Suspeito de estar ligado a milícias no Rio de Janeiro, o suposto líder do esquema criminoso que adulterava combustíveis no Espírito Santo é conhecido como "Barão do Petróleo" e "Maninho dos Postos", apontam investigações das polícias Federal e Rodoviária Federal, que resultaram na Operação Naftalina, deflagrada nesta terça-feira (12).
Segundo as autoridades, Denílson Silva Pessanha comandava da prisão as operações de venda de gasolina batizada com nafta, um subproduto do petróleo. De acordo com a investigação, ele utilizava laranjas para se passarem por donos de postos que, na verdade, seriam de propriedade do suspeito.
Ex-vereador do município de Duque de Caxias (RJ), o Barão do Petróleo foi preso em 2020 em Vila Velha, conforme noticiou A Gazeta na época, devido à suposta participação em um outro crime, de roubo de combustível.
Nesta terça, além de um novo mandado de prisão contra Denílson, a Justiça mandou prender o filho Gabriel Rodrigo Pessanha, capturado no Rio de Janeiro, conforme noticiou o Jornal Hoje, da TV Globo. Ao todo, foram cumpridos 14 mandados de prisão nesta terça (14). Os nomes dos outros envolvidos não foram divulgados.
Com autorização da Justiça, a Polícia Federal chegou a gravar ligações telefônicas, inclusive uma conversa em que é combinada a atuação de uma pessoa como laranja do esquema.
A reportagem de A Gazeta não conseguiu localizar as defesas de Denílson e Gabriel Pessanha.
Antes de ser preso em 2020, Denílson, que vivia na Praia da Costa, em Vila Velha, levava uma vida de luxo, segundo a polícia. Na época, a investigação apontou que ele tinha assumido uma nova identidade, com novo nome e família, e estava vivendo como empresário bem-sucedido e dono de vários postos de gasolina.
Na ocasião, o delegado Felipe Curi, diretor do Departamento de Polícia Especializada (DGPE) do Rio de Janeiro, chegou a informar que o suspeito não tinha carro e circulava usando veículos de aplicativos para não chamar atenção.
"Morava em um apartamento simples, mas tinha uma vida de luxo. No Espírito Santo, possuía seis postos de gasolina em várias cidades, tudo em nome de terceiros", disse em 2020. Todo o patrimônio teria sido conquistado com o furto de combustível diretamente dos oleodutos da Petrobras.
Embora o "Barão do Petróleo" ainda cumpra pena pelos crimes em um presídio do Rio de Janeiro, a organização criminosa, supostamente chefiada por ele, voltou a atuar no Espírito Santo, agora com a adulteração de combustíveis, conforme explicou o superintendente da Polícia Federal no Estado, Eugênio Ricas.
“Ele (suposto miliciano) já estava preso, estava em um presídio do Rio de Janeiro, e hoje nós demos cumprimento a um novo mandado de prisão. Ou seja, se por acaso recebe um alvará de soltura em razão do seu processo anterior, ainda vai ter mais um mandado de prisão expedido contra ele, de modo que isso talvez garanta a ele mais algum tempo na prisão.”
Ricas explicou ainda que diversas pessoas estavam envolvidas no esquema, chefiado de dentro da cadeia pelo suposto miliciano.
“Junto com ele tinha outras pessoas, inclusive familiares, que cuidavam dessa organização criminosa. Uma parte dessa organização criminosa era composta por laranjas, pessoas que sabiam que o nome delas era utilizado para fazer a gestão dos postos de gasolina. Uma parte da organização criminosa trabalhava na operacionalização do transporte de combustível, na mistura do solvente com o álcool, então, toda a estrutura da organização criminosa ficou muito bem identificada, de forma a ser possível estabelecer o que cada parte da organização criminosa tinha como sua missão.”
Mais de R$ 38 milhões foram movimentados pelo esquema, que teve lucro de mais de R$ 6 milhões nos últimos anos, segundo as investigações. Parte desse dinheiro seria utilizado para financiar outras atividades ilegais, inclusive a atuação da milícia, conforme apontou Eugênio Ricas.
Os produtos utilizados para produzir combustíveis irregulares, nafta e álcool hidratado – que eram ainda misturados a corante para dar a cor da gasolina – vinham de uma empresa que produzia o material na Bahia e revendia com outras finalidades. Caminhões, que também pertenceriam a laranjas, transportavam essa carga, que vinha com nota fiscal falsa.
"Se trata de um produto adulterado, que certamente vai danificar os carros, vai prejudicar a economia popular, e atinge indiscriminadamente todas as pessoas. E, o que é mais grave: ao que tudo indica, os lucro dessa organização criminosa, que movimentou cerca de R$ 38 milhões, poderia inclusive ser utilizado para abastecer a atividade de milícia no Rio de Janeiro e talvez até aqui no Espírito Santo", observou Ricas.
Os criminosos envolvidos no esquema podem responder pelos crimes de organização criminosa, receptações qualificadas, adulterações de combustíveis e revendas em desacordo com a Agência Nacional do Petróleo (ANP), crimes contra o consumidor, crime ambiental, crimes de falso e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas podem chegar a mais de 41 anos de condenação.
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