A possibilidade de arrematar bens como veículos e imóveis até pela metade do valor de mercado atrai milhares de brasileiros para o mundo dos leilões. Sem a opção de realizar os eventos presencialmente em função da pandemia do coronavírus, a saída tem sido disponibilizar as ofertas em sites criados por leiloeiros. No entanto, a facilidade do mundo digital também traz altos riscos de golpe, exigindo atenção redobrada dos compradores.
O leilão virtual funciona de forma parecida com o presencial. O leiloeiro coloca os bens disponíveis com fotos, valor do lance mínimo e a data em que será realizado o leilão. Geralmente, o interessado tem um tempo determinado para dar o lance e aguardar o resultado. Quem vence recebe uma ordem de compra, efetua o pagamento e a entrega do bem arrematado é acertada com o leiloeiro.
A facilidade de entrar em contato com os interessados acabou atraindo estelionatários que falsificam sites, simulam os leilões de bens que nunca chegarão às mãos do arrematante e, após receber o depósito do dinheiro, desaparecem.
Foi o que aconteceu com o músico Júlio Cesar Vésper, de 34 anos. Não era a primeira vez que o capixaba se cadastrava em um site de leilões, mas acabou se cadastrando em um site falso que levava o nome do leiloeiro Alexandre Buaiz.
“Eu não estranhei nada, tudo parecia muito real e correto. Entrei e dei um lance em um veículo, só depois que descobri que era golpe”, relata. O falso leilão aconteceu no início de março e Vésper fez o depósito de R$ 16 mil, valor do lance oferecido. Até o momento ele não sabe se vai conseguir recuperar o dinheiro.
A informação de que tinha arrematado o carro chegou com a pressão para que o depósito fosse feito naquele mesmo dia. Os estelionatários o pressionaram até que o dinheiro estivesse na conta. A entrega, no entanto, não estava acertada.
Morador de João Neiva, no interior do Espírito Santo, Vésper se ofereceu para ir buscar o veículo, mas os bandidos disseram que levariam em sua casa com um guincho.
"Eu disse que estava indo para Vitória, mas eles ofereceram levar de guincho. Estava trabalhando no dia e por isso fiz tudo correndo, sem desconfiar de nada. Quando foi no outro dia, começaram a surgir dúvidas", conta.
Já era tarde demais. O depósito, feito no nome de uma pessoa física que supostamente era “agente fiscal” do governo, já tinha sido sacado. Até o momento, o músico não sabe se vai conseguir recuperar a perda. Fez boletim de ocorrência na delegacia, procurou o Procon e o banco, mas ninguém deu uma solução para o problema ainda.
“Os bancos falam que não podem questionar as pessoas a motivação de abrir a conta, por isso não tem como impedir que alguém abra. Mas é muito estranho, se você pesquisar o nome e o CPF da pessoa que eu depositei o dinheiro não acha nada. Nem ação na Justiça, nem redes sociais, nada, é como se não existisse”, lamenta.
Por pouco a empresária Priscila Barboza Gonçalves também ficou no prejuízo. Ela chegou a se cadastrar no site, enviar documentos e fazer um lance, mas por sorte, descobriu que o endereço era falso antes de depositar qualquer valor.
Despretensiosamente, abiu o site do Tribunal de Justiça do Estado para acompanhar o andamento de outros processos quando se deparou com um aviso de que o site em que havia se cadastrado era uma fraude.
Os dois registraram boletim de ocorrência na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), da Polícia Civil, mas não tiveram orientações ou qualquer outra informação sobre o andamento das investigações. Por nota, a polícia afirmou que os casos seguem em investigação e as informações são sigilosas. O site acessado pelos dois capixabas já está fora do ar.
"A PCES esclarece que o registro do Boletim de Ocorrência é de extrema importância para que todos os casos cheguem ao conhecimento da Polícia e sejam devidamente apurados. O registro da ocorrência pode ser realizado comparecendo pessoalmente a uma delegacia ou, preferencialmente, por meio da Delegacia Online", diz a nota.
O professor de Direito da Faesa Fábio Bonomo, que é especialista em casos envolvendo leilões, explica que os casos de fraude têm se multiplicado, principalmente durante a pandemia de Covid-19 que suspendeu leilões presenciais. O professor ressalta que leilões se tornam muito atrativos pelos valores baixos, e a empolgação por economizar na aquisição de um bem pode tirar a atenção dos arrematantes.
“O que as pessoas normalmente precisam fazer é ir fazer um BO na polícia para tentar investigar e encontrar os estelionatários e ter chances de recuperar o dinheiro. O banco não fica responsável porque não é obrigado a saber qual o motivo das contas que são abertas e os estelionatários desaparecem sem deixar vestígios. É muito difícil encontrar, sendo sincero, quase impossível”, analisa.
Existem, no entanto, ações de prevenções que podem ser tomadas por aqueles que gostam e pretendem continuar participando dos leilões. Bonomo garante que se seguir as recomendações de segurança, a prática se torna segura e confiável. Veja as principais:
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