Como parte uma nova política de batismo de plataformas afretadas, a Petrobras deu o nome de Maria Quitéria à FPSO (sigla em inglês para unidade flutuante de produção, armazenamento e transferência de óleo), do projeto Integrado Parque das Baleias, no Litoral Sul do Espírito Santo, que deve entrar em operação até 2024.
Maria Quitéria foi a primeira mulher a fazer parte do Exército Brasileiro, tendo fingido ser homem para poder entrar nas Forças Armadas. A história dá conta de que, por volta de 1822, a baiana, então com 19 anos, utilizou o nome do cunhado para se alistar, assim como fizeram outras mulheres naquela época. Embora eventualmente tenha sido desmascarada, seu valor à tropa era tanto que lhe deixaram ficar.
“Ela atuou na Bahia combatendo os portugueses que se recusavam a aceitar a independência. Durante a luta, foi reconhecida pela bravura, e mesmo depois de descoberto que era uma mulher, foi homenageada, inclusive pelo próprio Dom Pedro I, chegando a ser nomeada cavaleira da Ordem Imperial do Brasil”, pontuou a pesquisadora e professora do departamento de História da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ana Rita Fonteles Duarte.
Ainda hoje, seu nome é celebrado nos quarteis e repartições vinculados às Forças Armadas brasileiras. Desde meados da década de 1990 é considerada uma das patronas do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro e, em 2018, teve seu nome incluído, por lei, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.
O nome da patriota inspirou diversos movimentos, conforme observa Ana Rita. “Durante os anos da ditadura, o nome dela foi utilizado para intitular um jornal do movimento feminino pela anistia. Era um boletim informativo e foi justamente escolhido o nome da Maria Quitéria como uma forma de proteção diante da repressão. Como eles poderiam cassar o jornal, interditar, empastelar, quanto tinha o nome da patrona do Exército? Era também uma apropriação do que seria o patriotismo e a bravura de Maria Quitéria”, destacou a pesquisadora.
Em nota, a Petrobras informou que “tem homenageado heróis brasileiros no nome de plataformas, a exemplo dos FPSOs Ana Neri, Anita Garibaldi, Almirante Barroso e Almirante Tamandaré. Maria Quitéria é outro nome importante na história do Brasil e uma das heroínas da Independência da Bahia”.
As homenagens da petroleira a ex-combatentes são recentes. Antes do governo Jair Bolsonaro, as plataformas alugadas recebiam, principalmente, nomes de cidades do litoral brasileiro, especialmente as que ficam em frente aos campos produtores, como é o caso da Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, que explodiu em 2015. Já as plataformas próprias da companhia tendem, ainda hoje, a seguir um padrão numérico, precedido pela letra P, de Petrobras.
Essa mudança no padrão de batismo das plataformas afretadas teve início no mandato de Roberto Castello Branco, que deixou o comando da Petrobras no início do ano passado, em meio às discussões sobre altas nos preços dos combustíveis. Além das novas plataformas, ativos batizados durante os governos petistas passaram a ser renomeados.
A estratégia de alterar nomes de ativos em razão de preferências políticas dos governantes, entretanto, não é novidade. Ao assumir o governo, em 2003, o PT aprovou o rebatismo de um conjunto de usinas térmicas em homenagem a personalidades mais alinhadas à esquerda.
O FPSO Maria Quitéria é o mais importante projeto da Petrobras previsto para o Espírito Santo. Ele está nos planos da companhia estatal desde 2014, quando foi iniciada a atividade da plataforma P-58, atualmente a principal produtora do Estado.
O investimento na nova plataforma, que faz parte do cronograma prioritário da estatal, é estimado em cerca de R$ 5,6 bilhões. Ela vai extrair óleo e gás da camada pré-sal no campo de Jubarte, na região petrolífera denominada Parque das Baleias, Litoral Sul do Estado.
Com o amadurecimento dos poços de petróleo no Estado, que vem resultando em queda na produção ao longo dos anos, o novo FPSO chega em boa hora. O empreendimento, quando estiver operando, deve produzir 100 mil barris de óleo e 5 milhões de metros cúbicos de gás por dia.
O projeto, que deve movimentar toda a cadeia de petróleo e gás, gerando oportunidades de negócios e empregos, prevê a interligação de 17 poços ao FPSO, sendo nove produtores de óleo, oito injetores de água, por meio de infraestrutura submarina composta por dutos flexíveis, umbilicais eletro-hidráulicos e as chamadas árvores de natal molhadas.
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