A recuperação econômica tem demorado para engrenar no Espírito Santo. Com a indústria em queda e a atividade econômica como um todo crescendo menos do que era esperado, a economia do Estado chegou a um patamar 15,5% abaixo do que estava antes de iniciar a crise, segundo dados do Índice de Atividade Regional (IBCR) do Banco Central compilados pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Considerado uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o indicador do IBCR apontou que o Espírito Santo foi o único Estado a apresentar taxa real anual de crescimento negativa em 2019 entre os 13 Estados pesquisados. A queda foi de 1,3%.
De acordo com Marcel Balassiano, economista do Ibre/FGV, o Estado ainda sofre com perdas na produção industrial - que apresentou o maior recuo do Brasil (15,7%), segundo apontou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
"A recessão acabou em 2016, mas a recuperação tem sido lenta e gradual. Só que o Espírito Santo tem sofrido por problemas na indústria - sobretudo pelo que aconteceu depois de Brumadinho", disse Balassiano.
Segundo ele, o Espírito Santo entrou na crise em novembro de 2014 - último dado positivo antes da recessão que afetou todo o Brasil, ainda que outros Estados tenham sido afetados um pouco antes ou um pouco depois desta data.
Acontece que no triênio 2017, 2018 e 2019 o Espírito Santo apresentou uma taxa real média de crescimento de 0,9%. A queda veio forte e a retomada tem sido devagar. Isso é diferente do registrado, por exemplo, em Santa Catarina, onde a queda também foi forte, mas a recuperação veio rápido, analisou.
Somente a título de comparação, no triênio 17-19, o Estado catarinense cresceu 3%. O Brasil, por sua vez, cresceu 1,1%.
Além dos motivos já citados pelo pesquisador do Ibre/FGV, o conselheiro do Conselho Regional de Economia do Espírito Santo (Corecon) Sebastião Demuner, destacou as questões internacionais como motivos para a desaceleração da economia local.
São vários fatores que levaram a essa retração da economia. A crise internacional é uma delas. O Espírito Santo é muito ligado com o comércio exterior e toda essa guerra comercial envolvendo China e Estados Unidos nos afetou muito, aponta.
Para Demuner, o Estado deve investir na atração de empresas e e investimentos - inclusive vindo do governo federal. A economia funciona como uma roda. Se eu começo a girar, eu consigo dar fluxo em todo o sistema. Estamos esperançosos de que este ano seja melhor, mas é preciso trabalhar bastante para ter sucesso, conclui.
O presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Luiz Paulo Vellozo Lucas, apontou a queda da produção industrial do Espírito Santo como a grande responsável pelos dados negativos do Estado. Ele citou a redução de 35% na produção de celulose e, na área minero-siderúrgica, os acidentes de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais.
"Não tem nenhum fato novo. A produção industrial do Espírito Santo foi a pior dos Estados brasileiros. E na nossa indústria há uma participação muito grande da atividade extrativa mineral e do setor de papel e celulose", disse.
Luiz Paulo avalia, no entanto, que há sinais de recuperação, como o crescimento do emprego e dos setores de comércio e serviços. Para ele, índices como o PIB não refletem toda a realidade do Estado. "Se fosse uma boa métrica, a cidade de Presidente Kennedy seria a melhor do país, pois a receita per capta lá é a mais alta do Brasil. Mas isso não quer dizer bem-estar, qualidade de vida e prosperidade da população", afirmou.
Ele contou que o Estado, em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), está criando uma nova métrica, um "índice de prosperidade" para os municípios e as microrregiões do Espírito Santo.
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