Há três meses, no dia 22 de março, a cidade de Mimoso do Sul, no Sul do Espírito Santo viveu uma noite de sexta-feira que jamais será esquecida pelos moradores. A chuva que atingiu a cidade provocou mortes, destruiu lojas e casas e deixou veículos tombados após a enxurrada. Supermercados e outros estabelecimentos comerciais tiveram que descartar todas as mercadorias e os produtos que ficaram tomados pela lama após a inundação.
E para recomeçar, os empresários da cidade contaram com ajuda de vários tipos. O auxílio ia da limpeza nos estabelecimentos, passava pelo prazo ampliado para pagamento oferecido pelo fornecedor para retomada de estoque e ainda acesso a crédito emergencial com taxas reduzidas e carência de alguns meses para pagamento.
Gabriel Delatorre, presidente da Associação Comercial de Mimoso do Sul, conta como está a cidade três meses depois de 98% do comércio da cidade ter sido destruído pelas enchentes. "Na época da chuva, de todo o comércio, só sobraram uma farmácia e um supermercado", lembra.
De lá para cá, as primeiras atividades a voltarem, segundo ele, foram material e construção e panificadora. Sem capital, após terem perdido praticamente todo o estoque, os comerciantes precisaram realizar uma retomada progressiva. O supermercado de Delatorre, por exemplo, ficou 22 dias sem operar. Agora, até o início de junho, faltava uma farmácia ser reaberta.
"Nos primeiros 60 dias, o município sofreu muito, até por conta da estrada obstruída. Nos primeiros 30 dias, o que chegava era por Muqui. A primeira compra do empresário foi muito complicada. Quem conseguiu reabrir tinha demanda, mas muitos aguardaram até 60 dias para chegar alguma coisa. As pessoas queriam consumir, remontar suas casas, mas não tinha produto para atender", conta o empresário.
Dona de uma loja de variedades no Centro de Mimoso do Sul, Vânia Teodoro perdeu 99% do estabelecimento com a enchente de março. Ela lembra que tinha muita mercadoria em estoque e ficou muito perdida após o prejuízo sofrido. Ela comanda a loja em sociedade com o marido, Benildo José da Silva. "Vimos o nosso chão desmoronar. Tirávamos todo o sustento daqui", diz.
Vânia lembra que abraçou a oportunidade de empréstimo para poder conseguir recuperar o negócio e voltar a fazer pedidos de fornecedores. Agora, três meses depois, a loja está 80% recuperada. A retomada foi no início de maio. A empresária lembra que, durante essa recomeço, muitos fornecedores também ajudaram, dando mais prazo de pagamento dos pedidos.
“Depois da chuva, a gente tinha perdido a esperança. Achei que nada ia dar certo mais, que ia decretar falência. Mas tivemos muita ajuda, principalmente na limpeza da cidade, com mutirões e pessoas de fora. Acredito que, se fosse depender só do povo da cidade para fazer a limpeza, hoje a gente não estaria nem na metade”, afirma.
A dentistas e empresária Luiza Arrabal tem duas lojas em Mimoso do Sul: uma de cosméticos e outra multimarcas de luxo. A enxurrada de março acabou com todo o estoque, que tinha acabado de ser renovado, causando um prejuízo de R$ 600 mil. Seu consultório dentário também ficou todo destruído.
"Tinha acabado de chegar a coleção inteira de roupas e bolsas. Perdi tudo. Só de um modelo eu tinha 130 bolsas, pois também vendo muito pela internet. E também tinha estoque de muitos perfumes importados. Desses, tive que vender abaixo do custo o que deu para aproveitar e conseguir pagar as contas", relata.
Além do prejuízo nas lojas e no consultório, Luiza também teve que lidar com a inundação da sua casa, que chegou a ter água no segundo andar. Ela lembra que, primeiro, a família cuidou da residência para depois retomar os negócios. A Marias Cosméticos, que já tem cinco anos, e a Thaiz Guarçoni, que completou um ano, foram reabertas no início de maio, depois de reforma e pintura.
Para retomar o comércio, Luiza pegou empréstimo, o que ajudou na reforma e também na reconstrução do seu estoque. Mas agora, em vez de comprar em grandes volumes – o que atendia à demanda de vendas online –, a empresária está comprando aos poucos.
Uma das maneiras encontradas pela comunidade para ajudar os comerciantes da cidade foi a criação de uma moeda própria: a cédula da paróquia. Gabriel Delatorre, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas do município, conta que a iniciativa foi realizada em parceria com a Paróquia São José e a Prefeitura de Mimoso do Sul, para ajudar a destinar às famílias os R$ 780 mil recebidos em doações.
As entidades fizeram um levantamento de pessoas de baixa renda e que perderam tudo na cidade para destinar o valor arrecadado. Em junho, cerca de 1.300 famílias receberam tíquete de R$ 600 em cédulas da paróquia, que só podem ser gastas no comércio do município.
Para os comerciantes, ser pago com a cédula acelera o recebimento. Gabriel explica que, ao receber a "moeda", os empresários arquivam e toda sexta-feira levam para a paróquia para então receberem a transferência do valor.
Dias após as chuvas, foi criada uma linha de crédito especial e emergencial voltada para empresas da região sul do Estado afetada pelas chuvas na retomada pós-enchentes.
O Bandes, por exemplo, recebeu aporte inicial de R$ 50 milhões do governo do Espírito Santo por meio do Fundo de Fortalecimento da Economia Capixaba (Fortec), criando a linha Bandes Emergencial.
Segundo o Bandes, até agora foram atendidas pelo crédito emergencial 90 empresas nas cidades de Alegre, Alfredo Chaves, Apiacá, Bom Jesus do Norte, Guaçuí, Jerônimo Monteiro, Mimoso do Sul e Vargem Alta.
Dois meses após as enchentes, 90 empresas já tinham recebido os recursos para se reconstruir. A maior parte da demanda é de Mimoso do Sul, município mais atingido: quase 100 propostas de financiamento, totalizando aproximadamente R$ 35,2 milhões.
No total, os recursos emergenciais em todas as cidades atingidas vão ser destinados a projetos nas fases de análise e contratos que totalizam R$ 48,2 milhões, dos R$ 60 milhões disponibilizados pelo governo do Estado por meio do Fortec para a linha de financiamento emergencial destinada ao atendimento às empresas dos municípios atingidos pelas chuvas.
Com o crédito, as empresas puderam investir em obras, compra de insumos e matérias-primas, maquinário, assim como pagar despesas até que o faturamento se estabilize novamente.
Entre os tipos de empreendimento do comércio, os mais beneficiados foram:
O Bandes montou uma força tarefa de atendimento e análise das propostas de financiamento que os recursos chegassem às empresas afetadas o mais rápido possível.
“O Fortec foi uma das estratégias fundamentais adotadas pelo Bandes em colaboração estreita com o governo do Estado nesta situação tão dramática. O Fortec representa um marco importante em nossa capacidade de resposta a crises, pois nos permite ter agilidade e diligência na alocação de recursos para áreas prioritárias, como na reconstrução de infraestrutura e no apoio a setores produtivos afetados", afirmou o diretor-presidente do Bandes, Marcelo Barbosa Saintive.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta