Um princípio de incêndio foi registrado em uma casa de Aracruz que teve utilizados em sua construção fios elétricos fabricados de forma irregular por uma empresa da Serra que foi interditada na semana passada. O episódio aconteceu no dia 11 de agosto, conforme revelou o delegado Eduardo Passamani, titular da Delegacia Especializada de Defesa do Consumidor (Decon). O pai, a mãe e duas crianças estavam em casa no momento em que a caixa de energia do local pegou fogo.
“Pelo que o proprietário contou, quando foi verificar, as crianças se assustaram e foram correndo até ele, dizendo que o pai ia morrer”, relatou o delegado, pontuando que o acidente poderia ter resultado em uma tragédia maior.
Dias antes, a fiação à qual o ar-condicionado da residência estava conectado havia derretido, mas a família só fez a conexão entre os episódios após as investigações sobre a fábrica virem a tona.
A família procurou a empreiteira responsável pela obra, que confirmou a utilização dos fios de forma inadvertida. O delegado explicou que empresa já se responsabilizou pelos prejuízos e está alertando outros moradores sobre o problema.
Não é o primeiro caso de incêndio envolvendo os produtos da marca. A empresa comercializou os produtos para praticamente todos os Estados brasileiros. Uma construtora que presta serviços em Mato Grosso oficializou uma reclamação contra a empresa após surgirem focos de incêndios em apartamentos nos quais foram utilizados os fios da Luzzano.
Nesta manhã desta quinta-feira (19). membros da Decon, em conjunto com a Comissão de Defesa do Consumidor da Assembleia Legislativa e do Instituto de Pesos e Medidas do Espírito Santo (Ipem), deflagraram a segunda fase da Operação Elétron, que resultou na apreensão de mais de 40 mil metros de fios irregulares em lojas de materiais de construção e empresas especializadas em instalação de equipamentos da Grande Vitória.
As amostras foram testadas pelo Ipem, que apontou que os fios estavam fora dos padrões técnicos exigidos, sendo capazes de causar o superaquecimento da rede de energia, curto-circuito e até mesmo incêndios, além de deixarem a conta de energia mais cara. Um laudo semelhante já havia sido emitido na semana passada em relação aos fios recolhidos na fábrica, que foi interditada.
O material tem a certificação de segurança do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), muito embora não atendesse as exigências. Uma explicação possível, segundo o diretor-geral do Ipem, Rogério Pinheiro, é que embora o produto passe por diversos testes e a empresa precise apresentar uma série de documentos para que seja certificado, isso não significa que esses mesmos parâmetros de qualidade sejam mantidos indefinidamente.
“A partir dali ela pode mudar a operação. Talvez ela venha diminuir (a qualidade) com a intenção de obter lucro. Lembrando também que pode acontecer de a empresa ter apenas um lote errado.”
Pinheiro observa que, após a certificação do Inmetro, anualmente as empresas passam por vistoria do Ipem e, se constatadas irregularidades, são multadas em valores que podem variar entre R$ 100 e R$ 1,5 milhão.
A fábrica em questão, localizada em Boa Vista II, na Serra, já foi multada em anos anteriores por problemas semelhantes. Os valores não foram divulgados. O responsável pela empresa inclusive chegou a ser preso em 2019 por conta das irregularidades, mas pagou fiança e passou a responder pelo processo em liberdade, antes de ser novamente detido, na semana passada, por reincidência. Ele continua preso.
Pinheiro fez ainda um alerta: “Aquelas pessoas que estão trabalhando com obra, com fio, devem colocar um profissional realmente da área, que entenda, porque quando vai fazer a emenda, o corte do fio, consegue observar que tem menos cobre do que o normal.”
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