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Prepare o bolso! Pior seca em 91 anos vai encarecer conta de energia

Prepare o bolso! Pior seca em 91 anos vai encarecer conta de energia

Entidade ligada ao governo federal autorizou o acionamento das usinas termelétricas para driblar situação e evitar racionamento de energia no país

Publicado em 13 de maio de 2021 às 14:32

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Aneel define bandeira amarela nas contas de energia de julho
Aneel definiu bandeira vermelha 1 nas contas de energia de maio; nível 2 pode ser aplicado nos próximos meses. (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O país enfrenta hoje a maior crise hidrológica dos últimos 91 anos, segundo avaliação do Ministério de Minas e Energia (MME). Os reservatórios das hidrelétricas terminaram o período de chuvas em níveis baixíssimos. Diante da situação crítica, especialistas alertam para a necessidade de adotar medidas extraordinárias, que devem tornar a conta de energia ainda mais cara. E uma das possibilidades é a bandeira tarifária fique em nível vermelho até o final do ano.

Prepare o bolso! Pior seca em 91 anos vai encarecer conta de energia

Esse sistema é usado para indicar, nas mesmas cores do semáforo, se as condições de energia estão favoráveis para a geração (verde); se há uma produção moderada (amarelo); se há um custo maior (vermelha 1); ou se o patamar de geração está ainda mais caro (vermelha 2).

O peso da conta de energia deve ficar ainda pior por conta dos reajustes que são aplicados pelas operadoras todo o ano e que também levam em consideração o avanço nos gastos para transmissão da eletricidade.

ENTENDA AS BANDEIRAS TARIFÁRIAS

Verde: significa que há boas condições na geração de energia elétrica. Por causa disso, não existe cobrança extra na tarifa.

♦ Amarela: aponta um sinal de alerta na geração de energia, e há um adicional de R$ 1,34 para cada 100 kWh consumidos

♦ ,Vermelha: indica condições ruins de geração de energia elétrica, o que implica em tarifas mais caras. São dois patamares, que variam conforme o risco. No patamar 1, são acrescentados R$ 4,17 para cada 100 kWh consumidos. No patamar 2, o custo adicional é de R$ 6,24 para cada 100 kWh.

Entre setembro do ano passado a abril de 2021, o Brasil registrou o menor volume histórico de água nas represas das usinas hidrelétricas, responsáveis pela maior parte da energia gerada no país, ainda segundo dados do MME.  O baixo volume de água está, principalmente nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por grande parte da capacidade de armazenamento de água em território brasileiro.

O cenário de estiagem está em boa parte do país, embora nos últimos o Espírito Santo tenha tido momentos de chuva, o que não é suficiente para atender ao sistema elétrico, que é interligado.

Na semana passada, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) autorizou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a utilizar todos os recursos disponíveis para poupar água nos reservatórios das hidrelétricas, "sem limitação nos montantes e preços associados".

A entidade, ligada ao governo federal, autorizou o acionamento das usinas termelétricas e também a importação de energia da Argentina e do Uruguai e a importação de gás natural da Bolívia, de modo a driblar a seca e evitar racionamento de energia.

No Palácio do Planalto, é crescente a preocupação com o problema, que surge em meio à crise sanitária já enfrentada pelo país. Nesta segunda-feira (10), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chegou a dizer a apoiadores que a situação vai dar "dor de cabeça".

"Só avisando, a maior crise que se tem notícia hoje. Demos mais um azar, né? E a chuva geralmente (cai) até março, agora já está na fase que não tem chuva."

O ponto foi reforçado pelo presidente da Associação Brasileira de Companhias de Energia (ABCE), Alexei Vivan, que explica que o período em que usualmente ocorrem os maiores níveis de precipitação não atendeu às expectativas, e muitos reservatórios, que já operavam com capacidade abaixo do ideal, devem enfrentar problemas mais sérios nos próximos meses, quando há menor incidência de chuva.

“E não há muitas saídas no momento. A solução adotada é a mesma que vem sendo adotada desde 2002, que é a utilização das térmicas. Mas tanto a falta de água nos reservatórios, quanto a adoção dessas medidas excepcionais implicam em aumento de custos para o consumidor, porque embora seja uma solução para o problema, a geração de energia termelétrica gera despesas mais elevadas do que a geração hidrelétrica.”

Como o custo de produção de energia encarece, o aumento acaba sendo diluído na conta de energia enviada ao consumidor. Desde 2015, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) antecipa parte dos custos das térmicas por meio da cobrança mensal de bandeiras tarifárias sobre a conta de luz.

São três cores de bandeiras, que indicam se a energia custará mais ou menos em função das condições de geração. Na bandeira verde, não há custos adicionais. Na bandeira amarela, há um adicional de R$ 1,34 para cada 100 kWh consumidos. Além dessas, existe a bandeira vermelha, que tem dois patamares.

Antecipando a previsão de novas baixas no sistema Sudeste/Centro-Oeste, principalmente, a agência acionou já no início deste mês a bandeira vermelha nível 1, que acrescenta R$ 4,17 para cada 100 kWh consumidos.

“Acredito que há boas chances de permaneceremos na tarifa vermelha pelo resto do ano. Passamos pelo período normalmente úmido, com baixos níveis de chuva, e agora entra o período em que a precipitação é menor, o que aumenta a dependência das térmica”, frisa Vivan.

Especialistas consideram ainda que há grandes chances de, nos próximos meses, a agência passar ao nível 2 da bandeira, elevando o custo adicional a R$ 6,24 para cada 100 kWh consumidos. O professor da unidade de Engenharia da Faesa, Leonardo Ribas, explica que não apenas a utilização das térmicas, mas também tipo de combustível utilizado pelas usinas afeta os preços.

“Se o nível de água dos reservatórios continuar baixo, podemos ir para o patamar dois da bandeira vermelha. Isso ocorre porque, mesmo quando é preciso acionar as térmicas, busca-se uma operação econômica, tentando utilizar as alternativas com combustíveis mais baratos. Mas nem sempre é o bastante e quando as termelétricas a diesel são ligadas, os preços tendem a subir ainda mais, então para o consumidor, que já lida diariamente com uma situação de crise, o prejuízo é ainda maior.”

O professor da área de Eletrotécnica do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) - Campus São Mateus, Adriano Nardoto, observa que a utilização das térmicas vem sendo adotada pelo país como saída padrão ao desabastecimento desde 2002, quando o país passou por uma série de apagões que levaram ao racionamento de energia.

A medida, embora eficaz, tem maior impacto financeiro e ambiental. Nesse sentido, uma alternativa que desponta no horizonte é a utilização de energias renováveis, como eólica e solar. Mas ele frisa que o investimento ainda é baixo, e é uma dificuldade que o país ainda precisa superar.

“É algo que têm chegado com muita força nas residências, mas isso é algo recente. Não resolve o problema de agora. Tampouco é o suficiente para impedir a utilização das térmicas, que é a alternativa que se usa quando já não há para onde correr. Investir em energias renováveis, aliviaria a pressão sobre as hidrelétricas, e teríamos capacidade de abastecimento por mais tempo.”

ENTENDA A CRISE HIDROLÓGICA

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