De dezembro do ano passado até março deste ano a Bolsa de Valores brasileira, a B3, saiu de 118 mil pontos para uma mínima de 61 mil pontos, registrado no dia 23 daquele mês. Neste período o circuit braker mecanismo automático que é acionado quando acontece um forte queda foi ativado seis vezes. Mas nem mesmo tamanha oscilação afastou o capixaba da Bolsa. Hoje já são 39.356 investidores do Espírito Santo apostando as fichas na recuperação da economia.
Na verdade, o período de quedas na Bolsa foi o que mais atraiu os investidores. Em fevereiro, quando os índices giravam em torno de 115 mil pontos eram 29.266 investidores capixabas. No mês seguinte, um dos mais instáveis de toda a história da B3, o número de investidores capixabas saltou para 35.149.
Para o planejador financeiro e sócio da Alphamar Investimentos Renan Lima, o crescimento expressivo do número de pessoas num mês de forte oscilação demonstra certa maturidade do investidor capixaba.
O brasileiro se acostumou, durante muito tempo, a receber retorno de 1% ao mês com investimentos em renda fixa. Mas com a queda da taxa Selic a renda fixa já não dá esse retorno, então é preciso partir para novos negócios para continuar tendo o lucro esperado, avalia.
As fortes quedas na Bolsa foram provocadas, principalmente, pelos efeitos econômicos do coronavírus ao redor do mundo e também por conta do conflito entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou o preço do petróleo no mercado mundial.
Apesar das quedas, segundo a B3, março também foi positivo para os investidores. Das cinco maiores altas do ano, quatro aconteceram em naquele mês. No dia 13 de março, por exemplo, a alta foi de 13,91%. Por ser um mercado muito dinâmico, muita gente vê a Bolsa como sendo um jogo, mas não é assim que funciona. O investidor tende a ter mais sucesso quando vê na Bolsa de Valores empresas das quais ele quer se tornar sócio, quando pensa num negócio a longo prazo, comenta Lima.
Segundo o assessor de investimentos da Valor Charo Alves, o aumento do número de investidores na Bolsa tem forte relação com o nível de informação das pessoas. Essa maior procura pela Bolsa tem sido observado em todo o Brasil. A gente sabe que a internet hoje tem muita influência na vida das pessoas e o assunto Bolsa tem estado muito presente no YouTube, Instagram e demais plataformas. Com mais informação as pessoas tendem a se sentir encorajadas para investir, avalia.
Indo nessa onda do que é falado nas redes sociais, muita gente tem investido em ações da Via Varejo, Magazine Luiza, fora as blue chips que são as principais ações da Bovespa: Itaú, Vale, Banco do Brasil, entre outras, acrescenta Alves.
O número de investidores em renda fixa também têm aumentado apesar da baixa rentabilidade que eles estão apresentando. No entanto, ao se comparar o avanço das duas formas de investimento a diferença se torna gritante.
De dezembro de 2019 a maio de 2020 o número de investidores na Bolsa saltou de 25.793 para 39.356 um aumento de 52%. Já no Tesouro Direto o número saiu de 1,20 milhão de investidores em dezembro passado para 1,24 milhão em abril deste ano último dado disponível. O número corresponde a um aumento de 3,84%, segundo dados do Tesouro Nacional.
Há cinco anos era possível ter um ganho líquido de 12%, 13% na renda fixa. Hoje, com a Selic baixa esses investimentos deixaram de ser um aporte para multiplicar o patrimônio, passando para um investimento que apenas evita perdas. E essa realidade tem sido observada em todo o mundo, acrescenta Charo Alves.
Nos últimos dias a Bolsa tem apresentado bons resultados passando sem problemas até pela divulgação do vídeo da reunião ministerial do governo brasileiro. Desde o dia 5 de maio, a Bolsa de Valores brasileira subiu de 80 mil para 95 mil pontos. Nesta semana, o Ibovespa chegou a ensaiar boas recuperações, mas na quarta-feira (10), à véspera do feriado de Corpus Christ, acabou fechando com queda de 1,96% aos 94.851 pontos.
Apesar desse retorno, o cenário ainda é instável e especialistas acreditam que a Bolsa não deve retornar aos 120 mil pontos ainda este ano. De acordo com o PhD em Contabilidade e Finanças André Moura, tal patamar só deve ser alcançado quando tivermos uma vacina contra a Covid-19 e se a crise política minimizar consideravelmente.
Acredito que neste ano vamos estabilizar em torno dos 105 mil pontos, podendo voltar aos 120 mil no ano que vem. Estou otimista porque o principal indicador do mercado americano já voltou aos patamares de janeiro e o Brasil ainda está cerca de 30% abaixo do que estava no começo do ano, então a gente ainda tem o que recuperar, comenta.
É óbvio que nada impede que a gente tenha alguns tropeços no caminho, mas vejo uma tendência de alta, sobretudo para empresas do mercado financeiro que ainda não recuperaram o preço que tinham antes da pandemia, acrescenta Moura.
A mesma recuperação deve ser vista nos fundos de investimentos que reúnem papeis de diversas empresas. Assim como as ações, os fundos de investimentos apresentaram fortes quedas em março.
Muitos já se recuperaram em abril e maio. Todavia, o cenário continua incerto e nos próximos meses teremos a divulgação de resultados das empresas. Caso venham acima da expectativa o mercado pode continuar uma trajetória de alta, caso contrário podemos andar de lado ou voltar a ter novas quedas, avalia Renan Lima.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta