Em breve, qualquer brasileiro poderá comprar, no Brasil, ações de grandes empresas estrangeiras, como Amazon, Apple e Facebook. Antes, esses ativos eram restritos aos "investidores qualificados", ou seja, pessoas ou empresas que tinham mais de R$ 1 milhão em aplicações. Agora, ações de gigantes da tecnologia, que antes não estavam disponíveis para a maioria dos brasileiros, estarão acessíveis a qualquer um.
A mudança foi regulamentada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o setor no país. A regra começa a valer a partir de terça-feira (1º), mas a bolsa de valores brasileira (B3) informou que precisará de pelo menos um mês para adaptar seu sistema. Uma vez passado esse período, os papéis também poderão ser comercializados por bancos e corretoras de valores.
Para o especialista em renda variável da Valor Investimentos Romero Oliveira, a mudança já chegou tarde. Ele avalia que o crescimento na procura dos brasileiros pelo mercado de ações foi o gatilho.
"A grande questão é que a gente vive um momento de mudança estrutural na alocação de investimento, por conta dos juros baixos. Praticamente triplicou o número de brasileiros na bolsa desde o ano passado. Mas, quando se compara com países desenvolvidos, ainda é muito pouco, há espaço para continuar crescendo", diz.
As ações das empresas estrangeiras serão comercializadas no país sob a forma de Brazilian Depositary Receipts (BDR). É uma espécie de recibo, com valor em Real, que vai replicar a performance da empresa lá fora.
Para se ter uma ideia, o BDR da Apple é de R$ 273, enquanto o da Amazon é de R$ 9,2 mil e o da Microsoft, R$ 1,2 mil (valores de sexta-feira, 28).
As três empresas tiveram crescimento importante durante a pandemia do novo coronavírus, indo contra a retração do mercado que atingiu tantos outros setores.
Contudo, como as empresas operam em moeda estrangeira e o valor do BDR está em moeda brasileira, o investidor também fica exposto à variação do dólar frente ao real.
"Os BDRs são negociados no Brasil, porém, representam valor mobiliário negociado em outro mercado. Por isso, além das variações naturais do preço do ativo, relacionadas ao negócio, os BDRs também estão expostos à variação cambial", explica o especialista em investimentos Caio Souza.
Ou seja, a pessoa pode ganhar duplamente, perder duplamente ou uma coisa pode compensar a outra.
Ele detalha que, tirando o câmbio, os riscos de se investir em uma BDR são praticamente os mesmo de outras ações de empresas brasileiras, como liquidez e o próprio risco de mercado.
Caio aponta ainda que a mudança nas regras da CVM abrem caminho para os investimentos em ETFs (fundos de índice) e em títulos de dívida, como debêntures.
A principal vantagem desses papéis, segundo os especialistas, é a possibilidade de diversificar o portfólio em geografias diferentes, o que serve para proteger pelo menos parte dos ativos de crises no mercado brasileiro.
"O investidor brasileiro, historicamente, investe dentro do país. Quando olha para outros países como Chile e México, eles têm parte da carteira fora do país. Isso serve para se proteger contra riscos políticos e fiscais do país de origem. A gente sempre sugere nunca colocar os ovos na mesma cesta", diz Romero.
Outro ponto positivo é o acesso a empresas e mercados que ainda são muito restritos no Brasil, como é o caso para as "Big Techs" dos Estado Unidos. "A bolsa brasileira tem commodities, Petrobras, Vale, bancos, mas a área de tecnologia o Brasil não tem tão bem desenvolvida. O investidor que quer investir nessas áreas que estão em crescimento não encontra na bolsa brasileira", aponta.
Romero orienta a quem vai se aventurar pela primeira vez com ativos desse tipo que comece com pouco dinheiro, para entender como funciona o mercado. Também é recomendado escolher empresas com grande potencial de crescimento e ter uma perspectiva de mais longo prazo, entre três e cinco anos.
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