Os investidores do mundo todo estão ávidos pelo Brasil, tanto pelas oportunidades já consolidadas na nossa economia como pelas perspectivas futuras. Para economistas, porém, se por um lado o país tem a faca e o queijo na mão para deslanchar em vários setores, por outro, precisar fazer o dever de casa para atrair esses investidores, transmitindo confiança, o que passa pelo cuidado com as contas públicas.
A avaliação é dos economistas Ana Paula Vêscovi, economista-chefe do Santander; Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo; e Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual. Eles participaram neste sábado (19) de um painel sobre o panorama econômico do país no Pedra Azul Summit 2022, encontro de líderes promovido pela Rede Gazeta e que está em sua 17ª edição.
De acordo com Ana Paula, que foi secretária do Tesouro Nacional, o Brasil e o México são hoje as meninas dos olhos dos investidores globais. Muito disso de deve pela grande quantidade de liquidez hoje no mundo, que agora faz um enxugamento da liquidez subindo as taxas de juros, prática em que o Brasil saiu na frente. Mas também por outros fatores como o conflito na Ucrânia e o tema da transição energética.
"Tudo isso traz muitas oportunidades para o Brasil. O Brasil tem uma matriz energética limpa, todos no mundo estão querendo se aproximar mais desses processos produtivos, e aqui estamos na América, longe da guerra. Mundialmente hoje, Brasil e México são os preferidos dos investidores, sobretudo os de longo prazo", comentou Vêscovi, que seguiu:
Hartung concordou com a economista, que foi sua secretária da Fazenda no Espírito Santo. Para o ex-governador, o Brasil está hoje "numa das melhores quadras da sua história" e com "a bola na cara de um gol sem goleiro", uma vez que a economia mundial está andando de lado e o Brasil pode ser um ponto de refúgio para investidores.
"O mundo não vai andar bem e nós precisamos ter atenção com o mundo. Hoje o mundo quer consumir o Brasil". Além disso, Hartung elencou algumas oportunidades únicas para o Brasil crescer: as agendas de descarbonização, de infraestrutura e a demanda global por produção de alimentos.
"No mundo, o maior desafio é a emergência climática. Precisamos descarbonizar a economia mundial, mudar a matriz energética. E o Brasil tem a maior floresta tropical do mundo, maior biodiversidade do mundo, matriz energética renovável, 12% da água doce do mundo. Um país que está posicionado para ter protagonismo nessa nova fase da economia mundial", afirmou.
Segundo Hartung, prova disso foi a repercussão do resultado eleitoral no mundo. "Uma repercussão que só se compara com a eleição do dr. Tancredo Neves no colégio eleitoral, que foi lá atrás, pela questão democrática. Hoje é a sustentabilidade, é meio-o ambiente, é a Amazônia".
Por fim, o ex-governador ponderou que a infraestrutura, que sempre foi um calo para o crescimento do Brasil, "devagarzinho está se transformando em oportunidade". Ele citou que, enquanto em 2019 o país tinha R$ 19 bilhões em investimentos contratados por concessões, neste ano fechará acima de R$ 50 bilhões.
"A gente enfim descobriu o caminho para ter rodovia decente - coisa que não temos aqui na BR 262 ainda -, descobrimos como ter ferrovia no país, o caminho para ter energia, para ter 5G. Ou seja, não precisamos reinventar a roda, tem só que colocar a roda pra rodar", destacou.
Para Mansueto Almeida, "a economia do Brasil não está ruim", ou seja, o ponto de partida para o novo governo é bom.
"Vendo do que o Brasil veio nos últimos anos, dá um certo otimismo, uma vez que, mesmo com dificuldades, a agenda econômica avançou, mesmo com um governo que nasceu de um impeachment e de um governo que veio com uma polarização enorme. Mas avançamos nessa agenda", disse.
Ambos os economistas destacaram que, para o Brasil nadar de braçada nesse mar de oportunidades, é preciso fazer o dever de casa. Ana Paula Vêscovi ressaltou que o grande problema do país hoje é a fragilidade fiscal, fazendo uma revisão dos gastos públicos e discutindo prioridades.
"Sem gestão fiscal, a gente não vai sair de um imbróglio imenso que a gente tem, que é a escassez de recursos em um país emergente. Nós temos um governo altamente despoupador. É a grande fragilidade que a gente tem: a gente precisa de um ajuste nas contas públicas", defende Vêscovi, que complementa:
Paulo Hartung lembrou ainda que, enquanto o mundo tem desafios para superar, o que dá vantagens ao Brasil, nós também temos pontos fracos a corrigir, sobretudo o que ele chama de "desancoragem de expectativas", que é a preocupação com as âncoras da política econômica.
"Vamos terminar o ano com uma taxa de desemprego bacana, com um PIB bacana, mas vamos terminar um ano com um problema que vem de trás, de uma economia desancorada em termos de expectativas", comentou.
Mansueto concordou: "Vamos terminar o ano com a menor taxa de desemprego desde 2015. O Brasil melhorou, mas o ajuste fiscal não está completo, pois foi preciso aumentar os programas sociais. O que não pode é começar o governo da forma que está começando. Que é pedir para gastar, além do que está programado no próximo ano", disse o economista do BTG.
Para ele, o governo eleito precisa ser claro e precisa definir logo sua política fiscal. "É preciso dizer: se quer gastar mais, qual será a nova regra fiscal? Isso é fundamental porque, se a gente não controlar gastos, vai ter que mexer na carga tributária, coisa que ninguém quer."
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