A alta do preço do materiais de construção tem afetado reformas, levado ao encarecimento de imóveis vendidos na planta e tem até colocado um freio nas construtoras, que estão reduzindo o ritmo de lançamentos, apesar da demanda aquecida por novos imóveis.
O preço de materiais e equipamentos de construção acumula alta recorde de 32,92% no período de 12 meses encerrado em junho, de acordo com Índice Nacional de Custo da Construção – Disponibilidade Interna (INCC-DI), apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Já o INCC-DI completo, incluindo também preços de mão de obra e de serviços, registra uma alta de 17,34% no período – muito além da inflação oficial (8,35%).
Os itens cujos preços mais subiram nos últimos 12 meses no país foram tubos e conexões de ferro e aço (91,66%); vergalhões e arames de aço ao carbono (78,35%); condutores elétricos (76,19%); tubos e conexões de PVC (64,91%); eletroduto de PVC (52,06%); esquadrias de alumínio (35,21%); tijolo/telha cerâmica (33,82%); compensados (30,47%); cimento portland comum (27,62%) e produtos de fibrocimento (26,96%).
Na Grande Vitória, materiais para construção e reparos, cujos preços são medidos pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumulam alta média de 11,63% em 12 meses. O item que mais encareceu no período foi o tijolo, com aumento de 27,95%. O segundo maior acréscimo está ligado aos revestimentos de piso e parede, que subiram 25,37%.
Também ficou mais caro comprar cimento (9,32%) e tinta (9,08%). Por outro lado, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os gastos com mão de obra ficaram praticamente estáveis, com redução de 0,52% no período.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Espírito Santo (Sinduscon-ES), Paulo Baraona, afirma que o encarecimento dos materiais tem pesado tanto no bolso do consumidor, que adquire os produtos para pequenas obras e reformas, quanto no das construtoras, que, em alguns casos, precisam absorver parte desses aumentos, em função de questões contratuais.
Com isso, o crescimento do setor projetado para este ano tem ocorrido em ritmo mais lento do que inicialmente previsto. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), que chegou a prever um crescimento de 4% para a indústria da construção em 2021, reduziu a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB – soma de toda a riqueza produzida) do setor, que passou a 2,5%.
“Houve um aumento muito grande de preços nos últimos meses. Temos a questão da pandemia, que tem sido um momento delicado para aquisição de certos produtos, e tudo foi agravado pela valorização das commodities, que coincidiu com a alta do dólar. O crescimento que esperávamos foi muito prejudicado.”
Baraona observa que aço, fios de cobre e materiais elétricos, cuja variação de preços não é mostrada pelo IPCA regional, estão entre os itens que mais encareceram. Em alguns casos, os custos são repassados aos compradores de imóveis, mas há situações em que questões contratuais impedem o reajuste de acordo com a inflação.
É o caso das obras públicas, por exemplo, que, geralmente, só permitem reajustes após determinado intervalo de tempo.
Quem comprou imóvel na planta também é afetado pela alta de preços. O Custo Unitário Básico (CUB), indexador dos contratos de financiamento junto a construtoras, acumulou, em junho, alta de 1,37% ante maio, dando sequência ao histórico de resultados positivos dos meses anteriores.
Com isso, o preço de construção por metro quadrado no Estado já alcança R$ 2.046,89. Em junho do ano passado, o custo era de R$ 1.728,69. O CUB reflete o ritmo dos preços de materiais de construção da mão de obra no setor, equipamentos e despesas administrativas.
“Quando vendem o imóvel na planta, o índice de reajuste geralmente utilizado é o CUB, mas ele tem limitado um pouco a adequação de preços. O aumento de gastos com materiais de construção não tem sido inteiramente repassado, as empresas têm absorvido parte disso e têm reduzido seu lucro”, informou o presidente do Sinduscon-ES.
O ponto é reafirmado pelo presidente da Associação Empresas do Mercado Imobiliário do Espírito Santo (Ademi-ES), Sandro Carlesso, que observa que a inflação geral é muitas vezes inferior aos reajustes da maiorias dos produtos utilizados nas obras. Ele frisa que, diante deste cenário, muitas construtoras têm segurado lançamentos, a despeito da alta demanda.
Por um lado, ele observa que isso pode elevar ainda mais o preço dos imóveis, mas pondera que é uma forma que as empresas encontraram para não serem tão prejudicadas pelo encarecimento dos insumos.
“As companhias seguram os lançamentos para ver a viabilidade desses empreendimentos em função dos aumentos que ocorreram. Já estamos em um momento de pouca oferta, que permanecerá por algum tempo, em função desses adiamentos. Há um desequilíbrio entre oferta e procura, mas os preços estão muito elevados.”
Carlesso observa, entretanto, que essa alta pode não perdurar por muito tempo. Nesta época do ano passado, por exemplo, os preços estavam mais controlados e a expectativa é de que seja uma situação cíclica, que permita que, mesmo com algum atraso, o setor continue a avançar.
*Com informações da Agência Estado
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