A vitória de Joe Biden para a presidência dos Estados Unidos é vista com entusiasmo pela indústria do Brasil e do Espírito Santo. A expectativa é de que o democrata dê mais abertura para diálogo com o setor produtivo, que foi fortemente impactado pelas medidas restritivas impostas pelo atual presidente americano relativas a importação de produtos brasileiros, com destaque para o aço.
Segundo o vice-presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Léo de Castro, é esperado que haja mais espaço para negociações, o que pode se traduzir em volumes mais robustos de exportação.
Tem uma expectativa muito grande da indústria de transformação, que é a que tem mais valor agregado, voltar a ter uma participação maior na pauta de exportação brasileira. São setores que não tinham tanta competitividade externa, como calçados, têxtil, de máquinas, plástico e siderurgia, aponta.
Ele destacou que a intenção de Biden de voltar a respeitar negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC) e retomar o acordo de Paris são sinais dessa disponibilidade de diálogo e de uma previsibilidade maior nas relações.
Nossa expectativa é de que se acalme a relação e se estabeleçam diálogos mais técnicos, mais construtivos. Claro que todos têm seus interesses, que são legítimos, mas o país que lidera o mundo não pode se afastar de instrumentos criados ao longo de décadas para buscar esse equilíbrio entre as nações, diz.
O setor de aço, que sofre desde 2018 com o acirramento das barreiras comerciais impostas pelo país americano, também conta com essa abertura.
O presidente Donald Trump implantou 25% de tarifa para a importação de produtos siderúrgicos e impôs cotas para o Brasil, Argentina e Coreia do Sul. A cota determina quanto de aço semi-acabado pode ser exportado para os EUA sem pagamento de tarifas.
Esse montante equivale a 3,5 bilhões de toneladas do produto - como as placas produzidas no Espírito Santo. Além disso, o Brasil só pode exportar 30% da cota por trimestre, sendo 10% nos últimos três meses do ano.
Os EUA não tem autossuficiência de semi-acabado para produzir e nós somos o maior exportador do produto para aquele país. Nossa expectativa é que com a nova administração, consigamos sensibilizar para retirar o Brasil dessa restrição. Se não puder retirar tudo, pelo menos aquela sobre o semi-acabado, afirma o presidente executivo do Instituto Aço Brasil, Marco Polo de Mello Lopes.
Ele lembrou que o Brasil é o maior importador de carvão metalúrgico dos Estados Unidos, comprando US$ 1 bilhão por ano. Enquanto isso, exporta cerca de US$ 2,6 bilhões em produtos siderúrgicos.
Apesar de os democratas terem a imagem de serem protecionistas, quem adotou as piores práticas foram os republicanos. Nossa expectativa é de ter boa conversa com o lado americano, disse.
Embora a produção de rochas ornamentais, outro pilar da indústria do Espírito Santo, não tenha sido afetada pelas barreiras protecionistas impostas por Trump, é esperado que a injeção prometida por Biden na infraestrutura beneficie ainda mais o setor.
Ele (Trump) criou mais barreiras mais para os nossos concorrentes, como a China, do que pro setor de rocha ornamental brasileiro. Mesmo com pandemia, registramos os mesmos números do ano passado. Houve queda em abril e maio, mas foi questão de o mercado se organizar, e voltou a todo vapor. Se continuarmos assim, vamos superar o acumulado do ano passado, aponta o presidente do Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais (Centrorochas), Frederico Robison.
O plano econômico do democrata inclui um ambicioso pacote de US$ 2 trilhões e tem como objetivo revigorar a infraestrutura do país. Com isso, é esperado que haja uma demanda maior de rochas, o que pode ampliar a presença do produto brasileiro nos Estados Unidos.
A injeção de capital na economia, setor imobiliário, construção civil americana reflete diretamente no setor de rochas do Espírito Santo, avalia Robison.
A longa e estável relação de comércio de café entre o Brasil e os Estados Unidos não deve ser abalada pela troca de comando no país, segundo a avaliação do presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV), Márcio Cândido Ferreira.
Ele afirma, contudo, que o câmbio é uma preocupação. Caso o governo Biden faça o preço da moeda americana recuar, haverá uma redução na rentabilidade da exportação do produto.
O impacto vai depender da moeda. Hoje o dólar tem um comportamento interessante, se o dólar recuar muito em função de um novo governo, onde a gente vê que as bolsas sobem e a moeda cai, vai reduzir o ímpeto que estamos tendo na exportação, afirma.
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