Há alguns meses enfrentando dificuldades financeiras, a empresa norueguesa Seacrest Petróleo, que atua na produção de petróleo onshore (em terra) no Norte do Espírito Santo, entrou nesta semana com pedido de recuperação judicial no Tribunal de Justiça de São Paulo.
A empresa tem um total acumulado de R$ 3,3 bilhões em dívidas e pede na Justiça suspensão por 180 dias de todas as execuções, ações de restrição de patrimônio e vencimento antecipado de dívidas.
O pedido de recuperação judicial, protocolado no dia 18 de fevereiro na Justiça de São Paulo, foi o caminho escolhido pela empresa em um momento em que sofre cobrança de credores e protestos por fornecedores. Um exemplo é Houlihan Lokey Assessoria Financeira, que entrou com liminar contra a petroleira pedindo bloqueio de R$ 3 bilhões.
A Petrobras, por exemplo, tem uma fatura a ser cobrada na casa dos US$ 70 milhões (R$ 400 milhões), referentes aos pagamentos relacionados à venda de campos terrestres no Polo Cricaré e Polo Norte Capixaba.
Na última quarta-feira (19), inclusive, a Justiça acatou um recurso da estatal e derrubou uma liminar obtida pela Seacrest que impedia a Petrobras de cobrar a dívida, cujo pagamento deveria ter sido feito até 31 de dezembro.
Em janeiro, vários credores da companhia executaram dívidas e assumiram o controle da empresa, o que resultou na renúncia do CEO José Cotello, que havia assumido em maio de 2024.
"Não restou alternativa às Requerentes que não o ajuizamento do presente pedido recuperacional para, a partir de uma negociação organizada com todos os agentes envolvidos, promover a suspensão das medidas de constrição desordenadamente perpetradas por seus credores, com o intuito de garantir a continuidade de sua atividade econômica, bem como reestruturar ordenada e eficientemente seu passivo, satisfazendo o maior universo possível de interessados e, por conseguinte, manter seus campos operacionais, os postos de trabalho, a produção de bens, a geração de riquezas, e o recolhimento de tributos e royalties, atendendo, assim, à função social da atividade econômica que exercem", diz o documento entre à Justiça, ao qual a reportagem teve acesso.
Na petição entregue à Justiça, assinada pelo escritório TWK, a empresa também detalha outros motivos para a crise que enfrenta. Entre eles, está a elevação dos custos operacionais e queda do preço do petróleo, que reduziu as margens de lucro do grupo. A produção abaixo do esperado também impactou na saúde financeira do grupo.
Na lista, também está um programa de perfuração de 300 poços no Norte do Espírito Santo, ação com a qual a companhia esperava triplicar a produção até 2025, mas, no documento, o grupo afirma que a investida não deu o resultado esperado.
O Grupo Seacrest foi fundado em 2019, visando tornar-se uma empresa nacional independente de produção de petróleo e gás, especializada no redesenvolvimento de campos terrestres maduros no território brasileiro. Em 2021, adquiriu da Petrobras o Polo Cricaré, no Norte do Espírito Santo, composto por 27 campos terrestres, operação que marcou o início das operações do grupo. O Polo Norte Capixaba foi adquirido em abril de 2023 e tem quatro campos terrestres.
No último relatório de produção disponível, referente ao terceiro trimestre de 2024, a Seacrest atingiu média de 6,8 mil barris de petróleo equivalente por dia, 14% menor do que a produção do segundo trimestre de 2024 e 26% inferior à produção do terceiro trimestre de 2023.
O pedido da recuperação judicial integra todas as empresas que fazem parte do Grupo Seacrest, como Seacrest Petróleo S.A, Seacrest SPE Cricaré S.A, Seacrest Petróleo SPE Norte Capixaba LTDA, Seacrest Petróleo Cricaré Bermuda Limited e Seacrest Uruguay S.A. A companhia tem 300 empregados diretos e gera outros 1 mil empregos indiretos.
A Seacrest foi procurada, mas ainda não deu retorno. A reportagem também procurou a Petrobras, que ainda não respondeu.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta