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Petrobras reduz investimentos e deve deixar a Bacia do Espírito Santo

Petrobras reduz investimentos e deve deixar a Bacia do Espírito Santo

Empresa vai reduzir de tamanho no ES, mas sinaliza que vai continuar investindo e produzindo no litoral Sul. Campos da estatal no Norte do ES foram colocados à venda, incluindo o terminal portuário de São Mateus

Publicado em 16 de setembro de 2020 às 05:02

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Sede da Petrobras em Vitória, Espírito Santo
Sede da Petrobras em Vitória: empresa pretende reduzir de tamanho no Estado. (Vitor Jubini/Arquivo)

A maior empresa que atua no Espírito Santo vai reduzir significativamente de tamanho no Estado nos próximos anos. A Petrobras, que já vem fazendo sucessivos anúncios de vendas de ativos como campos terrestres e em águas rasas no Estado, confirmou em comunicado ao mercado que está reduzindo e revendo seus investimentos e que vai vender mais ativos, tendo uma atuação ainda mais voltada para a produção no pré-sal.

A estatal, que desde a crise da Operação Lava Jato mudou sua estratégia para conter o alto endividamento, iniciou um processo de redução das atividades. Agora, caminha para deixar de operar nos Estados do Norte e Nordeste, e, conforme os recentes anúncios de venda feitos pela empresa, concluídos e ainda em negociação, também se movimenta para deixar as operações na Bacia do Espírito Santo, porção que compreende áreas em mar (offshore) e em terra (onshore) desde a Grande Vitória até a divisa com a Bahia. A empresa pretende continuar no Estado apenas na porção capixaba da Bacia de Campos, que fica no litoral Sul. 

Esse passo quanto aos ativos no Norte do Estado vem sendo dado aos poucos e começou há pelo menos um ano. A empresa já vendeu, em outubro do ano passado, três campos em terra do Polo Lagoa Parda, na região de Linhares, para a capixaba Imetame Energia. Em agosto, o consórcio Karavan SPE Cricaré S.A. comprou 27 campos terrestres do Polo Cricaré, que ficam em São Mateus, Jaguaré, Linhares e Conceição da Barra.

Nesta semana, iniciaram as negociações para venda de blocos de exploração que foram colocados no pacote de desinvestimentos em junho. No mês passado, entrou na lista o Polo Norte Capixaba, que inclui o maior campo terrestre do Estado em produção, o de Fazenda Alegre, em Jaguaré, além da estação de tratamento, dutos e do Terminal Portuário em São Mateus.

Há ainda ofertas em aberto para venda de campos de gás (incluindo uma plataforma) e para os Polos Golfinho e de Camarupim, esses no mar, sendo o campo de Golfinho o maior produtor da Bacia do Espírito Santo. O de Camarupim está sem produzir desde 2016, quando uma explosão no navio plataforma Cidade de São Mateus deixou 9 mortos e 26 feridos.

Se todas as propostas de vendas da Petrobras no Estado forem concluídas, o que vai restar sob concessão da empresa na Bacia do Espírito Santo serão basicamente os campos e instalações que vão entrar em descomissionamento, ou seja, que por chegarem ao fim da vida útil de produção serão desativados e desmontados. Isso inclui 19 campos, 18 em terra e um no mar,  o que vai demandar da empresa investimentos de R$ 597,13 milhões até 2020, conforme já mostrou A Gazeta.

NO ESTADO, FOCO DA PETROBRAS SERÁ A REGIÃO SUL

No comunicado ao mercado enviado na noite de segunda (13), a Petrobras informou que vai reduzir investimentos para os próximos anos em todo o país, de cerca de US$ 64  bilhões nos próximos cinco anos para uma cifra entre US$ 40 bi e US$ 50 bilhões. Desse total, 71% serão apenas para investimentos em oito campos do pré-sal. Já no pós-sal serão apenas 22%, em seis campos: nenhum deles localizados no Estado, mas um administrado pela sede em Vitória, o de Roncador, que fica no norte fluminense.

Ao contrário dos Estados do Norte e Nordeste, a empresa não deve sair totalmente do Espírito Santo – ao menos por agora – uma vez que o Estado conta com poços no pré-sal. Pelo comunicado, continua nos planos da companhia investir e produzir no campo de Jubarte, localizado na região conhecida como Parque das Baleias, no Sul capixaba (na faixa litorânea entre as cidades de Presidente Kennedy e Piúma).

A empresa tem planos de instalar na região um novo navio-plataforma em 2023, o FPSO Integrado Parque das Baleias, que deve interligar 25 poços, entre novos e outros em operação, que vão produzir tanto para o novo navio plataforma quanto para outras estruturas existentes na região. O empreendimento, quando estiver operando, deve produzir 100 mil barris de óleo.

Segundo o o especialista em Exploração e Produção de Petróleo e Gás Fernando Taboada, cerca de 80% da produção de óleo e gás da Petrobras no Espírito Santo atualmente são na região do Parque das Baleias, que fica na porção capixaba da Bacia de Campos. Os outros 20% são das operações na Bacia do Espírito Santo, incluindo terra e mar.

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A empresa está reduzindo muito o tamanho dela no país para focar no polígono do pré-sal, que vai do Sul do Espírito Santo até São Paulo. Esses poços têm uma produtividade muito alta e, assim, valem mais a pena economicamente para ela. Com isso, no Estado, ela vai focar no Parque das Baleias. O que ela não quer mais é focar em projetos com retorno baixo, como é o caso dos campos de Golfinho, Camarupim e no onshore. Tudo isso deixou de ser interessante para ela. Em outros Estados, como o Rio do Grande Norte, ela vai sair de tudo. Já no Espírito Santo ela reduz, mas ainda segue

Fernando Taboada
Especialista em Exploração e Produção de Petróleo e Gás 
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IMPACTOS NO ES

Há duas análises a se fazer a partir desse movimento da Petrobras com relação ao Estado. A primeira, de perda de empregos atuais e de investimentos que a estatal poderia fazer. Segundo Taboada, só na produção em terra na região Norte capixaba a empresa tinha cerca de 1,5 mil empregados. O escritório que a estatal tinha em São Mateus para gerenciar esses campos, vale lembrar, já foi fechado no ano passado.

A outra análise, segundo os especialistas, é que ao sair ela abre caminho também para outras empresas virem atuar no Estado, também gerando empregos e até com mais disposição para fazer investimentos que resultem em ampliação de produção, conforme analisou o executivo da Findes para o Fórum Capixaba de Petróleo e Gás, Luis Claudio Montenegro.

"A mudança na estratégia de investimentos da Petrobras não significa redução de investimentos. Significa que ela sai de determinada área de atuação e abre espaço para outros investidores. Existem no mercado outros investidores com capacidade de investir até mais, em áreas que hoje não interessam à Petrobras. À medida que ela sai, abre espaço para outros que estão com até mais apetite para investir", destacou.

Data: 29/8/2007 - Vitória - ES - Plataforma de petróleo FPSO Cidade de Vitória, que vai atuar no campo de Golfinho, no Norte do Estado - Editoria: Economia - Foto: Thiago Guimarães/Secom - Jornal A Gazeta - ECONOMIA
Plataforma de petróleo FPSO Cidade de Vitória opera no Campo de Golfinho, no Norte do Estado. (Thiago Guimarães/Secom)

Taboada afirmou ainda que, para o Espírito Santo, a saída da Petrobras do onshore é um movimento positivo. "A empresa já não vinha investindo e fazendo o que devia nesses campos. O próximo comprador certamente vai investir e produzir mais, então é um ganho para o Estado e municípios. É bom para todo mundo, inclusive para ela. Nos locais onde a Petrobras já vendeu e transferiu a operação para a iniciativa privada, em cerca de quatro meses já é possível ver um crescimento da produção muito significativo".

Além de manter as operações na região Sul capixaba, o consultor empresarial Durval Vieira de Freitas, da DVF Consultoria, lembrou que a empresa faz, a partir da sede em Vitória, a gestão de 13 plataformas – incluindo algumas no Norte do Rio de Janeiro, como é o caso de Roncador. Com isso, as atividades da empresa na Capital devem ter pouca alteração.

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No curto prazo, não teremos grandes mudanças, porque temos a gestão de 13 plataformas aqui e isso não se muda rapidamente. Mas no médio prazo acredito que não devemos ter um cenário diferente no Espírito Santo do que está acontecendo em outros Estados. Hoje, a Petrobras só possui dois grandes escritórios, o do Rio e o do Espírito Santo. Então, isso pode nos afetar futuramente sim

Durval Vieira de Freitas
DVF Consultoria
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Montenegro avalia que o cenário para indústria de óleo e gás no Estado é de muitas oportunidades, com perspectiva de grandes investimentos para os próximos anos, desde que haja um ambiente adequado para atração de negócios.

"No onshore, estamos vendo a Karavan e a Imetame fazendo grandes investimentos e veremos mais leilões da Petrobras para áreas em terra. Temos a produção offshore, com algumas outras vantagens, com possibilidade de captarmos a construção de algumas plataformas no estaleiro Jurong. Temos projetos portuários importantes, qualificados para o setor de petróleo e gás, e de apoio offshore; projetos de descomissionamento de plataformas antigas e ainda oportunidades criadas pela Nova Lei do Gás, com possibilidade de construção de gasodutos e termelétricas", lembrou.

O QUE DIZ A PETROBRAS

Procurada por A Gazeta desde a segunda-feira (14), a Petrobras só enviou resposta na manhã desta quarta (16). Em nota, a empresa disse que permanece na Bacia do Espírito Santo mesmo após suas ações de desinvestimento. No entanto, não explicou até quando. A estatal citou que manterá sua estrutura para escoamento de óleo e gás e seguirá atuando na região, mas não especificou em quais ativos pretende continuar operando no Litoral Norte capixaba nem como será sua participação.

A estatal informou ainda que o foco dos desinvestimentos no Estado estão em ativos de terra e águas rasas, embora os campos de Camarupim e Golfinho, já colocados à venda, estejam em águas profundas do pós-sal. "São priorizados os ativos e projetos nos quais há maior vantagem competitiva", explicou.

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Acreditamos que com a saída destes ativos, temos a possibilidade de financiar áreas de maior retorno e, ao mesmo tempo, dão oportunidade para outras empresas investirem no potencial e, assim, extraírem mais valor dos ativos vendidos

Petrobras
Em nota para A Gazeta
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A petroleira ressaltou ainda que não fará demissões de empregados próprios nos campos vendidos. "Os empregados dos ativos em desinvestimento podem optar por transferência para unidades que demandem sua atuação. Assim como também poderão optar desligamento voluntário ou por acordo".

Em comunicado ao mercado, a estatal afirmou que o detalhamento da sua revisão de investimentos por projeto, bem como o potencial impacto na curva de produção e o cronograma de início das novas plataformas, serão anunciados no "Petrobras day 2020", previsto para o final de novembro.

Veja nota da Petrobras na íntegra

No conceito de gestão ativa de portfólio, os ativos da Petrobras são constantemente avaliados a partir de um monitoramento de variáveis externas - preço, câmbio, ambiente regulatório - e de premissas financeiras e operacionais internas. Dado o passado recente de volatilidade do Brent, temos buscado maior resiliência a preços baixos e a redução do endividamento da companhia, ainda elevado. Para tal, são priorizados os ativos e projetos nos quais há maior vantagem competitiva, sobretudo os campos em águas profundas e ultra profundas. Sendo assim, a Petrobras permanece com sua atuação na Bacia do Espírito Santo bem como mantém a sua estrutura para escoamento de óleo e gás. O foco dos desinvestimentos no estado estão em ativos de terra e águas rasas. 

 Acreditamos que com a saída destes ativos, temos a possibilidade de financiar áreas de maior retorno e, ao mesmo tempo, dão oportunidade para outras empresas investirem no potencial e, assim, extraírem mais valor dos ativos vendidos. 

 Não haverá demissões de empregados da Petrobras. Os empregados dos ativos em desinvestimento podem optar por transferência para unidades que demandem sua atuação. Assim como também poderão optar desligamento voluntário ou por acordo. Para saber mais sobre os desinvestimentos em terras e águas rasas no Espírito Santo, bem como a fase do processo em que se encontram, favor acessar: https://www.agenciapetrobras.com.br

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