O que é possível comprar hoje em dia com um real? No Dia Mundial do Pão, comemorado em 16 de outubro, é possível usar esse alimento tradicional dos cafés da manhã no dia a dia para entender a desvalorização da moeda brasileira ao longo dos últimos anos. Em 1994, quando o real passou a ser utilizado oficialmente no país, esse valor era suficiente para comprar, por exemplo, 11 unidades de pão francês, que naquela época custava, em média, 9 centavos.
Hoje, 28 anos depois, uma única unidade do pãozinho custa, em média, R$ 0,85. Assim, para encher aquela mesma sacola com 11 pães de aproximadamente 50 gramas cada um, seria preciso desembolsar R$ 9,35.
Conforme observa o economista Ricardo Paixão, ainda que a adoção do Plano Real, em 1994, tenha contribuído para uma melhora significativa no cenário fiscal, a tendência dos preços, de modo geral, é subir ao longo do tempo.
“Isso recai também sobre o pãozinho do dia a dia. Hoje, por exemplo, temos ainda uma inflação de custos. A maior parte do trigo utilizado no país é importado e isso acaba encarecendo o produto final.”
De fato, o Brasil produz menos da metade do trigo consumido e precisa importar grandes quantidades do grão de outros países, inclusive da Argentina, de onde vêm 85% das importações brasileiras do produto, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo).
Por se tratar de uma commodity, o produto é dolarizado, e a força do moeda norte-americana tem um efeito direto e inevitável sobre os preços. A oscilação na oferta global do cereal também contribui para o aumento dos custos de produção, impactando não apenas no preço dos pães, como de outras massas.
“Neste ano, especificamente, com a guerra entre Rússia e Ucrânia, tivemos um efeito negativo na oferta de trigo no mundo e os importadores adquiriram esse trigo mais caro. E não tem jeito, o aumento de custos acaba sendo repassado ao consumidor”, disse o economista.
Juntos, Rússia e Ucrânia respondem, em média, por 30% de todo o trigo comercializado no mundo. Com a guerra, o preço médio do quilo do pão francês, que tem a farinha como principal matéria-prima, disparou, conforme já havia sido mostrado por A Gazeta no mês de março.
É quanto em média subiu o preço do pão francês em 28 anos
É a inflação oficial em 28 anos
Em termos percentuais, uma unidade de pão, nos dias atuais, está mais barata do que era há 28 anos, equivalendo a cerca de 0,07% do salário mínimo (R$ 1.212), enquanto que, em julho de 1994, representava 0,13% de um salário mínimo (R$ 64,79). Por outro lado, o produto subiu acima da inflação nesse período, alcançando 844% de alta, enquanto o IPCA avançou 643% desde o início do Plano Real.
Nesse contexto, o pãozinho tem competido com outros itens de primeira necessidade que encareceram em igual ou maior escala ao longo dos anos.
“O conjunto de fatores internos e externos faz com que o preço se torne mais caro. Some isso ao desemprego, ao orçamento das famílias cada vez mais apertado, e isso faz com que cada vez mais as pessoas tenham dificuldade de adquirir, principalmente aquelas classes que recebem um, dois salários mínimos, que passam a comprar cada vez menos unidades ou limitam o consumo do pão aos finais de semana”, afirma Paixão.
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