Após anos com a produção de petróleo e gás em campos terrestres em acentuado declínio, o Espírito Santo se prepara para viver uma revolução no setor que deve quintuplicar a produção onshore capixaba. Os motivos são muitos, como a venda, pela Petrobras, de campos em que ela não investia mais por falta de interesse e a realização de novos leilões.
Com essas iniciativas, a extração de petróleo em terra no Estado, que já chegou aos 25 mil barris por dia e hoje está no patamar de 9 mil barris, deve saltar para cerca de 50 mil em 10 anos. Isso porque são esperados R$ 300 milhões em investimentos privados por ano no segmento, até 2030, para elevar a produção, totalizando R$ 3 bilhões em 10 anos.
A estimativa é do Fórum Capixaba de Petróleo e Gás, coordenado pelo Sistema Findes, levando em consideração estimativas das próprias operadoras e com base em um estudo do Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (Reate), do Ministério de Minas e Energia.
A produtividade de um campo em terra é muito inferior aos poços no mar. Em agosto, por exemplo, enquanto o Espírito Santo produziu 9,7 mil barris/dia em terra, foram extraídos 103 mil barris/dia de campos marítimos no pós-sal e 123 mil no pré-sal. Ou seja, o onshore correspondeu a apenas 4,1% da produção capixaba. Ainda assim, segundo o Fórum da Findes, esse é um segmento importante por gerar mais empregos e oportunidades de negócios para pequenas empresas.
A expectativa é que esses investimentos criem cerca de 2 mil empregos por ano, entre os diretos e os indiretos, em outros elos da cadeia de petróleo e gás, como empresas de suporte operacional, metalmecânica, logística e de estudos ambientais. As vagas deverão ser criadas na Região Norte do Estado, onde há campos de petróleo e gás em terra.
Hoje, o Espírito Santo conta com seis empresas que produzem petróleo em terra: Petrobras, Imetame, Vipetro, Ubuntu, Petromais e Central Resources. Há ainda outras áreas em fase exploratória na região da Bacia Sedimentar do Espírito Santo, que compreende da Grande Vitória até a Bahia.
Acontece que a Petrobras, dentro do seu processo de revisão do portfólio de produção, está deixando esses campos terrestres no Estado e vendendo para a iniciativa privada. No passado, a empresa vendeu três campos do Polo Lagoa Parda, na região de Linhares, para a capixaba Imetame Energia. Em agosto, o consórcio Karavan SPE Cricaré S.A. anunciou a compra de 27 campos terrestres do Polo Cricaré, que ficam em São Mateus, Jaguaré, Linhares e Conceição da Barra.
No caso da Karavan, segundo o Fórum da Findes, os campos adquiridos produziram, em média, 1,7 mil barris por dia de óleo. Já de acordo com as estimativas da própria empresa, a produção pode chegar a 8 mil barris por dia em breve após a realização de investimentos para ampliar a produção, como a realização de novas perfurações e a injeção de vapor nos poços.
Principal região produtora em terras capixabas, o Polo Norte Capixaba, entre São Mateus, Linhares e Jaguaré, também foi colocado à venda pela Petrobras no mês passado. O polo inclui os maiores campos onshore no Estado, o de Fazenda Alegre e o de Cancã. Fazenda Alegre, por exemplo, já produziu 18 mil barris por dia no início da década passada e hoje produz 4,5 mil barris/dia, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
Além das jazidas, o pacote inclui gasodutos e óleodutos, a Estação de Tratamento de Fazenda Alegre, que recebe todo o óleo produzido na região, e o Terminal Aquaviário Norte Capixaba, localizado no litoral de São Mateus, e operado pela Transpetro. É por lá que o petróleo produzido no Estado é escoado. Ou seja, quem comprar o ativo terá toda a cadeia em mãos: campos produtores - estação de tratamento - dutos - porto.
"A Petrobras não quer mais focar em projetos com retorno baixo, como é o caso do onshore. Isso deixou de ser interessante para ela diante do pré-sal e até positivo para o Estado, porque a empresa já não vinha investindo e fazendo o que devia nesses campos", disse o especialista em Exploração e Produção de Petróleo e Gás Fernando Taboada.
O especialista explicou que, quando os novos operadores chegarem, eles farão do crescimento da produção o "grande projeto de suas vidas". "O próximo comprador certamente vai investir e produzir mais. Nos locais onde a Petrobras já vendeu e transferiu a operação para a iniciativa privada, em cerca de quatro meses já é possível ver um crescimento da produção muito significativo."
Como mostrou A Gazeta, a Petrobras está focando cada vez mais no pré-sal e, por isso, reduzirá expressivamente seu tamanho no Estado, a começar pela saída dos campos terrestres, mas também por campos em águas rasas e áreas produtoras de gás. No Espírito Santo, a empresa só pretende continuar tendo atividades de produção nos campos do Parque das Baleias, que ficam no Litoral Sul capixaba, já na Bacia de Campos, e têm poços no pré-sal.
Outra expectativa positiva é que novas operadoras cheguem ao Estado por meio da oferta permanente da ANP, que conta com campos marginais em terras capixabas. O segundo ciclo de vendas pela modalidade acontecerá no dia 3 de dezembro e já conta com 57 empresas inscritas, inclusive gigantes mundiais do setor de petróleo.
A oferta permanente consiste na oferta contínua de blocos exploratórios e áreas com acumulações marginais localizados em quaisquer bacias terrestres ou marítimas, de acordo com a agência, com exceção dos blocos localizados no polígono do pré-sal, nas áreas estratégicas ou além das 200 milhas náuticas da costa, assim como os blocos já autorizados a integrar os últimos leilões tradicionais previstos para acontecerem, da 17ª e 18ª rodada de licitações, que contam com áreas no Espírito Santo.
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