A escalada meteórica do preço dos imóveis em Vitória tem desencorajado a chegada de novos moradores e afastado até quem mora na capital do Espírito Santo há décadas.
Atualmente, a cidade ostenta o título de segundo metro quadrado mais caro entre as capitais brasileiras, custando R$ 10.092, ficando atrás apenas de São Paulo (R$ 10.129). O preço das casas e apartamentos no município cresceu em média 20% nos últimos 12 meses, segundo o levantamento Fipe-Zap, mas, em alguns bairros, o aumento foi mais expressivo: na Enseada do Suá, passou de 60%; na Mata da Praia, de 30%.
Como A Gazeta já explicou, quando o preço dos imóveis sobe, aumenta também o custo de vida: sobe o preço dos restaurantes, padarias, supermercados, escolas, salão de beleza, farmácia, entre outros. Por isso, até quem já mora na Capital há anos cogita sair daqui.
É o caso da veterinária Joana Tebaldi, que não só pensou, mas já trocou de endereço. Ela morou durante mais de 20 anos em Vitória, mas desde agosto deste ano se mudou para Vila Velha.
“Me mudei por conta do custo de vida mesmo. O valor do condomínio, a alimentação — até no iFood a comida é mais barata —, a farmácia, tudo tem diferença de preço”, relata.
Ela vendeu o apartamento que tinha em Jardim Camburi e percebeu que, com o mesmo valor, não conseguia achar um imóvel em Vitória. Mas foi só cruzar a Terceira Ponte que encontrou o que procurava.
“Se eu quisesse comprar em um prédio com área de lazer (em Vitória), estava muito mais caro. Pelo mesmo preço que eu vendi em Jardim Camburi, eu comprei em Vila Velha (Praia de Itaparica) já todo mobiliado, com ar condicionado e com área de lazer completa. E o condomínio é quase metade do preço que eu pagava”, conta ela, que vive com o filho e duas cachorras.
Segundo o levantamento da Fipe, o metro quadrado em Vila Velha é, em média, R$ 3 mil mais barato do que em Vitória, uma diferença de 30%. Contudo, a trajetória de alta dos preços vista na Capital também se repetiu do outro lado da ponte. Em Vila Velha, os imóveis tiveram alta de 25% nos últimos 12 meses.
Como a valorização em Vila Velha é mais expressiva que em Vitória, caso continue na mesma tendência, os dois podem acabar se aproximando no preço em breve.
Além de afastar quem já estava por aqui, a alta no preço dos imóveis inviabiliza a chegada de novos moradores. A mineira Neudiane Louback, 39 anos, morava em São José dos Campos, em São Paulo, até que o marido foi transferido para Vitória.
Ela e a família, incluindo duas crianças pequenas, alugaram um apartamento durante os dois anos de pandemia. Porém, o espaço extra fez falta e eles começaram a procurar uma casa para comprar.
“Eu tinha interesse em morar em Vitória porque a igreja que eu frequento com a minha família é na Mata da Praia. Em Vitória, se formos olhar, tem condomínios de casas que são muito bons, mas o valor é muito alto”, disse.
Assim, ela ampliou as buscas e acabou encontrando o que buscava na Serra. A casa, em condomínio fechado, era maior, o condomínio, mais bem equipado, e o preço, bem mais baixo.
“Na Serra, eu comprei bem mais barato e a qualidade é muito maior. Se olhar a qualidade, tem locais melhores, mais bem estruturados, em cima do que eu poderia pagar e que me atenderia. Hoje, morando na Serra, a qualidade de onde eu moro é muito melhor do que se eu morasse em Vitória”, aponta.
A Fipe não levanta dados sobre imóveis na Serra.
Especialistas ouvidos por A Gazeta concordam que a valorização dos imóveis em Vitória tem a ver com alguns fatores fundamentais. O principal deles é o fato de a cidade ter pouquíssimo espaço livre para construir. Por ser uma ilha, há poucas áreas atualmente disponíveis para que sejam erguidos novos imóveis. Dessa forma, como o preço do "chão" é alto, as construtoras cobram caro quando vendem os apartamentos.
Há também o fato de Vitória ser uma cidade bem servida de infraestrutura, como rede de esgoto, pontos de ônibus, limpeza urbana e equipamentos públicos (escolas, praças, posto de saúde, etc). Principalmente quando comparada aos municípios do entorno. É também na Capital que ficam muitas das sedes das empresas, o que atrai quem pode se dar ao luxo de morar perto do trabalho.
O lado negativo dessa conta é que, como o custo de vida aumenta junto com o preço dos imóveis, pessoas mais pobres ficam impossibilitadas de morar em Vitória. Elas acabam tendo que se mudar para locais mais baratos e que, frequentemente, têm menos infraestrutura.
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