"Ixi! A internet caiu de novo". No celular, as mensagens não chegam e o vídeo trava. Já em casa, a luz vermelha, ou em alguns casos laranja, do modem indica que a conexão foi perdida.
A qualidade da internet 4G e também da banda larga está acumulando queixas dos usuários e não é de hoje. Parece até piada, enquanto na Terra as queixas só aumentam, quem quiser, tentar, uma navegação de mais qualidade, pode se alistar para uma nova expedição à Lua.
Lá a Nokia, em parceria com a Nasa, vai instalar o serviço de quarta geração. Talvez, quem enfrenta problemas para usar a web no planeta terrestre pode ter uma chance de não sofrer com o serviço ruim e ainda visitar a deusa lunar chinesa revelada no filme Caminho da Lua, da Netflix.
Nos últimos dias, os problemas de internet, telefonia móvel e até fixa se tornaram ainda mais evidente com caladões que têm ocorrido. Na última quinta-feira (17), cerca de 3 milhões de usuários da Vivo ficaram sem rede por conta de um problema de infraestrutura, com rompimento de cabos ópticos. Em novembro, usuários de Claro e Vivo relatam dificuldades para fazer ligações e acessar a internet na Grande Vitória.
Com o home office e as medidas de isolamento social no ano da crise da Covid-19, o consumo de internet cresceu exponencialmente e muita gente tem dependido tanto do 4G quanto do serviço fixo para trabalhar. Mas desde quando os primeiros casos da doença foram relatados pelo país, muita coisa mudou. Inclusive o preço da navegação.
O pacote de internet ficou 12,18% mais caro no ano, na Grande Vitória, conforme mostra o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A inflação para esse produto no território capixaba está bem acima da nacional, que acumula alta de 8,51% no mesmo período.
Com mais gente em casa, trabalhando em home office, ou mesmo afastada da escola ou do emprego usando os serviços de streaming, a sensação que o consumidor tem é que a internet piorou significativamente ao mesmo tempo em que é preciso desembolsar mais pelo serviço.
Esse conjunto de fatores fez a demanda por conexões em redes fixas e móveis saltar em quase 50% em muitos locais do país, o que provocou instabilidade e sobrecarga da estrutura utilizada pelas operadoras.
O advogado tributarista Leonardo Duarte Bertuloso, 38 anos, mora e trabalha em Bento Ferreira, em Vitória. Ele conta que tanto a banda larga que tem em casa quanto a que tem no trabalho vivem dando problema.
Leonardo comenta ainda que não é incomum a banda larga dar problema. Em alguns dias, é quase impossível usar a internet porque o sinal está muito fraco, o que prejudica o seu trabalho, já que precisa de internet para baixar e subir processos nos sites da Justiça. O advogado chegou a contratar um link dedicado de internet para não ter mais problemas, porém , com a pandemia teve que reduzir despesas e voltou para um prestadora de serviço tradicional.
"Agora estou pensando em contratar um pacote de dados maior para se, porventura, a internet falhar eu rotear os dados para o computador. A todo o momento eu preciso me resguardar para algo que não deveria dar problema ou quase nenhum", desabafa.
O especialista em tecnologia e comentarista da rádio CBN Vitória, Gilberto Sudré, lembra que com as operadoras não estavam preparadas para suprir a demanda.
"Muitas operadoras não tinham como aumentar a infraestrutura ou passaram por problemas técnicos tentando melhorar a existente. Mesmo com o esforço delas para ampliar a rede e melhorar o serviço, estamos usando cada vez a internet. O uso intensivo de videoconferências, lives e aplicativos de comunicação acaba superando a capacidade atual da infraestrutura delas", aponta.
O mestre em redes de computadores e professor de sistema de informação da UCL, João Paulo Chamon, lembra que o caso da internet fixa é ainda pior do que o da móvel. Diferente da conexão móvel, na banda larga as operadoras sabem onde o cliente está e qual a capacidade dele. Dessa forma ela consegue identificar as necessidades de cada região e projetar uma infraestrutura que atenda aquele público.
"Na internet móvel, existe uma característica inerente da tecnologia que impossibilita o atendimento total do usuário. Quando você assina o plano de celular você pode estar consumido em qualquer lugar. Acaba que a operadora tem que ter uma sobre taxa de instalação, ou seja instalar uma capacidade maior do que a população de um determinado local precisa, porque também tem que levar em consideração o deslocamento de outras pessoas para lá", aponta.
No caso do Espírito Santo, por exemplo, de acordo com dados da Anatel, todos os municípios capixabas têm cobertura 4G, porém isso não significa que a conexão seja de qualidade ou que tenha sinal em todo o município. (Veja mapa com a operadoras que têm cobertura 4G em cada cidade do Estado)
A mudança no perfil de consumo trouxe problemas para as operadoras, que não estavam preparadas, e, principalmente, para o usuário que contava com uma velocidade de internet, mas recebe outra muito inferior.
De forma geral, a Anatel estabelece dois parâmetros sobre a qualidade da internet que precisa chegar ao consumidor. A primeira é a média do mês. A segunda é a taxa de transmissão instantânea (medida a cada acesso do usuário).
Na média mensal, as empresas precisam fornecer uma velocidade relativa de 80% do pacote contratado. A Anatel disponibiliza um site que permite aferir a velocidade da internet por meio da Entidade Aferidora da Qualidade de Banda Larga (EAQ) - clique aqui para acessar.
Mas a transmissão instantânea tem outra regra. Ela permite que as operadores entreguem no mínimo 95% em até 40% das medições.
Dados da Anatel mostram que neste ano moradores do Espírito Santo fizeram 3.173 reclamações sobre conexão de internet entre janeiro e novembro no órgão, um avanço de 40% em relação ao mesmo período do ano passado que registrou 2.262 queixas.
Em dezembro de 2019, foi aprovado um regulamento que deve entrar em vigor em 2021. De acordo com ele, a Anatel vai monitorar a entrega da velocidade contratada e a taxa média de velocidade entregue nos municípios brasileiros.
A regra ainda extinguirá a meta mínima de 80% da velocidade contratada. As prestadoras passarão a ser avaliadas de acordo com o cumprimento de suas ofertas e classificadas em selos de qualidade A, B, C, D ou E.
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