Quem planeja investir dinheiro em 2023 deve se atentar a uma série de fatores, como a inflação elevada, a alta das taxas de juros, a fragilidade fiscal e a instabilidade política, que, em menor ou maior grau, afetam o bolso da população e a rentabilidade de suas aplicações financeiras.
Analistas reforçam que o primeiro ano de um novo governo é tradicionalmente um momento delicado, de grande incerteza, mas ainda é possível encontrar boas alternativas para cada tipo de investidor. São três perfis principais:
Raphael Vieira, head de Renda Fixa da Arton Advisors, avalia que, em 2023, os aportes em renda fixa devem continuar a ter destaque. Para conter a alta generalizada de preços, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central elevou substancialmente a taxa Selic (hoje em 13,75%), o que puxou para cima a rentabilidade de diversas aplicações.
Nesse contexto, os pós-fixados que acompanham a taxa, por exemplo, podem ter um bom retorno. O mesmo acontece com investimentos atrelados à inflação, como CDBs (Certificados de Depósitos Bancários). São investimentos que trazem pouco risco e têm boa rentabilidade nessas circunstâncias.
Algumas empresas chegam a oferecer opções de renda fixa que pagam até 165% do CDI (certificado de depósito interbancário), que é um título que serve como lastro de empréstimos entre os bancos, hoje fixado em 13,65%. Quando a Selic sobe, essa taxa também tem alta e vice-versa.
Na XP Investimentos, por exemplo, um CDB do Banco XP chega a render 120% do CDI (16,38%) ao ano, com aplicação mínima de R$ 25 mil, com possibilidade de resgate dois meses após a aplicação. É uma alternativa com duração limitada.
Para quem tem menor disponibilidade de caixa, o Nubank disponibiliza a opção de investimento em CDB do Banco Master, que rende 120% do CDI (16,38%) ao ano, com aplicação mínima de R$ 50. O saldo, entretanto, só pode ser resgatado em dois anos. Outro CDB do mesmo banco tem rendimento de 115% do CDI (15,69%), com possibilidade de resgate em um ano.
No C6 Invest, quem aplicar no mínimo R$ 100 poderá obter até 111% do CDI (15,15%) caso opte por resgatar os recursos em três anos.
“A dinâmica inflacionária para 2023 deve seguir de perto a política fiscal do novo governo. Caso ocorram gastos de forma ineficiente, a pressão inflacionária virá e fará com que seja o tema mais acompanhado pelo Banco Central ao longo do ano. Ao mesmo tempo, devemos ter a reversão das políticas de corte de impostos nos combustíveis, elevando o preço da gasolina, que possui um peso bem grande na composição do IPCA", disse Raphael Vieira.
Os fundos de crédito privados, assim como os títulos públicos, como o Tesouro Selic e Tesouro IPCA, também seguem tendência de alta e devem entregar rentabilidade interessante em 2023.
A renda fixa é mais segura e, por isso, costuma ser indicada por especialistas aos investidores conservadores ou que têm objetivos de curto prazo, caso em que investir em renda variável acaba sendo muito arriscado.
Geralmente oferece menor retorno. Entretanto, os reajustes da Selic elevaram o valor do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), índice utilizado como referência no mercado de renda fixa, e têm tornado essas aplicações mais vantajosas.
Em todo caso, a diversificação de investimentos é indicada em qualquer cenário. O estrategista da RB Investimentos, Gustavo Cruz, pontua, por exemplo, que fundos multimercados tiveram um 2022 muito bom e devem continuar interessantes em 2023, tanto no Brasil quanto no exterior.
“Indo para coisas mais arriscadas, fundos de renda variável podem ter um rendimento interessante quando começarem a cortar os juros. E também os fundos imobiliários devem ter uma movimentação interessante quando começar a ficar mais claro que estamos próximos de cortes.”
Ele observa, entretanto, que ainda há várias indefinições que podem afetar a rentabilidade dos investimentos no próximo ano. “Os dois grandes temas que precisarão ser observados serão as políticas econômicas, novo ministro, o que será mantido, o que será mudado, qual será a nova regra fiscal, que deverá ser apresentada até agosto.”
No curto prazo, a incerteza provocada pelo período de transição entre governos na esfera federal é considerada uma inimiga da renda variável. Entretanto, segundo avaliação do sócio-fundador da Pedra Azul Investimentos, Lélio Monteiro, isso não significa que é preciso desistir de investir na Bolsa de Valores, por exemplo, principalmente se o investidor trabalha com um plano de longo prazo. Isso porque, embora o mercado de ações oscile, apresenta ganhos consistentes em intervalos de múltiplos anos.
“Historicamente, o período de troca de governo é um momento complicado por não sabermos o que vai acontecer. Na esperança de que o governo tenha uma mínima responsabilidade fiscal, a tendência é que, no ano que vem, com o mercado sabendo o que vai acontecer, a bolsa suba um pouco mais do que este ano. Os títulos de inflação, de juros, estão altos. O que vai fazer todos esses ativos andarem é haver um pouco mais de certeza.”
Com a Selic em um patamar elevado, os títulos da dívida pública (Tesouro Direto), que são mais seguros, apresentam uma rentabilidade ainda maior. O mesmo ocorre com os rendimentos da categoria renda fixa e pós-fixados, que acompanham as taxas de juros. Títulos prefixados atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA, também podem ser opções interessantes.
Outros investimentos que devem continuar vantajosos são os CDBs (Certificados de Depósito Bancário), que são títulos emitidos pelos bancos para captar recursos de investidores e emprestar a pessoas ou empresas, com juros mais altos. Uma boa opção são os CDBs de bancos digitais.
Outro exemplo é a Letra de Câmbio, um título de renda fixa da mesma família do CDB e das LCIs/LCAs (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio). Contudo, em vez de ser um título emitido por bancos, é utilizado por financeiras para captar recursos no mercado e emprestar aos clientes e frequentemente paga mais que os CDBs.
Períodos de transição de governo são historicamente conturbados, e o cenário político e econômico ainda traz bastante incerteza para os investidores, o que tem refletido na cotação dos ativos de renda variável — que apresentaram tendência geral de queda nos últimos meses — e deve continuar causando oscilações neste primeiro momento.
Apesar disso, alguns analistas consideram que o Ibovespa pode chegar a ultrapassar o patamar de 130 mil pontos no próximo ano e pontuam que o Brasil está em situação menos volátil que outros mercados emergentes.
Além disso, parte relevante das empresas vive um bom momento, com baixo endividamento, caixas robustos e lucros crescentes, o que acaba sendo uma oportunidade para o investidor, que pode aproveitar o momento de preços mais baixos para adquirir ações com boas possibilidades de lucro no longo prazo.
É interessante dar preferência a empresas sólidas e de setores essenciais, cuja demanda é constante, como mineração, petróleo, alimentação e educação, segundo especialistas. Com relação a empresas de petróleo, algumas opções são Petrorio e 3R Petroleum, em razão das várias incertezas relacionadas à Petrobras no novo governo. Seguindo a mesma linha, outras sugestões são Vale (mineração), Suzano (celulose), Minerva (alimentação), Ambev (bebidas) e Ânima (educação).
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