Para além da gasolina e do diesel, o aumento nos preços dos derivados de petróleo tem afetado em cheio também o gás de cozinha. Com as altas recentes praticadas pela Petrobras, no Espírito Santo uma botija já chega a custar R$ 125, de acordo com o levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Diante desse cenário, revendedoras de gás têm parcelado a compra do botijão no cartão de crédito em até três vezes, porém com juros. Essa foi uma alternativa criada para continuar atendendo os consumidores que estão com o orçamento doméstico cada vez mais apertado.
Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon) Ricardo Paixão, essa facilidade, no entanto, precisa ser vista com cuidado.
"A medida de parcelar o gás de cozinha tem o intuito de ajudar as famílias que têm o orçamento apertado. Porém, ela tem um efeito colateral de provocar o endividamento dessas famílias no médio prazo já que geralmente o gás dura de 30 a 40 dias. Então, a compra do gás à vista é mais aconselhada", destaca.
O economista Fabrício Nunes frisa ainda que qualquer recurso que o cidadão faça utilizando cartão de crédito deve-se ter cuidado, pois ao mesmo tempo que a alternativa ajude por ter prazos para pagar, o acúmulo de parcelas e dívidas que o consumidor faz pode acarretar em um problema maior lá na frente, que é a capacidade de pagar o montante que foi parcelado no cartão de crédito.
“A estratégia é negociar o preço à vista. Mas quando não se tem condições e tem que parcelar é importante que a pessoa faça uma programação”, alerta Nunes, que ainda dá um exemplo de como o parcelamento pode não ser tão vantajoso para o consumidor.
Ele explica que se o consumidor usar uma botija de gás dentro de um prazo de dois meses, o parcelamento de duas vezes compensa, pois o cliente vai estar pagando o consumo que vai estar usando em um mês.
Agora quem faz o uso de uma botija em um mês e opta um parcelamento maior, acaba se enrolando pois, no próximo mês que o consumidor for parcelar novamente, ele estará pagando por uma botija cheia. "Se sempre jogar duas parcelas para frente, vai acontecer um momento que você vai estar pagando com juros o valor de uma botija. Nesse caso, não tem vantagem o parcelamento".
Para o botijão chegar ao valor que está sendo vendido, a Petrobras define o preço que é vendido na refinaria, e na sequência o mercado acrescenta os custos de distribuição. margens de comercialização e tributos. No caso do gás, a carga tributária é menor. Porém, a concorrência na ponta do consumo é que dita o preço final.
De acordo com Cleber Almeida, vice-presidente do Sindicato das Revendas de Gás do Espírito Santo, dentro do do valor do botijão de gás estão inseridas ainda despesas do fornecedor com funcionários, a marca da botija e a região de entrega.
Entre os municípios pesquisados, Guarapari e Linhares são os que mais tiveram aumento no valor da botija de gás, sendo que nesta última foi encontrado o botijão mais caro do Estado. Já os mais baratos estão em Colatina e São Mateus.
Segundo o economista Orlando Caliman, o impacto dos reajustes é ainda mais pesado de acordo com o perfil do consumidor. Para ele, o aumento do preço do gás vai impactar principalmente o consumidor que utiliza o gás no dia a dia, como a dona de casa e as famílias mais carentes.
“Como a maioria dos brasileiros tem renda baixa e o gás é um produto indispensável no dia a dia, o impacto é relativamente grande. Exige das famílias uma revisão nos seus já seletos e comprimidos gastos. Gás é um elemento essencial na alimentação. Naturalmente outros gastos são sacrificados para manter o que é essencial”, explica.
Caliman ressalta que no atual momento em que estamos vivendo, com a Guerra na Ucrânia, é improvável que o aumento do gás de cozinha seja contido. Para ele, sem a guerra o preço estaria bem mais baixo.
“A guerra que vai ditar o tempo do preço alto do gás. Se acabar logo, o preço cai. Da mesma forma que os combustíveis. Ou seja, o calendário dos preços está atrelado à guerra. Mas eu diria que o Brasil sempre se mostrou desprecavido em relação ao setor de energia, onde se inclui o gás. Mesmo dispondo de gás necessário para o seu suprimento interno o país tem que importar. Importa cerca de 27% da sua demanda, seja para as termoelétricas, seja para outros usos. Isso o faz refém dos preços internacionais”.
No Brasil, por norma do mercado, definida pela Petrobras, os preços de combustíveis derivados do petróleo, incluindo o gás de cozinha, são determinados pelo mercado internacional e atrelados ao dólar. Se o preço sobe lá fora, o valor também é alterado aqui no Brasil. Da mesma forma, se o dólar sobe, afeta o preço em real aqui.
Com os altos preços lá fora, principalmente por conta da guerra, que praticamente cortou o fornecimento pela Rússia para o resto do mundo - sendo o país o terceiro produtor mundial de petróleo e gás -, caiu a quantidade ofertada no mercado internacional, fazendo o preço aumentar.
“O Brasil poderia estar numa situação melhor, tanto em relação aos combustíveis automotivos quanto para o gás, se tivesse investido adequadamente e trabalhado uma política de preços mais interna e menos atrelada ao mercado externo. Mesmo tirando o fator guerra, o Brasil poderia estar praticando preços bem menores, inclusive em períodos de estabilidade: tem gás e petróleo mais que suficiente para nossa autossuficiência. Peca na deficiência de infraestrutura de refino, processamento e distribuição”, ressalta o economista.
No dia 11 de março, em comunicado, a Petrobras anunciou o reajuste de preços de venda de gasolina e diesel para as distribuidoras. Isso após quase dois meses sem sofrer alterações nas refinarias. O preço médio de venda da gasolina para as distribuidoras passou de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro. Já o preço do diesel passou de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro.
Para o GLP, que é o gás de cozinha, o preço médio de venda da Petrobras para as refinarias passou de R$ 3,86 para R$ 4,48 por kg.
* Com informações de Vinícius Brandão
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