Depois de alguns anos de queda na produção, o Espírito Santo vive um novo momento da exploração de petróleo. A perspectiva é de triplicar a produção em terra, num ciclo que pode gerar mais de 2 mil empregos até 2025.
Desde 2016 a produção teve queda com o pé no freio da Petrobras e venda dos ativos no Norte capixaba, bem como o amadurecimento de alguns campos. O Estado já chegou a produzir 400 mil barris por dia em terra e no mar na década passada e hoje está na casa de 182 mil barris diários.
Segundo estimativas da Rede Petro ES, associação que une empresas fornecedoras de bens e serviços para o setor, investimentos que estão sendo realizados nos campos terrestres vendidos pela Petrobras são os responsáveis por esse aquecimento.
“Tivemos um grande desinvestimento da Petrobras e a Seacrest foi a empresa que comprou boa parte dos ativos. Acompanhamos a produção deles e subiu 60% desde que assumiram, passando de 6,5 mil para 10 mil barris ao dia. Eles querem chegar a 21 mil barris ao dia até 2025, o que representa 300% de incremento na produção. A expectativa é que haja movimentação ainda mais intensa no norte capixaba em 2024 e 2025, com previsão de investimento de R$ 1 bilhão em cada ano”, pontua o presidente da Rede Petro ES, Rafaele Cé.
O aumento da produção também contribui para mobilizar a cadeia de fornecedores e na geração de empregos. Segundo Rafaele, o aumento de 60% na produção foi feito com a mesma quantidade de mão de obra, mas estima-se que, a cada 10 mil barris por dia, seja criado um posto de trabalho, o que representa 2 mil vagas diretas até 2025. O investimento da empresa será de pelo menos R$ 2 bilhões até 2027.
Mas o que fez essa produção aumentar no norte capixaba? Para Rafaele Cé, passa pela eficiência e agilidade no trabalho de empresas de menor porte, ao comparar com a Petrobras.
"Esse incremento foi em ativos que já estavam perfurados e que puderam ter a produção incrementada. Elas conseguem comprar com mais agilidade uma bomba, consertar a tubulação. Mas, para aumentar a produção de 10 mil para 21 mil barris, é necessário investimento mais pesado com a perfuração de novos poços e contratação de sonda, campanha que também é mais ágil nesse tipo de empresa", destaca.
Já Nathan Diirr, gerente de Ambiente de Negócios do Observatório da Indústria da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), considera que o ano de 2023 foi um ponto de virada na produção em terra de petróleo, aumento que é um reflexo do que vem acontecendo desde 2017 quando a ANP começa a criar estímulos para a produção em terra que vinha em declínio, estimulando as ofertas permanentes dos campos. Hoje, esse campos vendidos já representam 32% da produção de petróleo nos cinco primeiros meses de 2023.
"Isso facilitou a entrada de petroleiras de menor porte num momento em que a Petrobras não tinha intenção de continuar na produção onshore, que ainda é reduzida, mas segue aumentando. E também é importante para os municípios onde ficam os campos, pois geram mais emprego e renda. O investimento na produção gera também uma série de demanda para os próximos anos no mercado, como serviços de metalmecânica", afirma.
Além da Seacrest, Rafaele Cé também destaca o trabalho que tem sido feito por outras empresas:
Para Márcio Félix, presidente da ABPIP (Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Petróleo e Gás), 2023 pode ser considerado o início de uma grande retomada na produção de petróleo e gás no Espírito Santo, movimento que começou há alguns anos e foi se fortalecendo.
"A indústria brasileira vai ganhar um novo dinamismo que se reflete no Espírito Santo, que tem muitos fornecedores que atuam nacionalmente. Isso gera emprego no Espírito Santo e leva o produto para outras regiões, pois é uma indústria de rede", sustenta.
Félix destaca ainda outras mudanças do mercado de óleo, com a transição energética, que podem resultar em oportunidade para o Estado, como a produção de óleos mais pesados, retirados de terra.
"O óleo pesado era um patinho feio e hoje é um cisne. Concessões rodoviárias têm demandado mais por asfalto, isso valoriza outros tipos de óleo de base para asfalto, bem como óleos-base para combustível marítimo com baixo teor de enxofre, demanda da transição energética. O Espírito Santo ganhou importância porque tem óleos de nicho que passaram a ser valorizados; pagam mais por esse óleos pesados de terra e o Estado tem essa característica. Isso vai motivando e cria um círculo virtuoso de uma nova fase de desenvolvimento da indústria", frisa Félix.
Atualmente, o Estado possui a quinta maior reserva de petróleo e a oitava maior de gás natural onshore (em terra) do país. A extração no solo capixaba está concentrada em quatro municípios do norte: Conceição da Barra, São Mateus, Jaguaré e Linhares. E hoje esses campos estão sendo operados por produtores independentes ou 'junior oils'.
Os dados são do Anuário de Petróleo e Gás Natural do ES, produzido pelo Observatório da Indústria da Findes, com o apoio do Fórum Capixaba de Petróleo, Gás e Energia.
No início de 2015, com a implementação do seu Plano de Desinvestimento, a Petrobras negociou mais de 38 ativos onshore no Espírito Santo. Todos foram vendidos. Eles representam aproximadamente 120 poços em 18 campos de produção.
Segundo o anuário, a maior parte das transferências de campos de exploração de óleo e gás natural para operadores privados ocorreu entre o final de 2019 e meados deste ano. No Espírito Santo, quase 530 empresas fazem parte da cadeia produtiva do setor, que gera 12 mil empregos formais. Além disso, parte dos resultados positivos que a indústria extrativa capixaba vem tendo ao longo de 2023 deve-se a esses aumentos de produção dos campos terrestres.
Se a previsão é triplicar a produção em terra, no norte capixaba, a instalação da FPSO Maria Quitéria, um novo navio-plataforma no Parque das Baleias, promete incrementar significativamente a produção offshore no Estado, com previsão de 100 mil barris de óleo por dia a partir de 2025, ano para o qual está marcado o início das operações. Hoje, a produção total do Estado é de 182 mil barris por dia.
Em 2023, a produção no mar também cresceu e contribuiu para o aumento da produção industrial. Isso foi motivado, segundo Nathan Diirr, pelo retorno do navio-plataforma Cidade de Anchieta da Petrobras, que fica no Campo de Jubarte, no sul do Estado e tinha feito uma parada programada em 2022.
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