Um novo gasoduto ligando campos do pré-sal no Litoral Sul do Espírito Santo até Minas Gerais está na mira da iniciativa privada. Com a aprovação do novo mercado de gás e a esperada redução do preço do insumo no país, investidores já estudam a viabilidade econômica de levar o gás produzido aqui para o mercado mineiro.
A ideia é ligar o Porto Central, complexo industrial-portuário que deve ter a construção iniciada ainda neste ano em Presidente Kennedy, até a região metropolitana de Belo Horizonte em um duto de cerca de 500 quilômetros de extensão.
O projeto ainda está em fase de estudo e vem sendo tocado pelo próprio porto junto de investidores parceiros, que avaliam o potencial do empreendimento. O porto não operaria a estrutura, mas visa estruturar o projeto de modo que ele seja atrativo para terceiros, explica o diretor do Porto Central, Fabrício Cardoso Freitas.
O empreendimento aproveitaria o traçado de um projeto de mineroduto no mesmo local que chegou a ser feito no passado pela Ferrous Resources (comprada pela Vale) mas que não foi para a frente. Ainda não há estimativa do investimento necessário para o projeto.
"É um projeto em fase de estruturação que surgiu da oportunidade que foi o abandono pela Ferrous do projeto do mineroduto, que já tinha encaminhado o processo burocrático, e não quisemos deixar perder isso. Então, nós do Porto Central em parceira com investidores estamos tentando essa solução", comenta Fabrício.
Conforme A Gazeta já mostrou, esse gasoduto de transporte consta na carteira de projetos do Plano Espírito Santo/Minas Gerais, firmado neste ano entre as Federações da Indústrias dos dois Estados e os governos locais. O plano prevê ainda uma unidade de tratamento de gás no Sul capixaba.
Os projetos se conectam a chamada Rota 6, que consta em estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e consiste na construção de um gasoduto marítimo para escoar a produção de gás dos campos do pré-sal do Litoral Sul Capixaba e do Norte Fluminense, já visando o aumento da produção nos próximos anos. Uma das possibilidades é que esse duto marítimo chegue ao Porto Central, o que demandaria quase R$ 2 bilhões em investimentos.
Esse escoamento até o futuro porto viabilizaria a construção de Unidade de Processamento de Gás Natural (UPGN) no local, tratando o gás, e também o gasoduto para levar o insumo até o Estado vizinho, explicou Fabrício:
Em fevereiro, durante o lançamento do Plano Espírito Santo/Minas Gerais, o presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, ressaltou que seu Estado consome de gás a mesma quantidade do Espírito Santo, mesmo sendo um Estado cinco vezes maior.
Isso se deve, sobretudo, pela falta de gasodutos que levem o insumo para o Estado vizinho, uma vez que os mineiros não produzem nem petróleo nem gás natural. Com isso, a rede de distribuição de gás em Minas é limitada quase que exclusivamente à região da Grande BH.
Fabrício disse que, apesar do interesse de empresas, o projeto ainda está em fase embrionária, para só depois ser feito o licenciamento.
"Os investidores estão de olho e precisando de um projeto assim, mas eles querem tirar a burocracia da frente, como o licenciamento. Então esse dever de casa a gente está fazendo porque, apesar do interesse, as empresas vão investir onde estiver mais fácil".
Minas e Espírito Santo esperam atrair quase R$ 9 bilhões em investimentos com projetos relacionados ao gás a partir da redução do preço da molécula que deve acontecer com a abertura do setor, uma promessa do governo federal que consta no chamado novo mercado de gás.
O principal entrave para os primeiros investimentos saírem do papel é demora para cair o preço da molécula do gás, o que inviabiliza grandes investimentos. É só a partir da efetivação "choque de energia barata", como prometia o ministro da Economia, Paulo Guedes, que os investimentos devem tomar forma.
No meio de todo esse clima de otimismo, porém, apareceu a pandemia do coronavírus, que tem afetado a demanda global por energia e provocado queda na produção de petróleo e gás. Para Fabrício, apesar do momento desafiador, esses projetos continuariam tendo viabilidade, pois são de longo prazo.
"Se formos olhar, esses não são investimentos de curto prazo. É sempre algo olhando lá frente, de longo prazo. As petroleiras já fizeram investimentos nos últimos anos e agora precisam continuar produzindo e encontrar formas de monetizar isso", argumenta.
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