Em um novo desdobramento do caso envolvendo a paralisação das atividades da Itapemirim Transportes Aéreos (ITA), braço aéreo do grupo Itapemirim, a Polícia Federal de São Paulo abriu um inquérito para investigar os atos da empresa, que deixou milhares de clientes no prejuízo neste fim de ano.
Segundo as informações, que foram divulgadas pela revista Veja, os investigadores buscam apurar desvios envolvendo a operação de voos que prejudicou passageiros e também os negócios com criptomoedas de Sidnei Piva de Jesus, dono do grupo.
Centenas de investidores estariam acusando o executivo de não devolver cerca de R$ 400 mil investidos nas criptomoedas CrypTour, moeda digital lançada em julho deste ano pelo grupo de transporte, e de não terem mais acesso à plataforma da Extrading, que foi retirada do ar, para pedir o resgate ou pelo menos ter acesso a informações sobre o destino do dinheiro.
De acordo com informações divulgadas na coluna Capital, do jornal O Globo, no dia 17, quando quando anunciou a suspensão das operações da ITA, deixando no prejuízo mais de 45,8 mil passageiros que tinham passagens compradas para voar na alta temporada, Piva retirou quase R$ 1 milhão do caixa do grupo Itapemirim para a companhia aérea.
Segundo a coluna, a informação, que foi divulgada no final da tarde de terça-feira (21), consta de uma petição protocolada pelo Administrador Judicial, a EXM Partners.
A Polícia Federal foi procurada para comentar as investigação, mas não se manifestou até a conclusão do texto, que será atualizado quando houver resposta.
As movimentações realizadas por Piva já vinham sendo alvo de especulação, sendo que, em meio à crise, o dono da Itapemirim expandiu a área de seus negócios e abriu, no segundo trimestre deste ano, uma empresa offshore no Reino Unido, a SS Space Capital Group UK LTD.
A informação foi divulgada pelo site Congresso em Foco e confirmada por A Gazeta. O relatório do site aponta que a companhia, com sede em Londres, na Inglaterra, teve as primeiras movimentações no fim de abril. A proposta é atuar como uma holding de serviços financeiros e fundos de investimentos.
Segundo o site OpenCorporates, consultado por A Gazeta, que mostra as companhia constituídas no exterior, principalmente em paraíso fiscal, a firma de Piva tem um capital de 785 milhões de libras, aproximadamente R$ 6 bilhões.
Ao ser questionado sobre a empresa, no dia 16 - véspera da paralisação das atividades da ITA -, a Itapemirim informou que a SS está devidamente registrada e regular em todos os órgãos competentes do Reino Unido, e que se trata de uma iniciativa particular do empresário, sem relação societária com o grupo Itapemirim.
Uma das maiores empresas de transporte rodoviário do país, a Viação Itapemirim entrou em recuperação judicial em março de 2016, junto com outras empresas que pertenciam à família de Camilo Cola. A empresa alegou ter, na época, R$ 336,49 milhões em dívidas trabalhistas e com fornecedores, além de um passivo tributário de cerca de R$ 1 bilhão.
Cerca de sete meses após a recuperação ter sido deferida pela Justiça capixaba, a família Cola vendeu o grupo para Camila Valdívia e Sidnei Piva de Jesus, empresários de São Paulo. Hoje, Piva é o presidente e controlador da empresa.
Após assumir a gestão do grupo, Piva conseguiu aprovar, em 2019, um acordo com os credores do grupo para pagamento das dívidas da Itapemirim através da realização de leilões.
As coisas pareciam melhorar até que chegou 2020. Logo no início do ano, Piva afirmou ao jornal Folha de S. Paulo que tinha conseguido um aporte de R$ 2 bilhões de um fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos para financiar o projeto de criação de uma companhia aérea.
O projeto foi visto com surpresa pelo mercado, diante das condições do grupo e também da pandemia do coronavírus, que fez os passageiros passarem longe dos aeroportos. Além disso, gerou desconfiança e revolta dos credores desde o primeiro minuto, sendo que muitos chegaram a pedir na Justiça a destituição do comando da companhia e a proibição de que recursos do grupo em recuperação judicial fossem destinados à ITA.
A Justiça manteve Piva no comando e não barrou os planos de criação da ITA que, em 2021, acabou sendo lançada com aprovação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O voo inaugural foi feito no início do segundo semestre do ano.
Já com a ITA no ar, a Justiça de São Paulo chegou a atender um pedido dos credores proibiu a Itapemirim de destinar recursos das empresas do grupo que estão em recuperação judicial - como a Viação Itapemirim - para a ITA.
Como A Gazeta mostrou, a decisão ainda nomeou um auditor, figura judicial conhecida como "watchdog" (que significa cão de guarda na tradução do inglês), que será responsável por fiscalizar toda a gestão da companhia, como entradas e saídas de recursos.
Uma das missões desse auditor seria fiscalizar de perto as relações entre o grupo em recuperação judicial desde 2016 e a ITA, que apesar de pertencer ao mesmo conglomerado, não faz parte do processo judicial. O nomeado deveria fazer um pente-fino nas transferências já feitas para a companhia aérea.
No entanto, após recorrer na Justiça, a Itapemirim conseguiu se livrar do watchdog, como mostrou a revista Veja.
Questionada, nesta quarta-feira (22), sobre as novas acusações, a Itapemirim ainda não se manifestou.
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