Um novo ramal ferroviário no Contorno da Serra do Tigre, entre os municípios de Patrocínio (MG) e Sete Lagoas (MG), na malha da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA) – que liga Goiás ao Espírito Santo – pode gerar um volume de cargas nos portos capixabas de 22 milhões de toneladas por ano em 2035.
O montante é quatro vezes maior que os atuais 5 milhões de toneladas anuais, que chegam por trem ao Estado pela FCA, e superam, também, a estimativa traçada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), de 7 milhões de toneladas anuais em 2055. Os novos dados são de um estudo da Fundação Dom Cabral, encomendado em uma parceria entre a Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes) com o governo do Estado.
A obra, por enquanto, é um desejo antigo de investidores capixabas, mineiros e goianos, que contam com a mobilização dos governos estaduais e com as federações das indústrias dos seus Estados para sensibilizar o Ministério da Infraestrutura. O investimento, avaliado em R$ 2,5 bilhões, seria uma contrapartida paga pela empresa VLI, que opera a FCA, pela renovação antecipada da concessão da ferrovia, que vence em 2026.
O novo percurso, chamado de variante ferroviária ligando Patrocínio a Sete Lagoas, em vez de subir a montanha, garantiria um custo menor para o transporte e, segundo o levantamento, poderia baratear o frete em até 7,5%, além de aumentar a velocidade média da locomotiva dos atuais 12 km/h para 45 km/h, além de um consumo de combustível 30% menor.
A demanda de escoamento da ferrovia beneficia o agronegócio, que já transporta no trecho atual produtos como milho, farelo de milho, soja e fertilizantes. No entanto, com o alto custo para subir a Serra do Tigre, boa parte dessa produção é exportada pelo Porto de Santos, cujo trajeto tem maior fluidez.
"O que esse levantamento mostrou é que a obra é super viável e que existe uma demanda para alavancar o agronegócio, aumentando a produção a ser escoada pelo complexo portuário capixaba, não só do Porto de Vitória, mas como dos outros portos que já estão com obras de expansão em andamento, como o Porto Central, o Porto da Imetame e a Petrocity", afirma a presidente da Findes, Cris Samorini.
O estudo foi apresentado na última quarta-feira (15) ao ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, em audiência com a senadora Rose de Freitas (MDB), Cris Samorini, o diretor de negócios do Bandes, Marcos Kneip Navarro e técnicos da Fundação Dom Cabral.
Segundo Samorini, o levantamento traz uma nova perspectiva para a realização da obra, já que "atualiza" o cenário após a construção do Contorno da Serra do Tigre com a capacidade portuária que o Espírito Santo terá quando as obras nos portos capixabas forem terminadas.
"Antes, o estudo que o ministro tinha em mãos era da capacidade atual dos portos capixabas. Mas é importante se considerar essa nova perspectiva porque são obras em andamento, que já estão mais consolidadas. Não são só projetos aguardando aprovação. Além de serem construções da iniciativa privada, que costumam acontecer em um prazo menor”, destaca.
A pauta conta com uma certa resistência do ministro Tarcísio de Freitas, que já mostrou preferência para que a VLI banque, como contrapartida, um projeto para a construção de um outro trecho, ligando Barreiras, no Oeste da Bahia, a Figueirópolis (TO), criando um novo ramal com o Nordeste. A obra, contudo, ainda precisaria de uma complementação ferroviária para alcançar a FCA e o porto de Ilhéus.
Na última reunião, contudo, o ministro disse que vai se debruçar sobre o estudo e "analisá-lo com carinho e cuidado". Ele pontuou que a decisão do ministério será pela melhor relação custo-benefício. "Temos de relacionar os cenários com a capacidade de financiamento. Vamos ver o que é viável", argumentou.
A análise das propostas está na mesa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que estuda as condicionantes para a prorrogação da concessão da VLI para operar a ferrovia Centro-Atlântica. O relatório com o parecer da ANTT é enviado ao Ministério da Infraestrutura, que tomará a decisão. A expectativa é que, caso seja comprovada a vantajosidade da prorrogação antecipada, a assinatura do termo aditivo de prazo contratual seja assinada no ano que vem.
Para o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação, Educação Profissional e Desenvolvimento Econômico do Estado, Tyago Hoffmann, a proposta do Contorno da Serra do Tigre vai consolidar um corredor logístico que já existe, mas que precisa ser aprimorado. Ele aponta que, do ponto de vista técnico, o projeto que beneficia o Espírito Santo larga na frente.
"Nas próximas semanas a ANTT e o Ministério vão analisar esse novo estudo, devem pedir mais detalhes técnicos e vão discutir a proposta com a VLI também. A nossa expectativa é de ter sucesso nessa batalha e que ainda este ano possamos ter uma resposta positiva. Do ponto de vista técnico mostramos a viabilidade econômica e financeira. O que a gente espera é que questões políticas atrapalhem essa tomada de decisão", afirma o secretário.
A malha ferroviária da FCA, contando todas as suas conexões, conta com 7.220 quilômetros de extensão, que passa pelos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia e São Paulo, além do Distrito Federal.
O Contorno da Serra do Tigre é um projeto de construção de cerca de 450 quilômetros de ferrovia, que baratearia os custos de transporte entre o Centro Oeste e o Espírito Santo.
A construção seria viabilizada em uma cláusula da renovação antecipada da concessão da FCA, que vence em 2026, e já está em fase de negociação entre o Ministério da Infraestrutura e a atual concessionária, a VLI. O valor de outorga calculado pela renovação é, segundo a ANTT, de R$ 4,98 bilhões.
Além da proposta da construção do Contorno da Serra do Tigre, o ministério analisa a proposta da construção de um trecho ferroviário ligando Barreiras, no Oeste da Bahia, a Figueirópolis, no Tocantins, ligando o Centro-Oeste ao Nordeste.
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