Um mês após a invasão da Ucrânia pela Rússia, consumidores já sentem no bolso o encarecimento de diversos produtos que têm seu preço cotado no mercado internacional. Em meio aos conflitos, o preço do trigo disparou, e já reflete no valor dos seus derivados.
Juntos, Rússia e Ucrânia respondem, em média, por 30% de todo o trigo comercializado no mundo e, com a guerra, o preço médio do quilo do pão francês, que tem a farinha como principal matéria-prima, saiu da casa dos R$ 17 em fevereiro na Grande Vitória para R$ 20 em março, um aumento de 18%, conforme observou o presidente do Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Estado do Espírito Santo (Sindipães), Ricardo Augusto Pinto.
O Brasil não costuma ser um comprador direto dos países em conflito, mas produz menos da metade do trigo consumido, e precisa importar grandes quantidades do grão de outros países, inclusive da Argentina, de onde vem 85% das importações brasileiras de trigo, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
A elevação do preço do cereal, até mesmo por conta da redução da oferta global, portanto, aumenta os custos de produção para os fabricantes que vendem ao ao Brasil.
“Nesse primeiro momento, já tivemos uma alta entre 25% e 30% no preço do trigo e a previsão de que chegue a 50% ou 60% de encarecimento até o final do ano. As padarias geralmente não têm um estoque muito grande do produto, então não demora muito a remarcarem. A partir do momento que compram e vem com o preço novo, já costumam repassar um pouco.”
Ele observa que nem sempre o aumento é repassado na íntegra. Quando os preços estão defasados, o panificador acaba fazendo o reajuste integral, por isso existe a sensação de que os preços simplesmente “saltaram” de uma hora para outra.
Em outros casos, quando o preço já está atualizado, o empresário consegue aplicar um percentual de reajuste menor a princípio, ainda que, futuramente, possa precisar fazer uma nova correção nos preços.
“Não vemos nada disso com bons olhos. O aumento não é algo positivo para nós. Existe um encarecimento dos custos de produção, e as empresas repassam. Mas não é bom, sempre existe o risco de haver retenção de consumo. Ficamos muito atentos a todos esses fatores”, destacou.
Além de pagar mais caro pelo pãozinho francês, outras massas, como macarrão, biscoitos, entre outros produtos que utilizam o trigo em sua produção também ficaram com preços “mais salgados”, conforme observa o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider.
“A gente teve o aumento do trigo, mas não é só desse produto, são todos, e há um impacto violento no bolso do consumidor. A gente busca com o governo uma redução da carga tributária, procuramos o custo menor possível para chegar no consumidor, mas é um problema que a gente não tem como controlar. E isso reflete nas vendas, que caem de forma substancial.”
Em relação ao trigo, especificamente, ele observa que o motivo da alta não é somente o desequilíbrio entre oferta e demanda do produto no mercado global, mas a própria logística para que chegue onde precisa estar.
“O maior impacto que estamos tendo, na verdade, é o frete. O óleo diesel está nas alturas, a logística fica cada vez mais cara. Nossa importação maior vem da Argentina, mas para esse trigo entrar no Brasil e ser redistribuído entre os Estados, dependendo de por onde entra, temos um impacto enorme. Se não chega no porto de Vitória, por exemplo, se chega em outro lugar, os gastos são ainda maiores”, explica
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