A pandemia do coronavírus teve efeitos notáveis no aumento do preço de alguns produtos. Além do arroz e da cerveja, que sofreram fortes altas nos últimos meses, o preço do material de construção também subiu. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), itens como tintas e revestimentos cerâmicos acumularam alta de 6% entre janeiro e julho deste ano. No mesmo período, o preço do tijolo cresceu 10%. Os dados são referentes à região metropolitana da Grande Vitória.
Com o aumento da demanda, provocado pelas pequenas reformas em casa, as lojas que comercializam esses produtos faturaram alto. Em junho, as vendas subiram mais de 91% em relação ao mesmo mês do ano anterior. Em julho, esse crescimento foi de 36%.
Do outro lado, a indústria da construção civil foi afetada negativamente. As empresas do setor viram subir os preços de várias insumos básicos como cimento e ferro (utilizado nos vergalhões) e estimam que essa alta pode prejudicar não só os empreendimentos imobiliários privados, mas também impactar o custo de obras públicas.
"Os aumentos têm sido surpreendentes e a consequência disso é muito ruim. Provoca um desequilíbrio nos contratos de obras públicas, nos contratos industriais, nos lançamentos imobiliários que estão previstos para acontecer e nos que já estão em andamento. Em um momento em que é preciso gerar emprego, renda e fazer girar a economia, isso é um perigo" avalia o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo (Sinduscon), Paulo Baraona.
Ele afirma que falta material no mercado, o que, junto com a alta demanda, tem forçado os preços para cima. Essa escassez, segundo Baraona, é provocada por um desaquecimento na produção de insumos com o cimento e o aço, que começou antes da pandemia, mas que se intensificou desde então.
"Agora que o setor produtivo está voltando a se movimentar, as indústrias estão com a produtividade muito abaixo daquilo que podem ter. Obviamente, o que é fabricado acaba ficando muito abaixo do consumo. Isso faz com que empresas aumentem os custos", diz.
O Sindicato nacional do setor entregou na semana passada ao governo federal um documento pedindo que sejam tomadas providências para evitar abusos no aumento de preços de material de construção durante a pandemia. Eles afirmam que foi criado um "desequilíbrio artificial" por parte dos fornecedores para pressionar o preço.
Se no caso da indústria, a alta dos materiais de construção foi consequência de uma baixa produção industrial, no caso das pessoas físicas, soma-se a isso o aumento da demanda por pequenas reformas.
Durante a pandemia, muitos brasileiros aproveitaram que estavam passando mais tempo em casa para resolver problemas de manutenção que se arrastavam descarga quebrada, parede descascando, piso rachado e também para investir em autoconstruções, como fazer um novo cômodo ou trocar o telhado.
"Foram pequenas compras, a maioria por pessoa física, mas o volume de pessoas nas lojas cresceu muito em junho e julho, principalmente. Isso pegou a gente de surpresa. Fomos aos fornecedores para repor (os produtos) e eles não tinham. Começou a faltar e, quando a oferta é pouca e a demanda é grande, o preço sobre naturalmente", conta o presidente da Associação dos Comerciantes de Material de Construção do Espírito Santo (Acomac-ES), Lesio Contarini Junior.
Os benefícios como auxílio emergencial e o saque-emergencial do FGTS também contribuíram para essa corrida às lojas de material de construção. Além disso, vale lembrar que o setor foi um dos primeiro beneficiados pela reabertura do comércio no Estado.
Junior afirma que, mesmo com a alta dos preços, a demanda não caiu e agosto também foi um mês de faturamento alto para o setor. Desde então, ele conta que a demanda das pessoas físicas vem sendo substituída pela das pequenas empresas de reformas. "As pessoas já estão mais seguras de terem um pedreiro ou marceneiro em casa, fora as reformas de condomínio. Com isso, um saco de cimento, que era R$ 19, foi para R$ 25", afirma.
Segundo levantamento de preços feito pela empresa UAU Globaltec e fornecido pela Acomac-ES, em comparação com agosto do ano passado, alguns materiais tiveram aumento de mais de 50%. É o caso do tijolo (54%) e do cabo de cobre (56%), esse último utilizado em reformas da parte elétrica.
Além disso, o piso cerâmico, o aço e o tubo de PVC tiveram incremento de mais de 30% nos preços.
O representante do setor acredita que os preços devem cair mais para o fim do ano, quando a produção aumentar e houver o fim dos benefícios emergenciais. Nesse caso, é esperado que a oferta aumente e a demanda caia.
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