Desde o ano passado, quem vai ao açougue tem percebido que o preço da carne de boi está numa disparada contínua. Essa alta fez alguns cortes bovinos virarem item de luxo na hora das compras e, para fugir desse aumento, muitos consumidores passaram a recorrer a proteínas mais baratas como a carne de porco, de frango e o ovo. O problema é que agora o preço desses produtos também está subindo e, para agravar a situação, o poder de compra das famílias tem caído em função da pandemia da Covid-19.
Trata-se de um aumento que já vem sendo sentido pelos compradores, justamente em função dos preços altos da carne de boi, mas que para os consumidores ainda está só começando a aparecer e deve se intensificar.
O Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) faz o levantamento mensal dos preços recebidos pelos produtores na hora da venda para os compradores, que são supermercados, açougues, restaurantes, hortifrútis e etc. De maio de 2020 até o mesmo período deste ano, o frango acumulou um aumento de 43,7% nos preços, já a carne de porco disparou 39,2%. O preço do ovo também avançou, subindo 11,9%.
Esses aumentos não representam o custo final que é repassado nas prateleiras, mas de acordo com o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), Hélio Schneider, os consumidores já podem se preparar para sentir esse aumento no bolso em breve.
Na Grande Vitória, a inflação de abril apontava para uma alta de 23,4% sobre a carne de porco nos últimos 12 meses, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O frango inteiro teve um aumento no preço de 13%, já o frango em pedaços de 11,8%. O ovo de galinha subiu 10%.
Nos supermercados essa diferença começa a ser notada. A Gazeta fez um levantamento dos preços em algumas das principais redes do Espírito Santo. Em uma delas, o quilo do peito de frango na bandeja está saindo por R$ 13,99, sendo que em março o mesmo produto custava R$ 11,99. Para as carnes suínas e os ovos, a situação não é diferente.
Segundo o superintendente da Acaps, para os supermercados esse aumento também não é bom. “O consumidor perde o seu poder de compra e para o supermercado as vendas ficam mais restritas e o rendimento diminui. Então, todos perdem com isso.”
A alta no preço da carne bovina é apontado como um dos principais fatores para os preços das outras proteínas também dispararem. Na Capital, o quilo da picanha chega a R$ 83,98. O patinho é vendido por até R$ 41,90 o quilo.
No caso dos cortes bovinos, a valorização do dólar frente ao real fez os frigoríficos passarem a preferir vender o produto para fora do país, aumentando a margem de lucro, o que, consequentemente, acaba diminuindo a oferta para o mercado interno.
Para fugir desses preços altos da carne de boi, os consumidores optam por proteínas mais baratas como o frango e a carne de porco. E a rápida aceleração da demanda por esses produtos faz com que os preços deles também se elevem.
“É a lei de oferta e procura, as pessoas consomem mais esses alimentos, mas a indústria continua no mesmo ritmo. Então, existe uma oferta menor do que o necessário, o que aumenta os preços", aponta Schneider.
Além da carne bovina, outro fator que justifica esses preços altos são os custos de produção maiores. De acordo com o diretor-executivo das Associações de Avicultores e de Suinocultores do Espírito Santo (Aves e Ases), Nélio Handi, o aumento no custo dos insumos também tem contribuído para a alta no preço do frango e do ovo.
“Há uma tentativa de reposição dos custos, que estão muito altos. Só para se ter uma ideia, o milho, que é um dos principais ingredientes na produção animal e que junto com a soja corresponde a 70% do custo da produção, neste mesmo período no ano passado estava com o valor de R$ 49,50. Hoje o produtor não consegue comprar a menos de R$ 107; o que representa uma elevação de 116%. Já o farelo, que neste mesmo período de 2020 estava com o valor em torno de R$ 1.400 e R$ 1.440, hoje é comprado pelo produtor com o valor entre de R$ 2.780 e R$ 2.800, ou seja, uma elevação entre 93% e 95%”, explica.
Para não ficar no negativo, o produtor rural precisa aumentar o preço do frango na hora de vender. Por consequência, se o supermercado paga mais caro pelo produto, o aumento também é repassado também para o consumidor.
A questão é que a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus vem reduzindo o poder de compra dos brasileiros. Por isso, segundo Handi, os produtores estão com dificuldades para repassar todos os seus custos ao consumidor.
Ele afirma que desde o ano passado a associação, junto com entidades de outros Estados e a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), vem procurando alternativas para essa situação.
Uma das propostas feita ao governo federal foi a suspensão temporária da cobrança do PIS e Cofins sobre as importações de insumos de outros países. Handi afirma que se medidas não forem tomadas os preços devem seguir altos.
“Na minha opinião, podemos ter uma estabilização dos preços em um determinado momento, mas não acredito que vamos ter um recuo desses preços. Quando falo de estabilização dos preços, é preciso que ocorram algumas medidas que o setor nacional vem buscando junto às autoridades e a área política, para que nós possamos amenizar essa situação”, pontua.
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