perder vaga no mercado de trabalho. As exigências aumentam com o passar do tempo", conclui.
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