A possibilidade cada vez mais real da vitória do democrata Joe Biden na eleição presidencial dos Estados Unidos alimentou o apetite de investidores por ativos de risco nesta quarta-feira (4). No Brasil, o dólar à vista fechou com queda de 1,88%, cotado a R$ 5,653, tendo a maior baixa porcentual desde 28 de agosto, enquanto a Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, fechou com alta de 1,97%, aos 97.866,81 pontos, depois de subir mais de 2% no pregão.
Os mercados globais reagiram de forma positiva aos sinais de que a Casa Branca tende a mudar de inquilino em 2021, com a saída de cena do "America First" em interlúdio de apenas um mandato de Donald Trump e, mais do que isso, o retorno ao comando da maior economia do mundo de um político tradicional, democrata de centro que pouco se movimentou, em uma campanha eleitoral marcada por pandemia fora de controle e regressão da popularidade de quem surpreendeu em 2016 com a retórica antissistema.
Por volta das 16h desta quarta (no horário de Brasília), o órgão eleitoral do Wisconsin informou que Biden derrotou Trump no Estado por uma margem de 20,6 mil votos. O democrata também foi declarado o vencedor em Michigan, outro Estado-chave, já no início da noite, ficando muito próximo de alcançar os 270 delegados necessários. Nesse cenário, as bolsas de Nova York. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq subiram 1,34%, 2,20% e 3,85% cada.
"A falta de uma diretriz clara quanto à pandemia contribuiu para reunir em Trump três características indesejáveis aos olhos do mercado: risco, incerteza e imprevisibilidade. Biden é, de certa forma, um retorno à normalidade. Tende a elevar impostos sem os exageros de Obama, colocando mais dinheiro na mão do consumidor e induzindo uma recuperação econômica pela demanda. No longo prazo, com a retomada da economia e da arrecadação, o orçamento vai se reequilibrando", aponta Rodrigo Franchini, sócio e head de produtos na Monte Bravo Investimentos.
"Não teve onda azul, mas, salvo surpresa de última hora, parece que Biden vai ganhar mesmo: a vitória de quem jogou praticamente parado, enquanto Trump se enforcava. Sem a novidade de 2016 contra o sistema, Trump pouco conseguiu se diferenciar de Biden. É uma mudança positiva, na medida em que o republicano favoreceu o protecionismo, acirrou demais a disputa com a China e ao mesmo tempo se afastou da Europa, aliada tradicional. Biden deve reconstruir pontes, não deixando o Brasil fora", diz o gestor.
O fato de a onda azul não ter se materializado - sem que os democratas formem maioria tanto na Câmara como no Senado - é de certa forma positivo ao Brasil, na medida em que retira força da guinada ambientalista defendida pelo entorno de Biden e assumida pelo candidato democrata. "Ainda assim, não dá para desprezar a força da retórica, da liderança pela palavra, que Biden sem dúvida exercerá em matéria ambiental. Precisamos corrigir o rumo", observa Franchini.
Apesar de considerar boa a eleição de Biden, o mercado ainda tem um temor. "A disputa é acirrada, mas pairam no ar incertezas e receios de que a judicialização da eleição possa arrastar por mais tempo a sua definição", afirma o economista da Advanced Corretora de Câmbio, Alessandro Faganello.
A chance de contestação das eleições pode mudar rapidamente a euforia do mercado, alertam os estrategistas da gestora BlackRock, prevendo volatilidade nos ativos pela frente. Além da incerteza provocada pelo ida do pleito à Suprema Corte, o mercado pode voltar a questionar a viabilidade de uma pacote de estímulos, além de voltar a monitorar os casos de Covid no país, que seguem em crescimento.
Para Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, eventual confirmação da vitória democrata pode envolver também efeitos adversos. "Pensando nas BDRs de tecnologia (Apple, Google, Amazon etc) caso Biden saia vencedor, o resultado pode ter repercussão negativa", na medida em que tais empresas "podem ser prejudicadas por uma possível regulação prometida pelo novo presidente".
Com informações da Agência Estado.
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