Para garantir uma seleção neutra dentro das empresas, entra em campo o recrutamento às cegas, ou seja, o entrevistador não tem informações prévias de um candidato como cor da pele, gênero, idade, endereço ou nome da faculdade. Todos esses entendimentos permanecem ocultos durante a primeira etapa da seleção.
A iniciativa tem como objetivo ampliar a diversidade e reduzir o preconceito dentro das organizações, possibilitando oportunidades iguais para todos os candidatos. Em um primeiro momento, é utilizada a inteligência artificial para filtrar os candidatos, garantindo uma seleção sem os vieses que, muitas vezes, são criados no primeiro contato entre recrutador e candidato.
O modelo passa a ser adotado também para selecionar estagiários. O modelo está virando moda entre as empresas e já está sendo usada no Brasil e também por algumas companhias no Espírito Santo.
A tecnologia virou um grande aliado nesse tipo de contratação. De acordo com a psicóloga e sócia-fundadora da Selecta, Vânia Goulart, são utilizadas ferramentas que emitem pareceres sobre a vida profissional do candidato, o perfil nas redes sociais, entre outros quesitos. Segundo ela, é possível ter um combinado de informações que permite uma maior assertividade na admissão de um colaborador.
Na opinião da psicóloga e diretora da Psico Store, Martha Zouain, o recrutamento às cegas foca nas competências técnicas e comportamentais dos candidatos que se candidatam a uma vaga.
No momento em que o mercado faz um grande apelo à diversidade, empresas respondem com ferramentas que minimizam qualquer tipo de discriminação. Eliminando informações pessoais, conseguimos assegurar a imparcialidade e foco no que realmente importa, mas, se nas etapas subsequentes o cuidado não se mantiver, corremos risco de interferências que podem comprometer o foco desejado, afirma.
Martha avalia que, por esta razão, algumas empresas conduzem às cegas até a entrevista final. Ela comenta que tarefas são demandadas aos participantes, que adotam codinomes e encaminham análises, projetos, estratégias, sem que a identidade seja revelada.
O volume de empresas aderindo é cada vez maior. Inclusive, algumas, já desenvolveram
plataformas para que o processo seja íntegro e rápido. O grande ganho vem na qualidade das contratações e na imagem que passam para o mercado de empresa séria e que respeita a diversidade.
Para a especialista em carreiras Gisélia Freitas, o processo só dará certo se houver valores muito bem estruturados. O profissional que faz o currículo de qualquer jeito, para tirar as dúvidas durante a entrevista, está fora desse processo, perdendo a oportunidade. Um outro ponto é a eliminação de indicações de pessoas conhecidas. Pessoas sem qualificação são eliminadas. Ela destaca ainda que a diversidade dentro das organizações amplia a criatividade e a produtividade.
O método utiliza a tecnologia para valorizar os atributos profissionais de forma imparcial, acrescenta a coordenadora do curso de gestão de recursos humanos da UVV, Marinete Francischetto.
Para ter chances de competição, o candidato precisa trabalhar o currículo de acordo com suas competências. Cor da pele, sexualidade ou tatuagem interferem na competência? Claro que não! A diversidade só tem pontos positivos, pois se torna um ótimo local para trabalhar, além de reduzir custos, pois o foco fica no que realmente interessa, que é a valorização do profissional.
O processo de recrutamento às cegas foi implantado este ano pelo LiftBank, banco digital capixaba voltado para o empreendedor. Na fintech, o gerente de operações, cultura e pessoas da empresa, Fabrizio Gutierrez, adotou a ferramenta, ou seja, o encontro com o candidato é feito sem a análise prévia do currículo.
Em um primeiro momento, ele só vê o nome e o telefone, se preocupando apenas se a pessoa realizou trabalho voluntário ou se tem alguma vivência internacional. O documento fala muito, mas demonstra pouco sobre a pessoa. Onde ela estudou ou trabalhou anteriormente não me interessam. O problema é julgar antes de conhecer. Também não contrato por gênero ou por idade. Prefiro ouvir do candidato sobre questões como trabalho voluntário, vivência internacional, coisas que tenham a perspectiva dela. A ideia é que o candidato me conte sobre a vida profissional dele e não o que já está no currículo, ressalta.
Segundo ele, a ideia é fazer com que o candidato saia da zona de conforto, evitando com que ele chegue para a entrevista com respostas prontas. Para o executivo, o mais importante é que o candidato seja como ele realmente é.
Esse processo causa estranheza entre os candidatos, mas possibilita uma diversidade enorme dentro da organização. O que mais interessa para nós é a capacidade técnica do profissional, abrindo oportunidades iguais para todos. Temos até estudantes de Direito que trabalham como programadores, por exemplo. A experiência tem sido bastante positiva. É claro que o processo é mais demorado, mas os resultados são bem mais assertivos, avalia Gutierrez.
Processo de seleção em que o recrutador não tem conhecimento sobre detalhes do candidato como cor da pele, gênero, idade, endereço, faculdade onde estudou, entre outros pontos. O modelo é bastante utilizado na Europa e nos EUA. No Brasil, a prática começa a ser utilizada aos poucos, até mesmo para contratar estagiários
Um software, por meio de algoritmo, consegue fazer um filtro omitindo os dados pessoais do profissional. O sistema leva em conta apenas as habilidades e competências do candidato à vaga. O contato pessoal é feito apenas na segunda fase do processo seletivo, como a entrevista
a ideia é evitar que preconceitos e vieses inconscientes dos recrutadores interfiram no processo de seleção como eliminar mulheres em idade fértil ou candidatos mais velhos A seleção tem como característica uma maior valorização do comportamento humano nas organizações
O recrutamento às cegas não impede de a empresa realizar entrevistas presenciais, nas fases finais da seleção
A desigualdade no Brasil é diretamente refletida no mercado de trabalho. Só para se ter uma ideia, apenas 13,6% dos cargos executivos das empresas são ocupados por mulheres A remuneração das trabalhadoras é 19% inferior a dos homens, com a mesma escolaridade entre eles. O mercado também é desigual para negros, onde quase não chegam a cargos elevados dentro das organizações
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