Quem foi ao supermercado na última semana provavelmente se espantou ao olhar para o preço de alguns produtos. Nas gôndolas, o queijo minas padrão, por exemplo, dependendo da marca, chega a custar R$ 59,89 o quilo. Ele está mais caro até que o filé mignon bovino, que pode ser comprado a R$ 39,98 o quilo, na embalagem a vácuo, no mesmo supermercado. Já na bandeja sai a R$ 58,90. O aumento da procura e a entressafra são alguns dos motivos que fizeram os preços dispararem.
De acordo com a pesquisa de preços feita pela reportagem de A Gazeta, neste domingo (6), nos sites de supermercados da Grande Vitória, no Espírito Santo, o queijo tipo minas não é o único que está com o preço lá nas alturas.
O queijo muçarela, que era comercializado há R$ 25 o quilo no início do ano, agora chega a ser vendido a R$ 46,50 o quilo. Outro da lista que disparou de preço foi o leite de vaca integral, sendo que as marcas mais populares chegam a custar R$ 4,99.
Passando agora para alista de produtos que compõem o prato do dia a dia do brasileiro, o arroz e feijão também subiram de preço. Já é possível encontrar o pacote de 5 kg de arroz tipo 1 sendo comercializado a R$ 27,90. Já o quilo de feijão preto continua com o preço lá em cima, custando até R$ 8,99.
Na Centrais de Abastecimento do Espírito Santo (Ceasa) da Grande Vitória, em Cariacica, por exemplo, o preço máximo de comercialização do feijão preto era de R$ 5,22, na última quinta-feira (3). Já nos supermercados é praticamente impossível encontrar o quilo por menos de R$ 8.
De acordo com produtores, enquanto os mercados permanecem com os grãos da safra passada com um valor mais elevado, na Ceasa já chegou a nova safra com um preço mais baixo. "Os supermercados estão segurando o preço mais elevado já há meses. Daqui a alguns meses, vai ter excesso de produto no mercado e o preço vai despencar", conta um agricultor.
De acordo com o superintendente técnico da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Bruno Lucchi, em entrevista ao portal CNA, no caso do arroz, por exemplo, a demanda se apresentou elevada durante os meses de março e abril em função da pandemia. Porém, historicamente, esses deveriam ser os piores meses de preço em função da safra.
Com relação ao preço dos laticínios, o presidente da Federação da Agricultura do Espírito Santo (Faes), Júlio Rocha, explica que, entre os meses de maio e setembro, o gado está na entressafra. Isso significa que a produção reduziu nesse período.
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), em média, no mês de agosto, o produtor capixaba estava recebendo R$ 1,74 pelo litro de leite. O valor é R$ 0,48 maior do que o pago no mesmo período de 2019 (R$ 1,26). Porém para o consumidor a impressão é que a diferença é bem maior, já que o litro do produto passou de menos de R$ 3 para quase R$ 5.
O superintendente técnico da CNA, Bruno Lucchi, explica os preços irão se adequar assim que os efeitos sazonais de produção passarem, bem como a regularização de oferta, via novos estímulos à produção.
"Na pecuária bovina, por exemplo, a oferta de animais para abate provavelmente aumentará a partir do último trimestre do ano em função da melhoria do maior processo de intensificação e devido à melhoria das condições das pastagens", explica.
Já a produção de laticínios, que foi uma das mais afetadas pela pandemia, deve ter a produção acelerada em setembro em algumas regiões também em função do início das chuvas e melhor remuneração do produto. "Tudo isso pode sinalizar redução dos preços aos consumidores, pois teremos aumento na oferta desses produtos", afirma Bruno.
Conforme a reportagem de A Gazeta publicada neste sábado (6) mostrou, os donos de supermercados culpam a indústria pela alta dos preços. De acordo com eles, os produtos já estão chegando aos estabelecimentos com valores elevados e, muitas vezes, em menor quantidade do que a encomendada.
O presidente da Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), João Falqueto, explicou que, aliado a esses pontos, existe o fato de que, até pouco tempo atrás, os produtores de determinadas culturas, como o arroz, estavam desestimulados com o valor da mercadoria no país e, por isso, produziram menos do que poderiam. E, do pouco que produziram, a maioria tem sido exportada.
As commodities nunca estiveram tão favoráveis ao produtor, principalmente o arroz, que, nos últimos anos, estava apresentando queda na produção porque os agricultores estavam indo mais para a soja, que pagava melhor. Com a pandemia, a soja, que já vinha ganhando em volume, passou a ser ainda mais demandada pelo mercado exterior e, pela alta do dólar, os produtores têm preferido exportar, explicou Falqueto.
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras) chegou a comunicar à Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça, sobre reajustes generalizados praticados pela indústria e disse que o setor tem sofrido forte pressão por aumentos de preços de itens da cesta básica. O órgão alertou ainda para o risco de desequilíbrio entre a oferta e a demanda num momento de crise sanitária.
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