Abandonado há sete anos na Baía de Vitória, o navio turco de bandeira panamenha Iron Trader mais parece um "navio fantasma". A embarcação está atracada desde 2015 em um cais do Porto de Vitória, próximo do Museu Vale, em Vila Velha.
A novela do navio esquecido em águas capixabas, porém, está prestes a ganhar um novo capítulo. Isso porque a embarcação foi vendida em um leilão há dois anos e, apesar de continuar no porto mesmo após esse tempo, agora pode finalmente deixar o local.
De acordo com a empresa que administra o Porto de Vitória, foram tomadas providências judiciais para garantir a retirada da embarcação pela empresa que comprou o navio, com objetivo de viabilizar, assim, a retomada da atividade comercial no local.
Em agosto de 2020, o Iron Trader foi penhorado em favor da Sudeste Soluções Ambientais Eireli. O valor desembolsado foi de R$ 400 mil para pagamento de encargos trabalhistas dos tripulantes. A decisão foi do juiz trabalhista Marcelo Tolomei Teixeira, da 7ª Vara do Trabalho de Vitória.
Com a decisão da Justiça, o Porto de Vitória deixou de exercer o encargo de fiel depositário da embarcação, estando sob responsabilidade da compradora a retirada do navio para liberação da área. Na época, a promessa era que o navio seria retirado do terminal portuário para virar sucata, o que até agora não aconteceu.
Segundo o Porto de Vitória, o Iron Trader está desde 2015 impedindo tanto que o berço seja utilizado por novas embarcações como a realização de obras de melhorias no local.
Quem passa pela Baía de Vitória observa que ele está com o casco cada vez mais enferrujado.
O estado de conservação do navio acende um alerta, principalmente após o navio graneleiro São Luiz, que estava ancorado na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro, desde 2016, se chocar contra a estrutura da Ponte Rio-Niterói, perto de Niterói, no começo da noite da última segunda-feira (14). Não houve feridos, já que a embarcação estava vazia. A Marinha investiga o acidente.
Entretanto, o Porto de Vitória esclarece que, mesmo com a decisão, mantém o navio atracado em um berço de águas abrigadas, adotando todas as medidas de segurança para garantir a embarcação atracada, juntamente com o proprietário.
A decisão da 7ª Vara do Trabalho de Vitória, em agosto de 2020, tornou “em caráter irrevogável”, a proposta de aquisição da embarcação, em favor da Sudeste Soluções Ambientais Eireli, ou seja, a empresa não poderia voltar atrás e teria que tomar as medidas necessárias para a retirada da embarcação do local. A reportagem não conseguiu contato com a empresa.
Para a retirada do navio do local, seriam necessários alguns procedimentos junto à Capitania dos Portos, que é a Autoridade Marítima. A embarcação sairia do porto navegando e levado para outro porto para ser desmanchado.
A reportagem não conseguiu contato com a empresa Sudeste Soluções Ambientais, que comprou o navio.
O Iron Trader foi fabricado em 1981 e está atracado no Porto de Vitória desde janeiro de 2015. A embarcação havia saído da Turquia dois anos antes, com previsão de parada na África e no Brasil. Na época, a informação era de que a parada do navio seria em Pernambuco, no Nordeste do país, mas a empresa que faria a compra do material transportado cancelou a transação.
A embarcação, entretanto, não tinha permissão para entrar no porto capixaba e ficou mais de um mês em alto-mar. Ao todo, eram nove tripulantes: cinco turcos, três russos e um sírio.
A partir de então, começou a faltar mantimentos, água potável, assistência médica e alimentação para seus ocupantes, e a entrada no porto foi liberada por questões humanitárias. Na época, os tripulantes estavam há vários meses sem receber salários.
Sem representante portuário e sem armador, o navio ficou sem receber combustível, água potável, assistência médica e alimentação para a tripulação. Dois marinheiros turcos, nove meses depois de atracado, em outubro de 2015, ainda estavam no navio vivendo de doações de uma igreja.
Hoje, não há tripulantes no Iron Trader, que está ancorado no Berço 902 do Terminal de Granel Líquido (TGL), em São Torquato, Vila Velha. O Iron Trader tem 78,7m de comprimento.
Assim que o navio atracou, houve o desembarque da carga geral (239.430 toneladas), cuja operação foi cercada de segurança máxima por parte da Polícia Federal, Alfândega e Guarda Portuária.
Em maio de 2015, a Justiça do Trabalho nomeou a Codesa como fiel depositária da embarcação, até que a questão trabalhista fosse resolvida entre a tripulação, o armador do navio e o agente. O arresto era uma garantia, já que o navio não poderia deixar o porto sem que o armador, a empresa Iron Group Inc. Turquia, pagasse as dívidas trabalhistas e as tarifas portuárias.
A ação trabalhista foi movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). Parte do dinheiro da venda do navio seria destinado ao pagamento de encargos dos advogados e outra para quitação parcial dos débitos trabalhistas. O valor não foi suficiente para saldar os encargos devidos aos tripulantes.
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