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País precisará de obras e reformas para atrair investidor pós-coronavírus

País precisará de obras e reformas para atrair investidor pós-coronavírus

Pacote de infraestrutura com concessões e privatizações e reformas para modernizar a economia terão ainda mais necessidade para o Brasil superar rapidamente a recessão que virá, apontam especialistas

Publicado em 29 de março de 2020 às 05:03

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Obras de duplicação da BR 262 - Obras na rodovia começaram pelo trecho entre o km 49 e o km 56
Obras de duplicação de trecho da BR 262 estão paradas: setor privado tem condições de tocar investimento se o governo fizer primeiro aceno. (Divulgação | Dnit)

O governo federal precisará entrar agressivamente na economia e ter gastos elevados para amenizar os efeitos imediatos da pandemia de coronavírus na atividade econômica, segundo economistas. Já a médio e longo prazo, quando essa ação deixará de ser necessária, ainda serão exigidas ações do poder público para reaquecer a economia diante de um cenário de caos “pós-guerra”.

A ideia central, após tomar as medidas anticíclicas de curto prazo necessárias, seria estimular investimentos sobretudo do setor privado, na avaliação especialistas, criando condições para que as empresas voltem a ter confiança e também entrem nessa reconstrução da economia do país.

Isso seria fundamental para não repetirmos o erro passado, quando para enfrentar a crise de 2008 o governo lançou o Programa de Sustentação de Investimento visando a impulsionar a economia - o que era necessário a curto prazo -, mas acabou perdendo a mão e o estendeu além do necessário, mantendo a intervenção agressiva na atividade econômica por muito tempo e provocando um rápido aumento do endividamento público e o déficit fiscal.

Um dos principais métodos defendidos é a criação de um amplo pacote de infraestrutura, com privatizações, concessões e o destravamento de projetos que já tem recursos privados garantidos mas hoje estão parados por questões regulatórias, como investimentos em saneamento, que depende da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que tramita no Congresso, e a ampliação da malha ferroviária nacional, via renovação das concessões existentes, o que aguarda aval do Tribunal de Contas da União (TCU).

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O país terá a obrigação de avançar com os projetos de infraestrutura o mais rápido possível. Talvez temos que pensar em algum investimento público inicial mais para frente, mas sobretudo teremos garantir que o investimento privado retome, e isso passa pelas reformas para dar confiança e também por mudanças regulatórias específicas

Cláudio Frischtak
Sócio da Inter.B Consultoria
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Ao citar o investimento público nesse tipo de projeto, a ideia é que ele seja apenas um trampolim. Um exemplo são as concessões de rodovias, como a BR 262, em que o investimento tem potencial para ser tocado pela iniciativa privada, mas que a intervenção pública o faria ficar mais atrativo aos investidores.

Prevista para entrar em leilão ainda neste ano, a obra de duplicação da 262 exigirá um pesado investimento diante das dificuldades de traçado. Os governos do Espírito Santo e de Minas Gerais, bem como as Federações das Indústrias dos dois Estados, já têm defendido que o governo federal faça primeiro alguns investimentos iniciais no trecho, como pontes e viadutos, para que a iniciativa privada se interesse mais pelo projeto e assuma o restante da obra.

Assim, a lógica seria que a União fizesse um primeiro estímulo ainda que pequeno para atrair o setor privado, que terá confiança em fazer investimentos mais robustos que irão aquecer a cadeia de empresas fornecedoras, criar empregos e recuperar o poder de compra das famílias, fazendo a roda da economia voltar a girar.

Ilustração: Paulo Guedes, que já tinha nas mãos o abacaxi da crise não superada, agora tem um pepino enorme pela frente:
Ilustração: Paulo Guedes, que já tinha nas mãos o abacaxi da crise não superada, agora tem um pepino enorme pela frente: "de onde tirar dinheiro para enfrentar o coronavírus?". (Amarildo)

Para Gesner Oliveira, professor de Economia da FGV e sócio da GO Associados, como as medidas de curto prazo de enfrentamento ao coronavírus e apoio social já deixarão o quadro fiscal do país em um cenário mais delicado, a atração e divisão do protagonismo com o setor privado será a força motriz para reerguer a economia do país.

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A médio e longo-prazo o incentivo ao investimento privado se fará mais necessário que nunca, estimulando cada vez mais essa participação das empresas

Gesner Oliveira
Professor de Economia da FGV e sócio da GO Associados
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REFORMAS PASSAM A SER MAIS URGENTES

Em tempos de aumento do gasto público e da atividade econômica voltando a sofrer um duro baque - ainda mais duro que o anterior -, economistas reforçam que as reformas para modernizar e enxugar o Estado e dar mais confiança para o setor privado realizar investimentos terão a importância redobrada.

A PEC Emergencial e a reforma administrativa são apontadas como as mais urgentes pelo economista Gesner Oliveira, professor da FGV e sócio da GO Associados, justamente para gerar caixa ao governo em meio a tantos gastos.

“O Estado brasileiro estaria em uma situação muito mais confortável se tivesse feito o dever de casa principalmente em relação a reformas que contribuem para aumentar o espaço fiscal ou criar flexibilidade no orçamento, como exemplo a PEC Emergencial e a reforma administrativa”, afirmou.

O economista Cláudio Frischtak, da Inter.B Consultoria, também elencou a abertura de espaço no orçamento como o mais urgente. "A PEC da emergência fiscal é a primeira que teremos que aprovar porque vai custar muito dinheiro essa transferência de recursos. Será uma medida para garantir a solvência do país"

No longo prazo, Gesner lembra que “será necessária uma agenda de reformas ainda maior para modernizar a economia brasileira”, como a tributária e outras que melhorem o ambiente de negócios.

A missão, no entanto, não será nada fácil. Para além do cenário de embate político entre governo e parlamentares e de termos pela frente um ano eleitoral, as medidas emergenciais de socorro terão que ser prioridades na pauta do Congresso, segundo o economista e ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, que diz não ver espaço nesse momento para reformas complexas.

“Reforma tributária bem difícil, reforma do Estado, bem difícil. O governo terá que repensar essa tática”, declarou ao programa Roda Viva.

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